sexta-feira, agosto 15, 2008

Omissão Imperdoável e Reação Heróica

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Luís Mauro Ferreira Gomes


Coronel-Aviador reformado


1º de agosto de 2008



Entre a dor e o nada (William Faukner), preferia a dor, certamente, porque a dor, comparada ao nada, não é nada."



(O inspirado jornalista e poeta Jésus Rocha, citando o escritor William Faulkner, no Monitor Mercantil, de 29 de julho de 2008).



Hoje falaremos, ainda que implicitamente, de ingenuidade, desinteresse, alienação, egoísmo, medo, covardia, mas, também, de desprendimento, perseverança, bravura, heroísmo, patriotismo e outros sentimentos e atitudes que pautam os nossos comportamentos. Como seres humanos, somos, em maior ou menor grau, condicionados por quase todos eles, cabendo-nos, com o arbítrio que Deus nos deu, decidir os que prevalecerão, pelos quais seremos conhecidos na História.



Nunca duvidamos de que devemos enfrentar a morte com coragem, lutando até o último momento, jamais sucumbindo à sedução da desistência precoce, para que o fim chegue mais rapidamente e com menos sofrimento.



Talvez, por isso, tenhamos tanta admiração pelos animais que vendem caro a vida. Se tiverem de ser devorados, que não se tornem presas fáceis, que o predador pague o preço pela caça: um lábio mordido, um nariz arranhado, ou quem sabe, um olho furado.



Merecem todo o nosso respeito as presas e os predadores menores que resistem aos maiores até o fim, e, sem desprezá-las, sentimos enorme pena das reses que marcham resignadas para o abatedouro. Elas, pelo menos, não têm escolha.



Mas, para tranqüilidade dos nossos leitores tradicionais, é sobre política, e não do instinto de sobrevivência dos animais, que vamos tratar.



Faz bastante tempo, a sociedade brasileira parece perdida diante de um dilema inexplicável: reagir heroicamente em defesa de seus valores e princípios ameaçados por maus governantes ou renunciar à liberdade e, talvez, à vida, enquanto assiste, inerte, estabelecer-se a ditadura que se avizinha, ou melhor, agravar-se o terror que já se instalou.



Há muito ninguém governa o País, que vive de crise em crise. E sobejam os casos de corrupção, que envolvem grande número de ministros, além da cúpula partidária da base de apoio do governo, a ponto de comprometê-lo inteiramente.



Agora, com a divulgação seletiva de trechos do conteúdo do computador de Raúl Reyes (que, brevemente, de uma ou de outra forma, se dará a conhecer no seu todo), começam a surgir fortes indícios comprobatórios daquilo que todos já sabíamos: o envolvimento de ministros e outras importantes personalidades do governo com o narcoterrorismo das FARC.



Infelizmente, começam a aparecer, também, talvez por má fé, talvez pela leviandade de quem quisesse mostrar serviço, referências a pessoas de reputação ilibada, cuja trajetória política desautoriza qualquer ilação a esse respeito. Deve-se ter bastante cuidado, portanto, para que, por açodamento, por imprudência ou por insídia, não se venham a comprometer reputações injustamente.



Mas, em nenhuma hipótese, a comprovação da inocência de uns deverá servir de pretexto para a absolvição antecipada daqueles que, para atingir seus objetivos políticos escusos, não hesitaram em pactuar com terroristas e traficantes, deles recebendo ajuda, inclusive financeira, em troca de favorecimentos ilegais.



Não devemos desperdiçar mais esta oportunidade.



Nossos inimigos são covardes e jamais atuam diretamente, crescendo, apenas, diante da nossa leniência. Devemos, por isso, mantê-los acuados, sob ataque cerrado em todas as frentes. No passado, fizemos isso e sempre vencemos.



Dizem que os militares ganharam a luta armada, mas perderam a guerra da comunicação. Grande bobagem. Militares combatem com armas, como instrumento das ações, e é assim que continuará a ser. Políticos, entre outros, é que usam a “propaganda como a arma do negócio”.



Se alguém está perdendo a guerra da comunicação, portanto, são eles.



Eles, que receberam a responsabilidade de conduzir os destinos da Nação e se revelaram inteiramente incapazes de fazê-lo, permitindo ou promovendo a deterioração quase total dos serviços essenciais do Estado; a generalização da corrupção; as práticas criminosas dos movimentos ditos sociais, financiados com dinheiro público; a valorização dos bandidos e o aniquilamento do cidadão; a oficialização do racismo estúpido e extemporâneo.



Promoveram ou permitiram, também, o estabelecimento da insegurança jurídica; a desmoralização do poderes constitucionais, a invasão da competência de Estados da Federação; o desrespeito sistemático à ordem constitucional, o comprometimento da segurança nacional, pelo enfraquecimento intencional das Forças Armadas e pela adoção de políticas irresponsáveis que colocam em sério risco a nossa soberania e a integridade territorial do País.



E ainda fingem não ver os avanços totalitários do governo - quando não se vendem barato, passando a coniventes da traição.



Não obstante, muito me preocupam as desculpas que alguns encontram para a omissão (inicialmente cômoda, mas, logo depois, trágica): "está tudo perdido"; "não há mais nada a fazer"; "nada cola nele"; "enquanto tiver toda essa popularidade, não há como reagir".



Realmente, diante da renúncia, não há salvação.



Faz algum tempo, o presidente da OAB disse em entrevista, após reunião da Ordem para decidir se seria pedido o impedimento do presidente da República, que, embora tivessem encontrado fortes indícios da prática de Crime de Responsabilidade, nada seria feito, dada a grande popularidade de que ele gozava.



Recordemo-nos de que, à época, escrevemos sobre isso em um artigo, no qual dizíamos ser a convicção da prática do referido crime o que leva ao processo de impedimento. Destituir um presidente porque é impopular, sem que o tenha cometido, é, simplesmente, dar um golpe de Estado, enquanto deixar de fazê-lo, alegando-se a popularidade presidencial, não passa de conivência.



Que políticos se escondam atrás desses argumentos, até entendemos, mas o militar, que existe e é pago para defender a Pátria com o sacrifício da própria vida, não tem o direito de usá-los para furtar-se de agir.



Demonstrar qualquer tolerância com quem nos quer destruir, na vã esperança de receber, amanhã, algum tipo de tratamento piedoso dos possíveis vencedores, além de uma indignidade, é um grave erro, que terminaria por nos levar, aí sim, à derrota.



Como diz o aforismo: somente devemos sentar-nos à mesa com o inimigo, quando este for assinar a rendição.



Bem, a Avaliação da Conjuntura está pronta, e todos conhecemos, e muito bem, a situação. Todos sabemos, igualmente bem, o que fazer.



Chega de diagnósticos!



Se algumas instâncias deixaram-se corromper ou cooptar e não coíbem esses abusos criminosos como deveriam, aquelas que ainda permanecem livres têm o sagrado dever de usar todos os remédios disponíveis, por mais amargos que sejam, para salvar-nos da servidão iminente.



Para tanto, resta-nos, apenas, aposentar as desculpas esfarrapadas para a omissão imperdoável, aceitar os riscos decorrentes das ações e fazer o que tem de ser feito, com a bravura e o heroísmo de sempre.



Ainda há tempo.

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