sexta-feira, agosto 29, 2008

SOBRE OS POBRES PROMOVIDOS À CLASSE MÉDIA - 2 ARTIGOS

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FGV PROMOVE CRISTINA


por Janer Cristaldo


Cristina, minha secretária de assuntos domésticos, recebe 85 reais a cad faxina que faz aqui em casa. É diarista e faz outros apartamentos durante a semana. Suponhamos que cobre uma média de 80 reais por faxina. Sem trabalhar aos sábados e domingos, tira 1.600 reais por mês. Ontem, a Fundação Getúlio Vargas promoveu Cristina à classe média.


Leio na
Folha de São Paulo que, "de cada cem trabalhadores das seis maiores regiões metropolitanas que estavam em situação de miséria em janeiro deste ano, 32 aumentaram sua renda e mudaram de classe social após quatro meses. Essa maior mobilidade ajudou a reduzir a desigualdade e encorpou a classe média. É o que mostra estudo divulgado ontem pelo economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV. A pesquisa identifica que esses movimentos de aumento da classe média e de redução da desigualdade, que começaram a ser detectados nesta década, continuam fortes neste ano. (...) O estudo da FGV definiu como classe média a população cuja renda domiciliar total se situava entre R$ 1.064 e R$ 4.591".


Ou seja, estou contratando a classe média para fazer minha faxina e ainda não me dei conta disto. Ou, por outro lado, a tal de classe média está tendo de fazer faxina para sustentar-se como classe média. Ora, contem outra.


Moro em Higienópolis, bairro tido como de classe média. Só de condomínio, pago 650 reais. (Devo confessar que, comparado com demais condomínios do bairro, não está caro). Tivesse de pagar aluguel, lá se iriam mais uns dois mil reais. Que classe média é essa cujo salário chega sequer à metade do que se exige para morar em um bairro de classe média, conforme os parâmetros mínimos da FGV? Estou falando só no morar. Comer, vestir, saúde, educação, energia, telefonia e lazer custam bem mais. Mesmo se pensarmos em 4.500 reais, esta renda domiciliar vira zero quando se tem um filho adolescente.


Conheço uma jornalista, solteira e sem filhos, que mora na Consolação, bairro longe de ser considerado de classe média. Por um mero quarto e sala paga 1.200 reais. São os preços do bairro. Já os teóricos da FGV nos acenam com uma renda - familiar - menor que isso para definir classe média. É mentira DESCARADA! Que a FGV sofisme, isto se entende. Terá seus interesses a defender.


O que é difícil de entender é que toda imprensa engula tal sofisma, sem tugir nem mugir. O jabá explica.

Pobre vira classe média para agradar ao governo

20 DE AGOSTO DE 2008

Por Sylvia Romano*

Para contentar o governo, provavelmente dentro da sua estratégia política eleitoreira, os pobres brasileiros foram galgados à condição de classe média. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ) e empresas de pesquisa, descobriu-se que quem ganha entre R$ 1.064,00 e R$ 4.591,00 — o que passa a representar quase 52% da população atual — pertence à classe média. Existe, sim, uma melhora no padrão de vida do brasileiro, mas elevá-los a tal categoria é um pouco de pretensão. Segundo um jornal carioca, a notícia provocou reação em Vila Kennedy – bairro de 200 mil habitantes, na zona oeste do Rio -, onde a maioria dos moradores se revoltou, pois tem consciência de que pertence à classe pobre e, não, à média como define este novo estudo.

Não é preciso ser economista para perceber este engodo. Basta uma conta rápida, envolvendo custos de moradia (aluguel ou prestação da casa própria) escola, supermercado, água, luz, gás, telefone, transporte, plano de saúde, remédios, vestuário, os famigerados impostos e outras necessidades básicas, para que qualquer responsável por uma família possa perceber a mentira desta conclusão sobre o que vem a ser a classe média. Isso sem levar em conta prestações de bens necessários, carro popular, canais de televisão a cabo, um pouco de lazer e os extras que sempre aparecem.

O próprio responsável pela pesquisa, o economista Marcelo Nery, declarou:

"O limite que define as faixas de cada classe concordo que é arbitrário, é uma simplificação. Porém o tamanho desta classe ou a forma como ela é definida é o menos importante, o mais importante é que está havendo um crescimento dela."

Pergunto eu, como advogada: Se os limites são arbitrários e, portanto não revelam a realidade, por que foram divulgados e estipulados valores para a divisão das classes sociais? Será que quem definiu estas novas hierarquias nunca levantou e somou os custos dos itens citados acima neste artigo? Pelos novos índices demarcatórios tenho certeza que não, pois qualquer dona de casa das mais simples sabe que, com os valores definidos, classe média ela nunca será. O único muito feliz com este dado mascarado é o próprio governo, pois agora terá um forte argumento para se apoiar, graças aos marqueteiros de plantão, nas suas eternas pretensões eleitoreiras — aliás, a única competência verdadeira que ele tem.

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