sábado, agosto 09, 2008

O Fim da Metamorfose

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Por Luís Mauro Ferreira Gomes
Coronel-Aviador Reformado

Em 16 de dezembro de 2007

Temos, ainda, viva, na memória, a decisão imprudente e desastrosa da Oposição de tirar Severino Cavalcante da Presidência da Câmara dos Deputados, sem ter a certeza de poder eleger-lhe o sucessor, o que colocou aquele cargo no colo de Aldo Rebelo, e ajudou a salvar o Governo da crise em que se havia metido, por falta de caráter de seus próprios membros e de filiados aos partidos que o apóiam.

Desta vez, porém, ela agiu com rara competência em todo o processo que culminou na sessão de julgamento da PEC que prorrogaria a CPMF

Diante da derrota iminente, o Presidente ainda “quis salvar o doente na hora do enterro”, como muito bem disse o Professor de Ética e Filosofia da Unicamp, Roberto Romano (O Globo, 14/12/2007, 2ª edição, página 9).

Conforme era de se esperar, fracassou.

– As mentiras do Governo

Incapazes de lidar com a perda, os integrantes do Governo, muitos dos quais foram terrorista armados ou simpatizantes destes no passado, agora, dedicam-se à prática do terrorismo verbal.

Acusam a Oposição de cortar quarenta bilhões de reais do Orçamento da União. Como se poderiam cortar esses recursos, se, simplesmente, não existiam?! Por imperativo constitucional, a CPMF termina no dia 31 de dezembro próximo. Os governistas é que pretendiam modificar a Constituição, para angariar mais fundos. Se contaram, como diz a sabedoria popular, “com o ovo antes de ser posto”, mais uma vez, foram eles os irresponsáveis.

E, ao contrário do que propalam, a destinação do tributo não seria a Saúde ou os programas sociais, senão financiar os seus projetos de perpetuação no poder, por meio de um golpe de Estado pela via da reeleição indefinida.

Somente um ingênuo não perceberia que o desespero com que o Presidente e os seus defenderam a aprovação dessa PEC reside em que a CPMF os ajudaria a tirar o passaporte para o terceiro mandato. Boa parte dos quarenta bilhões (dizem que eram muitos mais) seria desviada para o caixa partidário, e o restante serviria para comprar o voto dos eleitores carentes – por meio de programas assistencialistas – e a consciência de congressistas corruptos – mediante a liberação de emendas parlamentares, a distribuição de cargos, ou mesmo, o pagamento de mensalões. Esse foi sempre o “modus operandi” em situações semelhantes anteriores

Dizem que “a derrota não foi do Governo”, que “a vitória da Oposição foi contra o povo”. A Oposição fez o que deveria. Desde quando rejeitar emenda constitucional lesiva aos interesses da sociedade é derrotar o povo? Somente na visão desse Governo tão incompetente quanto arrogante, maniqueísta, excludente e sectário, que confunde os seus interesses com os dos sofridos brasileiros, cada vez mais, massacrados pelos agentes governamentais.

Também não são os sonegadores os únicos vitoriosos, como gritam as vozes oficiais. Estes sempre estiveram a salvo, desde que fossem partidários do Governo ou contribuíssem com “recursos não-contabilizados” para o caixa dos partidos aliados. Se assim não fosse, os desvios de dinheiro público feitos por intermédio do Banco Rural teriam sido descobertos antes, e não teriam ficado impunes, até agora. A cobrança da CPMF estava em toda a sua plenitude naquela época, e a Delegacia da Receita Federal, como o Presidente da República, nada viu, nada fez.

Outro recurso usado para impor à Nação as medidas de interesse do Governo é a manipulação das pesquisas de opinião. Como elas já estão muito inflacionadas, não seria possível, simplesmente, aumentar os índices de aceitação. Caso o fizessem, a estas alturas, já teriam elevado a aprovação dos eleitores a algumas centenas por cento. Vejamos, então, como é feita a manobra. Quando os estrategistas governamentais prevêem que precisarão alegar o crescimento da popularidade do Presidente, um pouco antes, anunciam pequena queda, para, nas vésperas do momento crítico, retornarem ao patamar anterior. Assim, podem alardear o fato como crescimento, e usá-lo em defesa dos seus objetivos. Foi o que aconteceu agora, mais uma vez. Segundo pesquisa do IBOPE liberada recentemente, em junho, a avaliação do Governo como ótimo ou bom estava em 50%, em setembro, “caiu” para 48% e, agora, em dezembro, “subiu” para 51%. A imprensa divulgou o “crescimento” com grande alarido, e não faltou quem, referindo-se à defesa da prorrogação da CPMF, ridiculamente, perguntasse aos brados: “Como pode estar errado o Presidente, se a sua popularidade não pára de crescer?”. Ora, mesmo que os números fossem verdadeiros, no que não cremos, as variações estão, virtualmente, dentro da faixa de erro da pesquisa, indicando, apenas, estabilidade. Por que será que ninguém diz isso?

Mas a torpeza não termina aí. Cinicamente, procuram intrigar os diversos segmentos da sociedade com a Oposição, a ela transferindo a culpa pelos seus próprios desmandos, incompetências e ações hostis. Mentem descaradamente, espalhando que o corte da CPMF promoverá o caos no sistema de Saúde e impedirá o aumento dos Funcionários Públicos e dos Militares.

Nada mais falso. Nunca houve intenção de investir mais em saúde, caso contrário, mais dinheiro teria sido canalizado para esse setor, durante todos esses anos em que a CPMF esteve disponível, e os poucos recursos orçamentários não teriam sido, sistematicamente, contingenciados, levando o sistema ao estado de inoperância em que se encontra.

Sobre a referência a aumentos salariais dos Funcionários Públicos, trata-se de um grosseiro desrespeito a esses trabalhadores. Aumento, há décadas, essa categoria não recebe. Depois de anos sem qualquer atualização, os reajustes, sempre ridículos e insuficientes para repor as últimas perdas, somente saíram nas proximidades de eleições. Parece que esse Governo deletério já se esqueceu de foi ele mesmo que deu a seus Funcionários 0,01% de reajuste, meramente para cumprir a obrigação formal de fazê-lo (um escárnio imperdoável, que somente poderia vir de quem veio). Mas as vítimas, essas sim, lembram-se disso perfeitamente.

Quanto a nós militares, sabemos, muito bem, quem são os responsáveis por todas as nossas mazelas e quem são os que estão infelicitando a Pátria que juramos defender. É inútil, pois, tentar enganar-nos.

– Como se financia a ditadura lulista

As fontes de financiamento da subversão parecem ser inesgotáveis. A CPMF seria, apenas, uma gota d’água no oceano que abastece o Governo. O golpe de Estado em gestação para perpetuar a ditadura lulista conta, ainda, além do dinheiro público desviado pelos meios tradicionais, com os recursos da DRU, que a Oposição não conseguiu ou não quis estancar, e com a injeção dos petrodólares bolivarianos do caudilho venezuelano, que, cada vez com maior desenvoltura, interfere na nossa política interna, com a cumplicidade do Presidente da República e do Ministério das Relações Exteriores, ademais de vários outros integrantes do Poder Executivo. Se o bom senso prevalecer entre os oposicionistas, eles denunciarão energicamente os avanços chavistas e procurarão derrubar a DRU em segundo turno. É uma questão de sobrevivência.

– Quem ganhou e quem perdeu

Em linhas gerais, foi o Brasil que mais ganhou com o fim da CPMF, e o grande derrotado foi o próprio Presidente Luiz Inácio da Silva.

Mas uma verdade que não se pode negar é que quem também se saiu muito mal de todo esse processo foram alguns políticos que vinham conseguindo enganar os eleitores, apresentando-se como pessoas sérias, confiáveis e de grande respeitabilidade. Uma observação um pouco mais atenta lhes teria, porém, revelado a verdadeira face oculta.

O Senador Pedro Simon, que propôs o adiamento da sessão para que o Governo tivesse mais tempo para cooptar Senadores, apresentava-se tão desconfortável e soava tão artificial, que dava pena, na tentativa de “explicar a inexplicabilidade” da mudança do voto que anunciara publica e ostensivamente, poucos dias antes, para apoiar aqueles que, por duas vezes, o substituíram na Comissão de Justiça, com o fim de alterar a correlação de forças naquele colegiado. Um homem sério não mereceria prestar-se a esse papel. Mas o que esperar de quem elogia Che Guevara e condena uma reportagem em que se criticava o guerrilheiro terrorista?

O Senador Jefferson Péres, que aparentava estar inteiramente perdido e fora da realidade, quando procurava justificar voto favorável à CPMF, sob a alegação de que o Ministro Guido Mantega havia prometido redução gradual da alíquota de 0,38%, a partir de 2008, e adoção de um mecanismo para limitar os gastos correntes do Governo (sem mencionar valores ou dizer que mecanismo). Muito conveniente essa ingenuidade de quem parece não ter percebido que, como a experiência sugere, a palavra do Ministro não vale mais do que um tostão furado. Não é de se estranhar. O Senador já nos tinha dado prova do seu grande mimetismo político em palestra realizada no Clube de Aeronáutica, em 17 de maio deste ano.

O Senador Cristóvão Buarque, outro “ingênuo”, que parecia querer mostrar uma inocência que não tem, ao fingir acreditar, mais uma vez, naquele que o demitiu pelos jornais. Não obstante, ele já apoiara o seu demissor no segundo turno das eleições presidenciais, em troca de “promessas” (também não cumpridas) relacionadas com a Educação, paradoxalmente, mesmo depois das críticas e denúncias arrasadoras que fizera no primeiro turno.

O prefeito José Serra (que, tudo indica, participou do conchavo de que resultou a carta presidencial e a atuação patética do Senador Pedro Simon) e o Governador Aécio Neves, que, juntamente com a Governadora Yeda Crusius, pressionaram os seus Senadores para que traíssem os compromissos assumidos e apoiassem o Governo em troca das promessas de que teriam mais recursos em seus Estados, para embalar os respectivos projetos políticos pessoais, mesmo tendo o seu partido, consoante a vontade da maior parte da sociedade brasileira, fechado questão contra a CPMF. Todavia, parece que os dois primeiros entendem muito bem de traição, pois, durante a última campanha eleitoral, era evidente o desconforto com que, tímida e tardiamente, “apoiaram” o seu correligionário, enquanto o eleitor atento via, claramente, que investiam na reeleição do adversário, cada um pensando, tão somente, em candidatar-se quatro anos depois.

Os grandes vitoriosos desse embate foram, mesmo, os bravos Senadores da Oposição e aqueles que a eles aderiram, assim como os políticos que os apoiaram. Todos resistiram aos mais violentos tipos de pressão, aí incluídas as sistemáticas tentativas de corrupção e de chantagem (para o Governo, negociar é, simplesmente, ameaçar ou comprar políticos), além dos apelos emocionais que sempre acontecem nesses casos. Cometerão o suicídio, contudo, se renunciarem ao aproveitamento do êxito para, timidamente, tratarem de compor-se com o Governo, esquecidos de seus compromissos com os eleitores, para lhe dar, amanhã, o que lhe tiraram ontem, em troca de “seja lá o que for”.

– Benditas bengaladas

Às vésperas do julgamento do então Deputado José Dirceu, o Escritor Yves Hublet (*), encarnando a ira nacional, desferiu-lhe emblemáticas bengaladas. Isso foi suficiente para mudar o ânimo daqueles que fariam o julgamento político, levando à condenação do réu e poupando-nos do espetáculo grotesco em que se transformaram os outros processos.

A sessão que decidiu o destino da CPMF também foi precedida por uma bengalada metafórica de grande valor, a derrota do ditador venezuelano no referendo que convocara para decidir, entre outros absurdos, a sua reeleição ilimitada. Essa vitória mostrou que, mesmo em situações extremamente desfavoráveis, os oposicionistas podem reagir contra as ditaduras que procuram instalar-se em seus países, utilizando-se dos mais variados disfarces de democracia para enganar os tolos.

A oposição de lá reagiu, como pôde, aos avanços totalitários do tiranete local. O passo foi pequeno, mas de extraordinária importância simbólica.

A nossa, sequer, parece ter-se dado conta, claramente, da ditadura que se agiganta e nos sufoca, mas também já ensaiou um passinho, ainda que muito menor.

– O princípio do fim da metamorfose

Em meio a tudo isso, agride-nos todos os dias a caricatura de um Presidente da República que se diz uma metamorfose ambulante. E por que não uma metamorfose volante, já que não sai do Aerolula? Pessoalmente, achamos que metamorfose falante lhe fica melhor, uma vez que Sua Excelência não deixa de dizer bobagens. Mas pouco importa se é ambulante, volante ou falante. O que o Brasil menos precisa neste momento é de uma metamorfose presidencial.

Até quando nós nos sujeitaremos a conviver com essa tragédia evitável?

Apesar da apatia generalizada que tomou conta dos brasileiros, a situação começa a reverter-se.

Dissemos, acima, que dois pequenos passos foram dados, um aqui e outro na Venezuela.

Que tenham sido os primeiros da marcha que varrerá, para sempre, a epidemia de ditaduras de esquerdas do continente sul-americano!




(*) Nota

Yves Hublet escreveu, em comemoração ao centenário do primeiro vôo do 14 Bis, “O Dia em que o Homem Voou”, publicado pela Editora Record, em 4 de abril de 2006. Na primeira parte da obra, o autor, satiriza, por meio de ficção fantástica cheia de fina ironia, a idéia de que os Irmãos Wright foram os primeiros a voar com aeronave mais pesada do que o ar. Em uma segunda parte, fundamenta sua argumentação com pesquisa muito bem documentada e desenvolvida. O articulista recomenda, com empenho, a leitura desse trabalho, que tem a forma de uma fábula infantil, mas que, como O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, agrada ao público de todas as idades.

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