Foi entre os protestantes ligados ao CMI e às suas evidentes pretensões hegemônicas que nasceu o movimento ecumênico, a partir da constatação de que os cristãos deveriam estar unidos "para que o mundo creia". Afinal, era preciso evitar que o "Jesus de um grupo não servisse para o outro" e que "continuassem divididos aqueles que pregavam o amor universal". Contando com farto numerário e com uma "ideologia" (a Teologia da Libertação) que defendia a implantação do "Reino de Deus na Terra", não foi difícil conseguir a adesão de sacerdotes católicos (em boa parte oriundos das camadas mais sofridas das sociedades nacionais e que viam no sacerdócio uma forma de promoção social) a um ecumenismo e a uma teologia que faziam praça da extinção das diferenças sociais e defendiam uma utópica igualdade entre os homens. E as Igrejas, tendo à frente a Católica (quase sempre a única que aparece) passaram a engajar-se em diferentes lutas e movimentos sociais, ainda que revolucionários, bem como em campanhas que têm por mote a paz e a justiça, mesmo entendidas ambas de forma sectária.
Ao fim e ao cabo, bem examinadas as coisas, o ecumenismo preconizado pelo CMI e aceito por um bom número de católicos, em particular aqueles adeptos da Teologia da Libertação, apenas atende aos interesses das hoje chamadas "potências centrais". Como, de outra forma, explicar o interesse ecumênico na criação de "nações indígenas" desmembradas de Estados constituídos e internacionalmente reconhecidos ou, de todas as formas, obstaculizar ações governamentais que intentam levar o progresso ao interior de diferentes países usando, como argumentos, além da "defesa da ecologia", a manutenção de populações inteiras em níveis de vida semelhantes aos existentes na Idade da Pedra? Isso, sem falar na criação de movimentos nos quais se procura desenvolver sentimentos de revolta contra a Lei e a Ordem.
No Brasil, possuem vínculos profundos com o CMI (e com o "ecumenismo" defendido por ele) as seguintes organizações:
- Arquidiocese de São Paulo;
- Biblioteca Camboniana Afro-Brasileira (BCA);
- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB);
- Centro de Estudos Bíblicos (CEBI);
- Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe (CEHILA);
- Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEP);
- Conselho Indigenista Missionário (CIMI);
- Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC);
- Comissão Pastoral da Terra (CPT);
- Prelazia de São Félix do Araguaia;
- Revista "Sem Fronteiras";
- Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER)
A CNBB possui os seguintes organismos, boa parte deles rezando pela "cartilha ecumênica":
- Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas (ABESC);
- Associação de Educação Católica (ABEC);
- Caritas Brasileira (composta pela Caritas Nacional e suas subsidiárias no Maranhão, Ceará, Nordeste 2, Nordeste 3, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul);
- Centro Cultural Missionário (CCM);
- Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS);
- Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), cujo Secretário Executivo é Francisco Whitaker;
- Comissão Pastoral da Terra (CPT);
- Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB);
- Conselho Indigenista Missionário (CIMI);
- Conselho Nacional de Leigos (CNL);
- Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (IBRADES);
- Instituto Nacional de Pastoral (INP), cujo Secretário é o padre João Inácio Kolling;
- Organização dos Seminários e Institutos Filosófico-Teológicos do Brasil (OSIB);
- Pontifícias Obras Missionárias (POM), cujo diretor é o padre João Panazzolo.
A partir dessa relação, é fácil concluir da poderosa influência exercida pelo CMI na organização da Igreja Católica no Brasil.
Também merecem referência, por suas estreitas ligações com o CMI, o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), localizado na Colômbia e a Pastoral Indígena mexicana, conhecida por CENAMI, ambos da Igreja Católica. Como curiosidade, mostra da importância que o CMI empresta à América Latina, é de ressaltar a existência, na Colômbia, cujos movimentos guerrilheiros possuem o apoio de sacerdotes católicos (que se movimentam para outros países com numerário fornecido pelo CMI) da Rede Informática da Igreja na América Latina (RIIAL), montada e custeada pelo CLAI.
Para a perfeita compreensão da forma pela qual a Teologia da Libertação invadiu a Igreja Católica, seria necessário palmilhar um longo caminho, de certa forma abreviado pela leitura de um manual ("O que é Pastoral") da autoria de João Batista Libânio, parte da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense.
Na Introdução, o autor propõe-se a levar o leitor a compreender de que forma a Igreja tem buscado, ao longo de 20 séculos, "fazer pastoral" e informa haver escolhido três cenários para tanto: "um primeiro, povoado pela pastoral clássica, que praticamente plasmou o catolicismo tradicional"; o segundo, a "nova pastoral, surgida das ruínas da guerra, do cataclismo cultural e moral provocado pelos pensadores da suspeita, da fúria desenvolvimentista dos milagres econômicos, dos abalos sísmicos no interior da Igreja dos Pontificados de Pio XII e João XXIII"; o terceiro, o cenário latino-americano, palco "da Pastoral Libertadora, a Pastoral do Terceiro Mundo, ... encarnada nas comunidades eclesiais de base, na pastoral da terra e dos índios e em outras semelhantes ... a pastoral libertadora nasce de dentro do conflito. Cola-se à realidade de Igreja e de Sociedade de nosso continente".
Aflora assim, desde as primeiras páginas, a possibilidade do surgimento de uma Igreja Católica distinta das demais existentes no mundo, clara proposta de cisão à exemplo daquela que deu origem à Igreja Anglicana, a real interessada em constituir-se numa força à altura do Vaticano, muito particularmente nos países do Terceiro Mundo. E sabendo-se, como se sabe, que a Igreja Anglicana é umbilicalmente ligada à Coroa Inglesa, sempre caberá a suspeita de que tal atitude pode, muito bem, ter tudo a ver com os interesses dos grandes grupos econômicos britânicos.
No Capítulo seguinte, "Em busca das raízes", o teólogo jesuíta pretende esclarecer o que deve ser entendido por "pastoral", que define como sendo "o agir da Igreja no mundo", para logo indagar: "que Igreja? que tipo de agir? e que mundo?".
Sob o título "Importância da etimologia", dedica-se a explicar a origem do vocábulo "pastoral", assinalando que "qualquer ação pastoral tem algo a ver com a ação própria de um pastor ... Na medida em que a experiência do pastor se distancia do nosso mundo, ... o esforço de recuo àquela experiência arcaica se faz mister". A partir daí repassa as tradições bíblica, mesopotâmica e a reinterpretação feita por Israel, concluindo que nesta "a tradição bíblica deixa-nos um sabor amargo de desconfiança em relação às autoridades humanas". Talvez esteja, nesta frase, a raíz de toda a aversão que os seguidores da Teologia da Libertação demonstram para com a autoridade secular, muito especialmente aquelas que não se afinam ideologicamente com eles.
Nesse ponto, segundo o autor, Jesus insere-se na tradição bíblica e é na Sua trajetória que o autor vai buscar "a missão última e radical do pastor": "amar as ovelhas até o extremo, até o fim, oferecendo-lhes o dom da vida, a entrega total de si". E logo traça um paralelo entre Inácio de Antióquia (entregue às feras num circo romano, nos primórdios do cristianismo) e Oscar Romero, primeiro e último elo de uma "longa cadeia de bispos", ressalvando que Romero foi convertido à causa dos pobres em virtude da morte do jesuíta Rutílio Grande "assassinado violentamente na defesa dos camponeses". (Libânio, propositadamente, omite que o evento ocorreu durante guerra civil na República de El Salvador e que, em tais circunstâncias - conviria lembrar-se dos assassinatos de padres e freiras na Guerra Civil Espanhola pelas forças dominadas pelos comunistas- é corriqueira a prática de atentados contra inimigos políticos, por um e outro dos lados em conflito).
No capítulo intitulado "Pastoreio numa sociedade tradicional", é assinalado que enquanto instituição social a Igreja reproduz no seu interior, os choques e contradições do "contexto histórico-político". E também que a caminhada da Igreja se dá sob permanente tensão entre o polo institucional (a hierarquia) e o polo da consciência teologal (o Evangelho), ou seja, segundo os cânones da dialética marxista.
A caminhada começa pela "Igreja imperial", surgida em 313 d.C, quando "o poder estatal ainda forte tutela, em grande parte, a Igreja"; na "Igreja medieval", até o pontificado de Gregório VII, ainda há a "hegemonia do poder estatal sobre o eclesiástico" mas, a partir de Inocência III, o Papado assume a indiscutível direção do Ocidente cristão, "de modo que o mesmo credo e a mesma moral reinavam sem concorrência no espaço político-cultural da Cristandade", longa experiência que marcou a pastoral tradicional. Esta, no dizer do autor, a vivemos no Brasil até antes do Concílio Vaticano II e aqui ainda "persiste e resiste aos impactos transformadores desse Concílio e de eventos eclesiais como Medellín e Puebla".
O Concílio de Trento (1545-1563), marco da pastoral tradicional, levou o clero a buscar espiritualizar a religião dos fiéis, "arrancando-os das preocupações exclusivas com os problemas diários", à base do medo da eternidade. Esta pastoral, centrada no eixo dogmático e moral, foi transplantada para o Novo Mundo e a sua ortodoxia levou as pessoas letradas a abandonarem a Igreja, "por impossibilidade de articular com seus conhecimentos científicos a rigidez de tal apresentação ...".
À pastoral tradicional seguiu-se a pastoral moderna, "nascida ou pelo menos incentivada pelo Concílio Vaticano II", que livrou os fiéis da tutela eclesiástica. Nesse processo teve grande impacto o desenvolvimento da Psicologia, em particular a de cunho freudiano pois, "onde não há culpa, o pecado, o medo do inferno, do purgatório, do juízo de Deus desaparecem". Passou a vigir a "ética da satisfação", posto ser o sentimento de culpa derivado da "repressão que pesa sobre nós por obra especialmente da religião e de regimes opressivos e puritanos". Nesse ponto, conclui o autor terem surgido no interior da própria Igreja forças que unidas "às forças exteriores" terminaram por liquidar a pastoral tradicional. O clero entra em crise de identidade e termina por dissolver-se "na massa do anonimato cristão, no meio dos simples fiéis" e deixa de existir a autoridade clerical.
Parte-se então, na pastoral moderna, para um trabalho mais personalizado com minorias, mais que uma "atividade clerical de tutela e ensinamento das ovelhas, ... de uma ação também própria do leigo". E esta nova visão pastoral, tem início com a Ação Católica. Com ela, cresce a autonomia do leigo através da Juventude Operária Católica (JOC), Juventude Agrária e Camponesa (JAC), Juventude Estudantil Católica (JEC), Juventude Universitária Católica (JUC) e Juventude Independente Católica (JIC).
E aí, novamente surge o conflito: de um lado, movimentos leigos que "carregam a tinta no testemunho de uma vida cristã, sem deixar o mundo burguês em que vivem. Dentro dos limites de pureza evangélica possível no seio das classes dominantes e burguesas" e, sem renunciar às benesses de sua classe, "testemunham certas renúncias em nome de sua convicção cristã e de uma honestidade humana, sobretudo no campo da sexualidade e dos negócios". Do outro lado, "uma pastoral que procura atingir as massas pela via do testemunho, da presença penetrante, da comunicação de vida, da irradiação pessoal".
De qualquer sorte, a pastoral moderna termina por entrar em crise, em particular nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento nos quais, em proveito de uma pequena camada de privilegiados, as "massas humanas são sugadas através do arrocho salarial, da superexploração da mão-de-obra barata". Era a Igreja, sentindo que o início da urbanização do País fazia diminuir seu prestígio e liderança, enveredando pelo caminho da política, já tantas vezes trilhado no passado, com maior ou menor êxito.
Em Medellín (1958), os bispos latino-americanos dão os primeiros sinais de que percebem tal fenômeno ("um clamor surdo brota de milhões de homens, pedindo a seus pastores uma libertação que não lhes chega de nenhuma parte").
No ano de 1967, "F. Henrique Cardoso e E. Faletto lançam a 'teoria da dependência' para explicar a relação entre o desenvolvimento dos países ricos centrais e o empobrecimento dos países periféricos, o enriquecimento de camadas reduzidas desses países periféricos e o empobrecimento-marginalização de suas grandes massas", dando suporte teórico-científico às decisões de Medellín e depois às de Puebla.
Em Puebla (1968), os bispos latino-americanos afirmam que "o clamor pode ter parecido surdo naquela ocasião. Agora é claro, crescente, impetuoso e, nalguns casos, ameaçador". Era a análise do Evangelho sob o prisma marxista determinando que a pobreza das nações periféricas não era uma etapa casual no seu caminho para o desenvolvimento, "mas sim o produto de determinadas situações e estruturas econômicas, sociais e políticas".
Em 1971, Gustavo Gutiérrez lança o livro "Teologia da Libertação". É o primeiro esforço teórico para dar embasamento à mesma, dentro de uma compreensão da luta de classes no seio da sociedade e recebeu todo o apoio dos órgãos do CMI.
No Brasil, a Teologia da Libertação (enquanto esforço para iluminar a pastoral libertadora) começou a ganhar corpo no início da década de 50 quando, preocupada em levar a Palavra de Deus a grupos sociais que se faziam arredios, a Ação Católica criou movimentos de jovens, dentre eles e especialmente as Juventude Estudantil Católica-JEC, Juventude Universitária Católica-JUC e Juventude Operária Católica-JOC, desde logo infiltrada por elementos de nítida tendência marxista.
Salientou-se, desde logo, a ação levada à cabo no meio estudantil (União Nacional dos Estudantes-UNE, União Estadual dos Estudantes-UEE, etc) e, em 1961, um jucista conquistou a presidência da UNE. Logo os ativistas perceberam que a política estudantil era por demais restrita, embora valiosa linha auxiliar, para permitir-lhes influir na política nacional. Nesse momento, em 1962, sob a inspiração do socialismo humanista de Teilhard de Chardin, Jacques Maritain e outros pensadores franceses, é criada a Ação Popular que logo tomou um caráter marxista e revolucionário, como bem o demonstraram os acontecimentos que estavam por vir. De qualquer forma, embora extinta pela Igreja em fins da década de
O surgimento da pastoral libertadora seria, assim, a soma de três fatores a saber: "a emergência das classes populares, pobres e de fé"; a "elaboração da teoria da dependência" e suas conseqüências no campo político e "a experiência da caminhada da Ação Católica", tudo esquematizado, a partir de 1971, na obra de Gutiérrez "A Teologia da Libertação". Na verdade tratou-se, em última análise, de uma "revolução" no interior da Igreja, quando uma ala embebida dos e nos ensinamentos marxistas da luta de classes enveredou pelo caminho da dissensão em lugar da comunhão entre e com os fiéis, contando com o incentivo e o apoio do Conselho Mundial de Igrejas- CMI.
Em 1964, apenas setores empenhados na marxistização da teologia puseram-se contra a Revolução e estes mesmos não foram capazes de manifestar sua discordância. Somente em 1968, com o surgimento induzido de manifestações estudantis, é que grupos religiosos começam a manifestar-se, sobretudo na cidade de São Paulo, cujo cardeal (os fatos vieram demonstrá-lo depois) possuía estreitas ligações com representantes do CMI. E logo surgiram as Comunidades Eclesiais de Base (CEB's), na maioria das quais o esforço era feito no sentido de despertar a animosidade contra a autoridade constituída.
Em 1972, tomava corpo o Conselho Indigenista Missionário, ao qual não são estranhas as tratativas em curso na ONU para a criação de "nações indígenas" nas reservas as quais, sobretudo em áreas de fronteira, têm uma extensão exagerada e, coincidentemente, localizam-se em áreas privilegiadas economicamente (reservas minerais e ricas em biodiversidade).
Em Jun 75, um Encontro de Bispos da Amazônia faz surgir a Comissão Pastoral da Terra (CPT) cujo fruto mais brilhante é, nos dias de hoje, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), responsável, junto com a inação e em certos casos corrupção e/ou politização dos órgãos responsáveis pelo trato do problema, pelos conflitos fundiários ora em curso em diferentes regiões do País.
A Teologia da Libertação e seu instrumento - a pastoral libertadora - vêm atuando, desde fins da década de 50, em particular junto às populações mais pobres, muito embora também busque infiltrar-se entre os jovens e em certos setores da classe média mais duramente atingidos pelas dificuldades econômicas.
A ação do CMI junto àquelas organizações religiosas engajadas na propagação da Teologia da Libertação, em última análise significando a busca de um socialismo utópico, desenvolve-se de várias maneiras, sendo a principal delas o fornecimento de recursos financeiros, notadamente externos, com vista à mais completa e total subversão da organização social e política do País. Nesse sentido, cumpre salientar o apoio prestado às minorias como as representadas pelos homossexuais, drogados e outras.
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