Por Reinaldo Azevedo
O PT tem um Secretário Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais. Chama-se Renato Simões. Ele também é Conselheiro Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos. Foi deputado estadual. Seu humanismo, com efeito, é das coisas mais encantadoras que há na praça das idéias.
No site do PT, ele escreve um artigo em que somos levados a crer que ele é contra a tortura, é claro. Simões é um homem bom e só quer justiça. Leiam:
"A iniciativa da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, apoiada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, de debater em seminário nacional a punição aos militares e outros agentes da ditadura que torturaram e mataram militantes da resistência democrática ao regime militar recolocou o tema na ordem do dia."
(...)
”O fato deste debate ter sido levado a Brasília sob a chancela de dois ministros de Estado e de ter reunido familiares de mortos e desaparecidos políticos, bem como ex-presos políticos vitimados pelo Estado de Exceção, para debater as bases jurídicas no Direito Nacional e Internacional deste tipo de ação, colocou a questão num outro patamar e provocou a irada reação de militares, integrantes do governo federal e parlamentares. O que reúne nesta toada contra o debate pessoas diferentes como o Ministro Nelson Jobim, o Comandante Militar do Leste, General Luiz Cesário da Silveira Filho e o coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra? Os deputados federais Cândido Vacarezza, Jilmar Tatto e Jair Bolsonaro? Articulistas da Veja, do Estadão e da Folha? Cronistas de várias emissoras de rádio e TV?”
Ele apresenta, em seguida, argumentos, estes que andam por aí e ainda escreve:
”Afinal, faltam pouco mais de dois anos para o encerramento dos oito anos de governo do presidente Lula, e entre os pontos que ainda faltam ser concretizados de seu programa, que se insere dentro da agenda dos principais movimentos sociais brasileiros, estão a abertura dos arquivos militares ainda não divulgados e a reparação plena dos(as) ex-presos(as) políticos(as), suas famílias e das gerações que aguardam um reencontro do Brasil com seu passado para alavancar um futuro ainda mais democrático e justo.”
Que homem generoso! Que alma boa! Que coração aberto! Que luta destemida!
Lendo o que ele escreve, não sei se choro ou, como Voltaire lendo Rousseau, sou tentado a andar sobre quatro patas. E por quê?
Na sua página na Internet, Simões canta as glórias, vejam vocês, de ninguém menos do que Olívério Medina. Sim, trata-se daquele terrorista colombiano que mora em Brasília, cuja mulher foi empregada no governo federal a pedido de Dilma Rousseff — segundo Eliane Cantanhêde, ela não poderia “morrer de fome”, coitada!
E o que ele diz sobre Medina, este outro gigante do humanismo:
“Em 2003, [Medina] foi um dos responsáveis por tentar criar as condições para um encontro do Secretário Geral da ONU e um Representante das FARC para tratar do assunto de intercâmbio humanitário de prisioneiros políticos. (...) em 2004 e 2005 [Medina] tem se dedicado a lutar pelo intercâmbio humanitário entre os prisioneiros políticos da guerrilha e do governo (...)”
Entenderam? Simões está entre aqueles que querem fazer a história retroagir 30 anos para punir os torturadores do regime militar. Mas ele chama os detidos nos campos de concentração das Farc de “prisioneiros políticos”. Mais ainda: iguala esses “prisioneiros políticos da guerrilha” aos “prisioneiros políticos do governo”, como se fossem equivalentes; como se aqueles que as Farc mantêm cativos tivessem sido capturados na "luta". Eis o humanismo do rapaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário