sexta-feira, agosto 15, 2008

Os amorais

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Reinaldo Azevedo

Em sua coluna no Globo de 14/06, Merval Pereira trata de uma questão que tenho amiúde abordado aqui: o desassombro dos petistas para agir contra a moralidade e/ou a lei, na certeza de que permanecem impunes. E permanecem.

Vejam lá o caso da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB). Já houve protestos de rua, e há protocolado um pedido de impeachment. Acusação contra a governadora: ela é aliada do principal acusado de corrupção. O caso no estado é grave? É, sim. E tem de ser apurado até o fim. Comprovado o envolvimento da chefe do Executivo, que seja impichada. Mas observem que ela já está condenada. Porque assim são eles. Assim eles fazem. No caso da Alsom, em São Paulo, a coisa é ainda mais interessante: contratos de 10 anos passados, com aprovação do Tribunal de Contas do Estado, estão sendo esmiuçados. De novo, é preciso investigar, apurar etc e tal. E notem: aqui, teria havido corrupção, mas ainda não se conhecem os supostos corruptos.

Vamos ver. Imaginem se o filho de FHC ou de Serra tivesse como sócio uma empresa que faz um negócio ainda ilegal, na certeza de que o governo mudará a lei para legalizá-lo. O caso existe. Só que o filho é de Lula. A empresa em questão é a Oi. Ontem, a Anatel deu o primeiro passo para pôr na lei o que a empresa já praticou. E com financiamento de um banco oficial. Isto mesmo: o BNDES financiou uma operação que ainda era ilegal. Imaginem um compadre de Serra andando no Palácio dos Bandeirantes com o desassombro com que Roberto Teixeira anda no Palácio do Planalto — e fazendo negócios que dependem de ações do governo.

Perversidade

Lula, de fato, é inimputável, e essa inimputabilidade se estende a seus subordinados. A imprensa acaba presa de uma lógica — ou falta dela — das mais perversas. E vou esmiuçá-la abaixo. Contra não-petistas, indícios bastam para sustentar semanas de noticiário. Muitas vezes, reportagens são publicadas ancoradas apenas em versões de adversários políticos e pareceres de advogados, alguns envolvidos com as causas. E ATENÇÃO PARA O QUE VEM AGORA.

COMO O PT COSTUMA DIZER QUE É PERSEGUIDO PELA MÍDIA, os jornalistas se deixam intimidar por esta deslavada mentira e tentam provar AOS PETISTAS que são independentes. Notem: certos ramos da imprensa só se sentem confortáveis se, ao lado de uma acusação contra o PT, houver também uma contra os tucanos ou os democratas.

O noticiário, especialmente o eletrônico, no dia do depoimento de Denise Abreu, demonstra que a lógica, no caso dos petistas, é invertida. Quantos não lemos o seguinte título: "Denise nega que Dilma tenha dado ordem para..."? É uma estupidez! Nem poderia dar ordem. Não havia vínculo funcional. A acusação era de pressão. Imaginem se uma agência reguladora pode ser chamada na Casa Civil para prestar esclarecimentos de fazer inveja a Fidel Castro, quando ele ainda vivia: nove horas de duração!

O desassombro com que Roberto Teixeira circulava na Anac e na Presidência da República está comprovado por fatos, fotos e documentos. Mas, candidamente, pede-se, no caso dos petistas, o que não ocorre pedir no caso de Yeda ou da Alstom: "Cadê a prova?". Como lembra Merval em seu texto, se Lula for flagrado metendo a mão num cofre público, dirão que está pondo dinheiro lá, não tirando.

Os vagabundos

A petralhada me acusa de ser mais severo com a canalhice petista do que com a dos outros. É uma mentira estúpida, mas não estou nem aí. Não ligo para o que eles dizem de mim. Mais do que isso: não quero que eles gostem de mim. Mais ainda: eu não os considero juízes competentes do meu trabalho. A mim, eles não pautam. Vocês não vão me ver aqui fazendo micagens para que petistas digam: "Pô, esse Reinaldo até que diz alguma coisa sensata". Eu não quero ser sensato para aqueles que me detestam — e cujos procedimentos políticos repudio. Essa gente só não censurou a imprensa até hoje porque seus arreganhos autoritários foram repelidos. Mas eles tentaram. Eu os desprezo também por isso. Eles sabem, sim, o que é democracia. Mas não gostam dela.

Aqueles em cuja avaliação confio — e não são meus aliados ideológicos necessariamente — sabem que sou rigoroso com o tal bem público, talvez até excessivamente moralista. Tarde demais para mudar. A minha pinima (para usar um termo de origem tupi, já que sou indiodescendente) com os petistas, além do desassombro com que tratam como privado o bem público, tem, sim, esta característica adicional: eles se consideram dotados de direitos especiais para fazer aquilo de que acusam seus adversárioos.

Para os outros, rigor absoluto e condenação antes do julgamento; para si mesmos, a mais descarada impunidade.

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