sexta-feira, agosto 15, 2008

A IDIOTIA DE LULA

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por José Nivaldo Cordeiro

NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado

"A voz, quanto mais clara fica, mais dissonante soa"

Joseph Brodsky

Meus leitores têm acompanhado o que tenho comentado sobre a percepção pessoal de Lula sobre o problema do retorno acelerado da inflação no Brasil. Saberá também, se me acompanha a mais tempo, que em nada esse fenômeno é surpreendente, visto que as medidas governamentais que têm sido postas em prática, à exceção da política monetária executada pelo Banco Central, deslocada que está do corpo central da ideologia desenvolvimentista defendida pelos intelectuais do PT, levariam inevitavelmente a um quadro de crise como esse. Quero sublinhar aqui que a idiotia presidencial de forma alguma se deve à carência de formação especificamente econômica, embora não devamos esquecer que a ignorância lulista não se restringe a esse campo econômico, mas é generalizada: essa ignorância é uma sólida aquisição de sua intensa biografia, dedicada às palavras de ordem, às platitudes insossas e à propaganda política mentirosa, pura e simples. Lula nunca quis aprender coisa alguma e orgulha-se dessa ignorância militante.

Sua idiotia resulta de outra fonte, além da recusa a aprender. Fundamentalmente da construção de um mundo de sonhos paralelo à realidade, sobre o qual o presidente constrói as suas decisões e também o seu discurso político. Carência de formação não redunda necessariamente em idiotia; esta vem pela desconexão do real, posto em seu lugar um substituto onírico, uma realidade de faz de conta, um "como se assim fosse". Loucura!

E quando digo Lula digo também sobre todos aqueles que lhe cercam, que constituem a nova corte do poder: os burocratas do partido, os apoiadores de primeira e última hora, os empresários chapa-branca, a comunalha instalada nas universidades, nos jornais diários, nas emissoras de TV, no mundo artístico e editorial. A idiotia de Lula é espelho – se quisermos, é a ponta mais saliente e pública desse enorme monumento à ignorância que é o governo Lula – do abaixamento do nível civilizacional do Brasil. Que é acompanhado pelo abaixamento do nível moral também. O que me surpreende, sabedor que sou dessa estranha e perigosa supra-realidade que baliza a tomada de decisões vitais no plano coletivo, é que nossa sociedade ainda não mergulhou no abismo inevitável da desintegração. Certamente o descontrole inflacionário será a porta triunfal pela qual a crise colossal que eu espero vai se instalar.

Essa percepção pessoal do presidente é tanto mais mágica e trágica porque genuína. Lula acredita piamente no que diz e essa sinceridade está na raiz da empatia com que a população aceita sua percepção falsificada dos fatos. Essa falsificação é substituta da verdadeira realidade, à vista daqueles capazes de elaborar análises profundas. Lula encarna essa distorção da consciência coletiva e de fato tem a representação existencial dos brasileiros, pelo menos daqueles que caíram no canto de sereia dos revolucionários. Só um idiota poderia representar a multidão de idiotas. Contra todas as evidências em contrário os idiotas passaram a acreditar na abolição da lei da escassez, na eliminação do risco existencial, na mentira de que o Estado pode garantir vida boa e abundancia para todos que lhe fizerem genuflexão.

Irresistível recordar aqui a bela reflexão de Joseph Brodsky, em seu ensaio "O filho da civilização", no qual comenta a vida e a obra daquele que ele considera o maior dos poetas russos do século XX, Ossip Mandelstam (inserido no livro MENOS QUE UM, publicado em 1986 pela Companhia das Letras): "Quando um homem cria um mundo próprio, transforma-se num corpo estranho contra o qual se voltam todas as leis: a gravidade , a compressão, a rejeição, o aniquilamento".

Obviamente que quando as leis naturais se voltam contra um governante e seu povo insensato estamos diante de fatos trágicos da maior gravidade histórica. A bomba-relógio está ativada e não vejo mais como desativa-la. Haveremos de ter um encontro macabro com o destino.

Em outro ensaio, publicado no mesmo livro, este dedicado à heróica figura de Nadezhda Mandelstan, esposa e viúva (sublinho este fato porque importante, viuvez foi a característica das mulheres dos grandes homens russos naquela geração, pelo menos daquelas que tiveram a sorte – ou azar – de não perecerem junto com o marido assassinado) do grande poeta objeto do ensaio anterior, podemos ler:

"Por si mesma, a realidade não vale nada. E existe uma hierarquia entre as percepções (e, correspondentemente, entre os sentidos); as adquiridas através dos prismas mais refinados e sensíveis figuram no topo. O refinamento e a sensibilidade desses prismas vêm da única fonte possível: a cultura, a civilização, cujo instrumento principal é a linguagem. A avaliação da realidade feita através de um prisma como esse – cuja aquisição é uma das finalidades da espécie – é portanto a mais precisa, e provavelmente a mais justa. (Os clamores de 'Injustiça!' e 'elitismo!' que podem saudar a frase vindo logo das universidades devem ficar sem resposta, porque a cultura é 'elitista' por definição, e a aplicação de princípios democráticos na esfera do conhecimento nos levaria a considerarmos equivalentes a idiotia e a sabedoria.)"

Bem sabemos que nosso ilustre presidente não consegue falar direito a língua pátria e nenhuma outra, embora fale com loquacidade e eficiência à alma do povo idiotizado. Lula é o apedeuta por antonomásia. Aqui que mora o perigo: um cego guiando a multidão de cegos. Não me cabe fazer outra coisa que não rezar pelos enormes sofrimentos que nos esperam, na melhor das hipóteses. Na Rússia, terra de Brodsky e dos Mandelstam, já temos o balanço consolidado das tragédias que aconteceram, fruto desse descolamento da realidade. Eles são felizes, os russos, pois seus mortos já morreram, contados às dezenas de milhões, enterrados no altar elevado à estupidez. A matança ainda não começou por aqui, e nem a morte por inanição, e nem pelo frio, e nem pela miséria artificialmente fabricada pelos construtores de utopias. Não sei se é algo a comemorar ou a lastimar. Sei que os vivos, como registram as Escrituras, poderão ficar com inveja dos mortos de tempos em tempos. Como na Rússia. Como em toda parte onde esses alucinados descolados do real chegaram ao poder.

A idiotia de Lula é a idiotia de toda a gente brasileira.

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