Maceió, AL
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Muito tem sido falado a respeito de um novo Acordo de Bretonwoods como caminho para uma nova ordenação da economia mundial. As desigualdades gritantes que mantêm muitos povos escravizados à ganância do capitalismo selvagem dão razão aos defensores dessa nova ordem. Porém, não adianta falar, gritar, chorar, ranger os dentes em defesa dessa nova ordem se em casa prevalecer a velha ordem econômica míope, corrupta e carcomida. Não apenas essa velha ordem deve ser eliminada; também os corruptos que a alimentam. É preciso restaurar o Estado Nacional, e, para isto, será necessária uma ampla restauração: social, política e econômica. É necessário construir uma nova Sociedade: justa, humana, solidária e igualitária, compreendendo que somos todos seres humanos, cidadãos do mesmo País, cujo esforço não é mais nem menos digno que o dos demais. É preciso um completo reordenamento jurídico do Estado, para que este cumpra seus inalienáveis deveres. No campo econômico está, talvez, a mais pesada tarefa que nos compete realizar. É preciso entender que a democracia formal e corrupta, como temos conhecido, está limitada à democracia política, quando realmente praticada. Entretanto, a democracia não foi concebida para ser apenas política: deve ser social, política e econômica; a democracia real.
“Todos são iguais perante a Lei”, é o que dizem nossos juristas, embora alguns continuem sendo mais iguais que os demais cidadãos. Todos também devem ser iguais perante a Sociedade. E perante a Economia? Pouco adianta ser livre e ter o direito de votar e ser votado se o cidadão tem fome e não tem emprego, vítima de um regime econômico injusto, que contempla os juros altos e a especulação estrangeira, em detrimento da atividade produtiva. Com os juros na estratosfera, as indústrias pagam mais caro pelos recursos financeiros, produzem menos e as vendas do comércio são desaceleradas. É o mesmo regime econômico que só permite reajustes mínimos e vergonhosos para os servidores civis e militares e os trabalhadores, mas esbanja nos aumentos das tarifas públicas, dos bens e serviços e nas convocações milionárias do Congresso Nacional. Não somos obrigados a adotar nenhum modelo inspirado em práticas de outros países. Podemos e devemos construir nosso próprio modelo social, político e econômico. O foco deste nosso artigo é justamente um novo modelo econômico. De início somos favoráveis a uma política de economia dirigida. Não significa uma economia planificada, nos moldes da extinta União Soviética. As empresas eram submetidas a uma verdadeira camisa-de-força, onde tudo era planificado: o que deveriam receber como matéria-prima, o que deveriam fabricar, por quanto deveriam vender, quanto deveriam pagar em salários, com quanto deveriam contribuir para o fundo de acumulação, etc.
A economia dirigida incorpora as empresas (unidades de produção) e os consumidores, sondando e captando as demandas individuais e coletivas emanadas do mercado, a capacidade de cada unidade e a capacidade global nos diversos segmentos, as necessidades nacionais e quais estímulos deverão ser aplicados para que as empresas atinjam as metas nacionais: produtos agrícolas, aço, máquinas, navios, caminhões, automóveis, vestuário, calçado, etc. A economia deverá estar permanentemente mobilizada em função das nossas necessidades, dos nossos objetivos e das nossas metas. O atual Conselho Monetário Nacional será transformado no Conselho Nacional de Economia (CNE), tratando de assuntos como moeda e crédito, circulação, transportes, matéria-prima, consumo, etc. Será o órgão responsável pela orientação e condução da política econômica. O órgão executor deverá ser a Coordenação da Mobilização Econômica, subordinada ao CNE. Estados e municípios manterão representações da Mobilização Econômica. A mobilização deve funcionar de baixo para cima: dos municípios e Estados ao nível federal. As informações captadas pelas bases (municípios) comporão o quadro inicial que irá alimentar os planos estaduais e estes o Plano Nacional. As decisões sempre deverão ser coerentes com as linhas traçadas pelo Conselho Nacional de Economia, que manterá permanente controle sobre o Plano.
O Conselho deverá ser composto pelo Presidente da República, que o presidirá, e pelos ministros de Agricultura, Indústria e Comércio; Fazenda e Planejamento; Infra-Estrutura; Defesa; Presidente do Banco Central; representações patronais de diversos setores da economia, como Confederação Nacional da Indústria; Confederação Nacional do Comércio; Confederação Nacional da Agricultura; Febraban, Fenaseg; Confederação Nacional dos Transportes, etc.; representantes de empregados desses mesmos setores e representantes de outros órgãos públicos, por nomeação pelo Presidente da República, além do pessoal de apoio. De igual modo a Coordenação da Mobilização Econômica deverá contar com representantes dos órgãos públicos e dos diversos setores da economia – empregados e empregadores, contando, ainda, com técnicos e pessoal de apoio para as atividades burocráticas. Já suas representações nos Estados e municípios deverão ser partes integrantes da estrutura oficial, contando com servidores dos respectivos órgãos, embora também possa contar com representantes dos empresários e dos trabalhadores, se for viável em cada caso específico. As funções econômicas e sociais que o Estado deverá assumir e cumprir serão decididos no âmbito do Conselho. O investimento terá um papel estratégico na política de pleno emprego. Sob este prisma, os investimentos públicos serão elementos essenciais da política econômica global, com o objetivo de manter a estabilidade e impulsionar o crescimento da economia nacional.
As necessidades da reconstrução nacional, após os desastres do desgoverno da Social-Demagogia, impõem o cuidado de orientar o investimento na direção da produtividade e do interesse geral. O Estado, cumprindo seus deveres, deverá traçar planos de investimento incorporados ao Plano de Mobilização Econômica. Dentro desses planos, o Estado deverá assumir a responsabilidade de parte desse investimento. Além disso, terá o dever de coordenar os investimentos privados dentro de programas gerais de desenvolvimento a longo prazo. De acordo com essa política, o Estado deverá estender sua proteção aos investimentos privados, quando forem úteis à coletividade nacional e aos interesses de um programa de pleno emprego. Além disto, não podemos deixar que a lei da oferta e da procura seja soberana. Ela pode controlar o mercado, mas não consegue controlar a fome do povo. Soberana deve ser a lei das necessidades nacionais que precisam ser satisfeitas. O Plano de Mobilização Econômica deverá conciliar a descentralização das escolhas individuais (do mercado) e a centralização das decisões globais (do Estado).
Esta conduta é recomendável e justificada pela necessidade de diminuir, se não eliminar, o caráter especulativo do investimento privado, e – repetimos – de orientar o investimento na direção da produtividade e do interesse geral.
1. As unidades de base – municípios – captarão as procuras e ofertas, cujo equilíbrio será considerado de acordo com as necessidades e capacidades técnicas e financeiras das unidades de produção: agricultura, indústria, comércio, serviços, consumo, etc.
2. Os técnicos, em nível estadual, calcularão a procura de bens de consumo e de capital técnico e financeiro em função das tendências verificadas ou das exigências do progresso social e dos objetivos sociais, políticos e econômicos do Estado;
3. Os técnicos,
4. O Plano será inserido na continuidade histórica da vida econômica nacional. Será preciso que os investimentos escolhidos (privados e públicos) e estimulados (investimentos privados) sejam compatíveis com a linha de futuro que orientou a sua escolha. Balanços periódicos procederão à revisão e reavaliação das exigências para o presente e
o futuro do Plano.
O Plano representará a articulação entre o centro e a periferia, ou entre o Estado e o mercado, ou, ainda, entre a Mobilização Econômica e as empresas/consumidores. Caberá ao Conselho e à Mobilização Econômica manter o controle e proceder aos ajustes necessários através de revisões sucessivas dos preços, quantidades de bens produzidos, meios de produção disponíveis, capacidade de produção e necessidades a serem satisfeitas. Os desvios serão analisados e definidas quais formas de intervenção e quais tipos de incentivos serão necessários para que sejam atingidas as metas de produção e atendidos os objetivos sociais, políticos e econômicos do Estado. Os investimentos devem ser orientados em função da política econômica. Essa orientação dependerá dos objetivos políticos, econômicos e sociais do Estado. O Conselho fixará a ordem de prioridade e urgência que os investimentos deverão satisfazer. Em dado momento a prioridade poderá ser a construção civil, ou a indústria de alimentos, ou a indústria pesada, ou outro setor.
A agricultura sempre deverá ser uma das prioridades. Poderá ser adotado o conceito da eficácia relativa na determinação das alternativas mais vantajosas. Investimentos no setor produtivo podem ser medidos por critérios econômicos: economia de trabalho, progresso técnico, a duração do período de construção, etc.; ou critérios políticos e sociais: uma alternativa menos eficiente poderá ser mais vantajosa se a perda for mínima em relação aos benefícios sociais ou políticos, como o pleno emprego da força de trabalho. Pode ser o caso de uma ferrovia, por exemplo. No caso de investimentos no setor não-produtivo, como habitação, escolas, hospitais, o critério determinante deverá ser
a satisfação das necessidades e dos objetivos nacionais.
As ações deverão ser coerentes com os objetivos e as prioridades expressas no plano econômico. A forma associativista na agricultura e pesca, com a participação e o estímulo do Estado, como já foi praticada
A atividade produtiva é muito importante para a restauração da ordem, não podendo permanecer dispersa por vários ministérios. É imperativo unificar as ações, promovendo a fusão das atividades do Ministério da Agricultura, de Indústria e Comércio e Desenvolvimento Econômico. Surgirá, assim, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, ou um novo Ministério do Desenvolvimento Econômico (unificado). Na estrutura serão criadas as secretarias de Agricultura e a de Indústria e Comércio, às quais caberão as atividades hoje dispersas. Os assuntos ligados à agricultura, como fomento agrícola, pecuária, reforma agrária, irrigação, etc., serão coordenados, implementados e fiscalizados pela Secretaria Nacional de Agricultura; os assuntos ligados à indústria e comércio, pela respectiva secretaria. De igual modo será preciso fundir os Ministérios da Fazenda com o do Planejamento, unificando as ações. Outros ministérios afins, como Minas e Energia, Comunicações, Transportes, etc., deverão formar o Ministério da Infra-Estrutura, ou Ministério de Obras Públicas. Tudo isto significará uma estrutura mais enxuta, eliminando gargalos e desperdícios e melhorando a eficiência.
Para atacar os problemas com visão e conhecimento de causa, será recomendável que os ministros sejam profissionais de reconhecida idoneidade técnica e moral, competentes em suas áreas e, não estejam incursionando nas áreas alheias, como um médico na economia ou um economista na saúde. Será preciso apoiar e fortalecer o Mercosul, engendrando todos os esforços no sentido de ampliar sua área, trazendo para o bloco todos os países da América do Sul. Melhor será se conseguirmos incorporar também os países da América Central e Caribe. Aí estarão as bases para a formação de um sólido bloco econômico, depois também político e militar, única linguagem que os imperialistas entendem e respeitam. O governo precisa agir com cautela, mas também com autoridade e com realismo.
As negociações
defesa do Mercosul.
O Brasil tem visto vários planos econômicos e programas diversos que nunca resolveram nossos principais problemas. Hoje se fala muito
É preciso trabalhar e prover nossas necessidades com nossos próprios recursos, sem recorrer à tutela do FMI, que é testa-de-ferro dos interesses de Wall Street e do Departamento de Estado. Não há no mundo um país que tenha recorrido ao FMI e não tenha mergulhado em grave recessão, forçado a adotar uma política econômica ditada por Washington, segundo os interesses... de Washington. É prioritário reconstruir nossa economia segundo um modelo que atenda nossos interesses. É preciso mobilizar nossa economia, orientando e coordenando os investimentos produtivos públicos e privados, de modo a dinamizar e expandir a atividade econômica, gerar empregos e, em conseqüência, eliminar o desemprego de uma vez por todas. Enquanto os governantes não se fixarem nesta linha de ação, continuaremos a manter dois “Brasis”: O Brasil dos que comem e o Brasil dos que passam fome. Quando a fome chegar a um nível insuportável, o segundo poderá comer o primeiro. E o Brasil se transformará em uma grande fogueira. Foi assim na Rússia. Aliás, as fileiras dos precursores dessa fogueira há muito estão em marcha, bloqueando estradas e ocupando prédios públicos. Os sinais são visíveis. Não vê quem não quer. E o pior cego é aquele que não quer ver.
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