sábado, agosto 09, 2008

O TRENÓ E A BALADA DE UM SOLDADO

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Coronel-Aviador Luís Mauro

Em 13 de outubro de 2007

Faz muito tempo, assisti a um filme russo, intitulado A Balada de um Soldado. A projeção foi antecedida por um curta-metragem, O Trenó, originário, se não me engano, da antiga Checoslováquia. Eles jamais seriam exibidos nos países da, então ainda existente, União Soviética, uma vez que se destinavam, primariamente, a quebrar a vontade de combater dos povos anticomunistas.

Farei, a seguir, um resumo dos dois, se me não falhar a memória, já tão envelhecida.

O primeiro, sem palavras, começa quando dois meninos, um adolescente e outro ainda muito pequeno, encontram um caixote em meio a uma paisagem gelada e desértica, onde quase nada havia, e o transformam em um trenó. Seguem-se cenas líricas e muito emocionantes das duas crianças que, alegremente, brincavam com, talvez, a única coisa que possuíam.

Em dado momento, passam por uma cabana e percebem que não saía fumaça da chaminé da lareira. Aproximam-se da casa e olham pela janela, por onde vêem uma senhora muito idosa deitada em um catre existente no quarto congelado.

Segue-se uma discussão, percebida apenas por gestos, entre os pequenos protagonistas, e o rapazinho começa a quebrar o trenó, sem esboçar qualquer reação contra o irmão menor, que o agredia violentamente, mas, também, sem interromper o que fazia.

Pouco depois, a velhinha acorda, vê o fogo na lareira, levanta-se e se ajoelha diante do seu pequeno santuário, para agradecer o milagre que acabara de acontecer.

Os nossos heróis observavam tudo. Enquanto o mais novinho, já conformado, ainda exibia os vestígios do choro convulsivo de pouco antes, o mais velho mostrava serenidade, satisfação e saudável orgulho pelo acabara de fazer.

Com rara humildade, permitira, ainda, que o fruto da sua solidariedade, do seu desprendimento, enfim, do seu heroísmo anônimo, fosse creditado, exclusivamente, a Deus, que o colocara ali.

Uma lágrima minou de um de seus olhos e desceu, suavemente, pela face, contracenando com as outras gotas d’água que, ressudadas do gelo que se desfazia, escor­riam, em elegante e sutil balé, pelo vidro levemente embaçado da janela.

E, escondida pelo escuro do cinema, outra lágrima rolou, desta vez pelo rosto do articulista.

O filme principal conta as aventuras e desventuras de um soldado a caminho da sua aldeia natal, em gozo da dispensa que recebera, mercê de sua bravura em combate. Ele pretendia reparar o telhado da casa dos pais, que já estava em mau estado, quando fora convocado e tivera de se afastar.

Durante o caminho, conhece uma moça que fugia dos horrores da guerra e tem, com ela, um romance muito bonito, que surgiu enquanto pegavam carona em trens de carga e enfrentavam, juntos, os mais variados perigos, na área conflitada. Terminou, porém, quando o soldado se recusou a desertar para ficar com ela.

A licença já estava vencida, mas resolveu, ainda assim, seguir o plano original, pois, atrasado que estava, teria de enfrentar as conseqüências disso, de qualquer forma.

Finalmente, chegou à aldeia e a encontrou completamente destruída. No lugar onde antes ficava a sua casa, havia apenas uma grande cratera. Desesperado, procura por vizinhos, que o informam de que seus pais haviam morrido durante um bombardeio.

Infeliz, sozinho no mundo, preocupado com o atraso, resolve retornar para a única coisa que lhe restava, o seu quartel, mesmo sabendo que poderia ser fuzilado, se fosse considerado desertor.

Durante o caminho de volta, confronta-se com um soldado inimigo e o vence em combate corpo-a-corpo. Aponta o fuzil para o peito do adversário caído ao chão, mas, antes de disparar a arma, percebe que não enfrentava um inimigo adulto, senão, estava diante de um menino apavorado.

Depois de um instante de hesitação, sorri com indulgência, baixa a arma, faz um gesto de despedida e retoma o seu caminho.

O garoto tira um pequeno revolver de sua roupa e dá um tiro nas costa do soldado que cai morto ao solo.

Fim. As luzes se acendem, mas nenhum expectador se levanta. O silêncio é enorme. Estão todos arrasados. Os filmes haviam atingido o objetivo, e o pacifismo (*) – pregado pelas nações que mais se armam – havia conquistado novos adeptos entre os brasileiros, já tão pacíficos por natureza.

Quem, porém, conhece, como eu, as crueldades e o maniqueísmo das ideologias sectárias tirou outra conclusão da experiência: não nos devemos, jamais, descuidar diante do inimigo, ainda que este pareça impotente ou, mesmo, morto.

O soldado foi nobre e fez muito bem ao não matar, covardemente, o menino batido, mas errou ao dar-lhe as costas. Teria sido mais prudente, por exemplo, mandá-lo levantar-se e correr, sem olhar para trás, mantendo a arma pronta, até que o pequeno combatente não mais oferecesse perigo.

É, justamente isso, o que deveríamos fazer com a quadrilha de criminosos que assaltou o poder e acomete a Nação todos os dias.

Batê-los, primeiro, usando, para tanto, todas as armas disponíveis e, depois, fazê-los correr sem olhar para trás, até que não mais representem qualquer ameaça.



(*) Pacifismo: Doutrina que prega o desarmamento das nações e a solução dos conflitos internacionais por meio da arbitragem, ou pacificamente, com a proscrição do recurso à guerra (dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa).

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