quinta-feira, agosto 14, 2008

Só falta a Raposa

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Cel Cav Ramires

Prezados amigos,

Nós, brasileiros, não temos o direito de ignorar o que está acontecendo em Roraima. As críticas feitas ao Gen Heleno por algumas pessoas esconde o real significado do momento vivido pelo país em Roraima. O ilustre chefe apenas demonstrou de maneira enfática a indignação que toma conta do país pela sucessão de ações de lesa-pátria que adquiriram um contorno insustentável para quem tem um mínimo de amor pelo Brasil.

Não é necessário ser entendido em relações internacionais ou geopolítica para compreender a situação da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Não vamos levar em consideração os interesses escusos que envolvem o assunto. Para informar à população menos esclarecida basta nos valermos de um exemplo comezinho, a exemplo do que determinados políticos se utilizam, só de que de forma deturpada, para de maneira populista e irresponsável ludibriar o povo.

Aproveitando o sugestivo nome da Reserva Indígena, para comprovar que não é necessário ser especialista para entender o caso tomemos o exemplo da criação de galinhas, o que qualquer pessoa poderá fazer, pelo menos extensivamente, sem necessitar de muita tecnologia.

O meu vizinho tem um galinheiro (reserva indígena) no seu terreno lindeiro ao meu. Consideremos que nossos terrenos não tem cerca (fronteira aberta), portanto suas galinhas e galos podem transitar de um lado para outro se nenhum de nós colocarmos cerca ou alguém para cuidar (segurança, que pode ser qualquer instituição do Estado – Polícia Federal, Forças Armadas, etc). Acontece que eu também tenho galinhas e resolvo reuni-las na porção do meu terreno que faz fronteira com esse vizinho (no caso específico, a reserva faz fronteira com a Venezuela e com a Guiana) e não deixo nenhum espaço para separar da criação do(s) vizinho(s), ou mesmo para que meus vigias (órgãos de segurança) possam mantê-las em seus respectivos territórios.

Como as galinhas tem liberdade para transitar de um lado para outro (posse e controle autônomo dos territórios ocupados pelos índios), liberdade esta consentida por mim e pelo(s) vizinho(s), conforme assinado em acordo em uma reunião da comunidade (Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas na ONU) por certo haverá o dia em que o galo de um e as galinhas do outro ultrapassarão seus limites misturar-se-ão, acasalarão e porão ovos dos quais nascerão pintos que deverão querer morar em um ou outro terreno. Eu e meu(s) vizinho(s) que poderemos ter tido ou não escaramuças anteriores acerca de limites teremos que decidir com quem ficarão os pintos. Se tivermos desentendimentos anteriores esta situação poderá ressuscitá-los. E se não os tivermos, dificilmente deixaremos de ter, afinal, além dos pintos um dos litigantes poderá abarcar parte do terreno do outro e agregar para si outros bens (além do acréscimo do território, madeira, recursos minerais, água, etc).

É muito provável que, nessa disputa, não nos entendamos e tenhamos que recorrer a uma terceira pessoa ou órgão da justiça (laudo arbitral de outro país, cortes internacionais – ONU, OEA, etc) para decidir que tem razão. Até aí eu já tive um prejuízo, haja vista que a situação estava tranqüila entre os vizinhos até que por minha iniciativa foi criado o galinheiro. Mas não deve ficar só nisso, uma vez que diversas pessoas (autoridades internacionais), de fora do bairro (nações do primeiro mundo) já andaram dizendo que o meu terreno poderia ser compartilhado com outras pessoas, não necessariamente do bairro (ou seja, com a humanidade em geral), tendo em vista que eu supostamente não estaria cuidando bem da área, que a fumaça saída do meu terreno os está prejudicando, que eu não cuido adequadamente das galinhas, etc, embora todos saibam que estes mesmos acusadores já acabaram com a quase totalidade de sua vegetação e exterminaram totalmente as suas galinhas. Ou seja, o problema que eu mesmo criei tende a agravar-se cada vez mais. E eu ainda tenho alguns filhos (os próprios brasileros – a falta do "i" é proposital) que acham que tais pessoas estão certas.

É bem verdade que esses "filhos" não conhecem o terreno, ou pelo menos aquele lugar onde foram colocadas as galinhas e se eu os chamar para ir até lá cuidar da criação eles dirão que tem outros afazeres (quais as instituições com responsabilidade no Programa Calha Norte que estão presentes na área?) e que não há porque temer a perda do terreno (acho que eles – pelo menos os que foram à escola – não entenderam bem as aulas de História da Humanidade naquela parte que explica como foram criados os grandes impérios e não ouviram o professor recitar que entre nações não existe amizade, mas interesses). Há um até – justamente aquele que eu designei para cuidar das galinhas – que disse que a situação das aves melhorou muito, pois desde a criação do galinheiro o número delas multiplicou-se inúmeras vezes (O presidente da Funai lembrou que, na década de 70, o país tinha 250 mil índios e hoje tem quase um milhão).

Por certo ele não percebeu a que custo foi essa multiplicação. Não viu que por não ter sido dada a devida atenção aos animais, estes tiveram que, para sobreviver, alimentar-se do que estava espalhado pelo terreno (devastando as matas, retirando recursos naturais, vendendo animais e plantas silvestres) ou permutando o que há na região com estranhos que sem autorização ou controle aparecem no galinheiro (entrada de terceiros – ONGs, "biólogos", "cientistas" a serviço de quem não se sabe – para, em troca de alguma necessidade não atendida pelo Estado brasileiro, "estudar" o território). Filhos ingratos. Não sabe o quão penoso foi adquirir e manter, até aqui, o terreno que possuímos.

Voltando ao litígio do terreno, quem poderá impedir que eu permaneça com a sua posse? Ah sim, há uma esperança. Entre os filhos há um ao qual está atribuída a função de julgar a minha decisão sobre a área onde foi estabelecido o galinheiro (O STF deverá julgar em breve se houve irregularidade na demarcação da área da Reserva Raposa Serra do Sol. A homologação da área contrariou frontalmente todos os estudos e relatórios promovidos pelo Congresso Nacional e, em especial, o da Comissão Externa cujo relator foi extremamente coerente e objetivo nas conclusões que apresentou), haja vista que área muito extensa e não há tantas galinhas assim para ocupá-la, portanto, é possível deixar entre ela e o terreno vizinho, uma faixa que permita o meu controle sobre as aves (A reserva, destinada a cerca de 20 mil índios, é um pouco menor do que o Estado de Santa Catarina ou de um país como Portugal onde vivem perto de 6 e 11 milhões de pessoas, respectivamente).

Cabe uma reflexão de todos nós brasileiros (estes sim com "ï") sobre a situação e manifestarmos a indignação, repassando-a a cada amigo, vizinho, etc e fazê-la chegar a quem de direito para que evitemos contornos indesejáveis para nós mesmos. Esta é a minha parte. Concito-o a fazer o mesmo. Vamos demonstrar nosso amor por esse país com muito mais intensidade do que o fazemos quando das disputas esportivas.

Ia terminando sem me reportar à raposa. Todos sabemos que galinha e raposa não são exatamente amigos, assim como sabemos que os bichanos estão sempre rondando os galinheiros (vejam a distribuição de tropas das nações do primeiro mundo fazendo treinamentos e/ou adestrando militares de países vizinhos). Por mais que as raposas não estejam com fome e não queiram comer as aves (o instinto devorador dificilmente deixará de existir), se encontrarem o galinheiro escancarado, sentir-se-ão quase que obrigadas a invadi-lo. O galinheiro já está aberto. Só faltam as raposas. Será? E olha que eu nem falei do furto dos ovos que acontecem diariamente e nós nem percebemos. Embora Deus seja brasileiro, vamos dar uma força antes que ele desista de nós. Não vamos acreditar na piada que diz que Ele nos deu uma natureza maravilhosa, mas colocou aqui um povinho "daqueles".

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