sexta-feira, agosto 15, 2008

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Quem não deve também teme - coluna Carlos Brickmann

Coluna de domingo, 13 de julho

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O caro leitor talvez não conheça o dentista Fábio Bibancos. Gente fina! Pois, um dia, a Polícia Federal estourou a porta de vidro de seu consultório. Um policial deu-lhe voz de prisão, confundindo-o com um doleiro. Bibancos explicou que não era doleiro, o policial apontou-lhe a metralhadora, gritando: “É doleiro! Do-lei-ro!” Outro exigia, aos berros: “Confessa, bichinha! É doleiro!”

Bibancos é baixo, franzino, com pouco mais de 40 anos. O doleiro que procuravam é alto, bem mais idoso, e obviamente não mora no consultório do dentista. Nem perto dali. Isso aconteceu na mesma operação em que foram presos Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta. E poderia acontecer com você, caro leitor.

Uma operação planejada durante meses em que os endereços estão errados? Uma operação planejada durante meses em que não há uma foto do procurado? Uma operação planejada durante meses em que o muro alto do consultório odontológico foi considerado prova de que ali morava um doleiro?

Muita gente costuma dizer, quando há denúncia de abusos policiais, que quem não deve não teme. É falso: quem não deve não teme, mas só quando os direitos individuais são preservados. Quando um policial invade um consultório, uma creche ou uma loja usando armas pesadas, e ainda se dá ao desplante de externar seu preconceito, chamando a vítima de “bichinha” (poderia ser “negro”, “judeu”, “vagabunda”, “carcamano”), todos têm de temer: quem deve e quem não deve. Eles começam maltratando nossos vizinhos, e terminam maltratando a todos nós.

Há dois aspectos distintos no caso Dantas: primeiro, a maneira de fazê-lo, cheia de entrevistas e atrações para a imprensa. Mas a segunda parte é a mais importante: com Dantas preso ou solto, é preciso aprofundar as investigações. As suspeitas de que o banqueiro do Opportunity seja um corruptor maciço existem há anos; e há que esclarecê-las. Comprou jornalistas, juízes, policiais, meios de comunicação? Subornou autoridades? Desenrolar e expor à luz do Sol todo este emaranhado, com a cooperação de CVM, Coaf, Banco Central, isso contribuirá para que o país possa confiar mais em suas instituições – incluindo a imprensa.

O espetáculo das prisões com algemas e TV foi tamanho que até o ministro da Justiça, Tarso Genro, a quem a Polícia Federal está subordinada, determinou rigorosa sindicância para apurar o abuso. O Manual de Instruções da Polícia Federal proíbe a divulgação de informações e imagens de pessoas presas, uma espécie de condenação antecipada. É claro que, até os dias de hoje, “rigorosa sindicância” não quis dizer “sindicância rigorosa”, e sim exatamente o contrário.

O repórter Bob Fernandes, do portal Terra Magazine, muitíssimo bem informado sobre as ações policiais, narrou os detalhes da segunda prisão de Daniel Dantas – incluindo as ameaças do delegado: se em cinco minutos o advogado de Dantas não se apresentasse, trazendo seu cliente, chamaria a imprensa.

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