sábado, agosto 09, 2008

POR QUE LULA DESISTIU DO 3º MANDATO?

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Waldo Luís Viana

Luiz Inácio disputou três eleições presidenciais como empregado do PT. Morou de favor, por dez anos, graças aos préstimos de um compadre e teve empréstimos pagos graças a outro amigo, hoje albergado em cargo de confiança no próprio governo.

Hoje, Da Silva, após seis anos de mandato, evoluiu muito financeiramente e não é nem será mais empregado de ninguém. O próprio filho percorreu caminho semelhante, de biólogo de zoológico chegou a fazendeiro de primeira linha. É deveras um "fenômeno", bem maior que o Ronaldinho. E tem "saúde de vaca premiada" - como diria Nélson Rodrigues...

De correia de transmissão de seus interesses e objetivos, o Partido dos Trabalhadores passou a depender do presidente do Brasil como de uma droga pesada. Não subsiste sem ele.

A fortuna de Lula, segundo relatórios informais dos serviços secretos norte-americanos que não podem ser comprovados, remonta a dois bilhões de dólares. Ela encontra-se no exterior, assim como os recursos valiosos que o PT detém em paraísos fiscais e que exigiram que o publicitário Duda Mendonça criasse conta e empresa em paraíso fiscal para receber pagamento por serviços prestados nas eleições de 2002. O PT é uma caixa-preta, uma espécie de "arquivo X", porque toda a sua verdade está lá fora...

A máquina era para ser gerenciada em silêncio por José Dirceu, o maior socialista de mercado da face da Terra. Interlocutor de enormes fortunas e grandes lobistas com interesses no país. Ele garantiria a estabilidade da gestão dos recursos, completamente extrínsecos a qualquer perseguição do fisco, mas que aparecem com fidelidade nos períodos eleitorais. Seu erro, todavia, foi deixar o sucesso majestático subir-lhe à cabeça, tal como um caipira deslumbrado, mistura de "gestalt" com Lombroso. Hoje é réu em crime menor, execrando a funesta sorte de ser advinhado pelo menos e não temido pelo mais...

A grana estocada serve como reserva de valor para embates majoritários. Parece, então, que, estruturado nesse ambiente de grandes tacadas externas, esquenta-se o dinheiro no interlúdio entre as eleições em empreendimentos turísticos e fusões de empresas, o que, de resto, permitiria ao presidente vergar a coluna de adversários e comensais da burguesia nacional e demais agentes aos seus projetos de poder.

No entanto, ciente de que a imagem presidencial, de tão íntima dos brasileiros por tantos dias, acabaria por erodir-se em desgaste natural, o presidente raciocinou com pragmatismo que o período de 2010 a 2014 poderia ser ocupado por um regente, uma espécie de cooptado de seu partido ou candidato de coligação em grande acordo, eleito para esquentar o lugar que ele considera seu, por direito.

Dizem que tal tese fora sugerida pela City britânica, o conjunto de instituições financeiras sob o comando da Coroa inglesa e que sucede a antiga Trilateral, não prescindindo do auxílio luxuoso das instituições multilaterais do vetusto sistema de Bretton Woods e frutos do chamado Consenso de Washington - que percebeu a urgente necessidade de renovação, com uma troca de guarda eficiente para a continuidade da política nacional. Vale dizer, como os franceses, mudar para manter a mesma coisa...

Tal transformação ficaria a cargo de Aécio Neves, que se imcumbiria da missão golberyana de trazer o PT para o centro e “cristianizar” o PSDB e a boa parcela “comestível” do PMDB. Os financistas consideram que o país deveria convergir para o centro, porque “é bom para os negócios” e manteria calmo o nosso eterno gigante adormecido.

Nada melhor do que o neto de Tancredo Neves, um artífice da política de conchavos, da conversa mole entre as elites e que pugnou a vida inteira pela reconciliação vinda de cima, como concessão das minorias abastadas em direção às maiorias esperançosas, com seu herdeiro repetindo freudianamente o padrão de reunir num centrão democrático as forças políticas da nova geração, que se derrama entre nichos ideológicos de esquerda e centro-esquerda.

Essa exigência é peculiar à política brasileira, vez que não existe mais direita configurada no país. Pelo menos uma capaz de ser levada a sério. Ela foi sepultada pelos erros dos militares e recebeu a pá-de-cal durante o governo Sarney, com moratória e tudo. A vitória de Lula tornou-se o jazigo perpétuo para essa parcela diminuta do eleitorado com seus sucedâneos, permitindo-se até o governo, sem qualquer desgaste, utilizar-se de medidas ortodoxas no controle da economia. Quem diria: Lula trabalha tranquilamente com os métodos da Escola de Chicago.

E o presidente não briga com os de fora porque no exterior estão protegidos os seus interesses. Até sua amada esposa já detém cidadania italiana, no caso de algum perigo interveniente. Aqui dentro, todavia, ele poderá se divertir com uma candidatura ao Senado, para puxar a legenda petista em São Paulo e percorrer o mandato, como agora é moda, tomando várias licenças para descansar e construir outros horizontes. Nesse caso, seria cumprida rigorosamente a lei, respeitada a Constituição e não haveria qualquer percepção de ilicitude na rotação do poder.

Lula entendeu o jogo da alta finança e sabe que ela é hegemônica em tempos de globalização. Foi admitido num clube muito pequeno, jamais ocioso, e que tem recursos suficientes para trabalhar estrategicamente por espaços de dez anos. Esse é o clima de consenso oferecido pelo G8 e pelos plutocratas de Davos.

O Brasil ficará muito bem, sim senhor, se continuar funcionando conforme os ditames da comunidade financeira internacional. E ela não deseja um terceiro mandato para o atual presidente, que foi aconselhado a dissuadir também seus companheiros, aboletados na burocracia federal, de lutarem por isso.

Em troca, todas as portas permaneceriam abertas para manter-se como o operário que deu certo e eminência parda do governo seguinte, porque, por incrível que pareça, Lula é garantia de estabilidade ideológica na América Latina e isso a esquerda radical, propedêutica, já percebeu, torcendo-lhe francamente o nariz e chamando-o, à boca pequena, de traidor. O socialismo de Lula é de fancaria, apenas uma simbologia vaga para a manutenção do poder. Os movimentos sociais sabem disso, os sindicalistas e estudantes, também, mas recebem um cala-boca monetário e irresistível, como recomendava Golbery, quando financiava artistas no regime militar por baixo dos panos...

Lula não traiu ninguém, apenas amadureceu. Sabe como o mundo funciona, quais são as elites e é completamente dócil a quem realmente manda. "Lula, os iluminados do mundo te saúdam!", desde que protegidos nas barganhas de juros, recebendo os resultados da coleta infinda dos superávits primários e acolhidos nos propósitos de seus fiéis representantes, os rentistas especuladores - todos os que, juntos, irão pavimentar a estrada de permanência da liderança útil do ex-operário. Ele ganha de cá, eles recebem de lá. E isso é política...

E tais movimentos não dependem mais da sustentação e do controle do mandato. Aliás, nesse sentido, os presidenciáveis petistas são apenas buchas de canhão ou somente bois-de-piranha, como repasto de antevéspera para o posterior jogo pesado. E o certame pressupõe um grande “acordão”, sob a chancela sedutora do marketing político, da aquiescência das redes nacionais de televisão mais importantes e da burguesia nacional, docemente constrangida, que virão sufragar o candidato do regime, que aparentemente hoje não existe.

Mas, como diz atualmente a juventude, “ele já é” ! É uma realidade que está nas sombras, um saque de revólver a ser feito de repente e que precisa de que Lula saia provisoriamente de cena. É por isso que os candidatos do PT são todos provisórios, alguns até demissíveis “ad nutum” pelo presidente, personagens de um tudo ou nada que irá convergir para outro nome de consenso.

E esse plano nem mórbido é. O povo irá até gostar, porque engole tudo, desde que sejam mantidos o carnaval, o futebol, a novela, o bolsa-família e o big brother. Tudo isso, porém, tem que ser supervisionado pela via confiável das elites mundiais que acionam os cordéis e fazem o possível para que não percebamos que somos palhaços e patetas no grande jogo. É esse jogo centro-periferia que movimentará, enfim, o xadrez de 2010. Um misto de explosão dialética entre o que dizia o marxismo e o que fez a globalização com o capitalismo.

Por conseguinte, o futuro não pertence tanto a Deus. E Lula já percebeu isso...

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