domingo, agosto 10, 2008

Imperialistas

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Correio Braziliense, 08 Abr

Jarbas Passarinho

Foi governador, ministro de Estado e senador

Nos Estados Unidos, a nova geração é historicamente revisionista. Compreendem-se as críticas às guerras contra o Vietnã e o Iraque. No primeiro, porque, após o fim da Segunda Guerra Mundial e o tempo que durou a Guerra Fria, as perdas de vidas humanas comprometeram a estratégia de adotar a fronteira ideológica, em vez da geográfica, e em Bagdá por julgar Saddam Hussein portador de armas de destruição em massa, além de envolvimento com o terrorismo da Al-Qaeda.

No caso das fronteiras ideológicas, a política externa americana visava a tentar impedir o crescimento da expansão do comunismo no mundo. Por isso, as guerras da Coréia e Vietnã, a despeito de estarem geograficamente a milhares de quilômetros dos lindes americanos. Preponderou o medo do efeito dominó, segundo o qual se o Vietnã caísse levaria de roldão o Camboja, a Tailândia e todo o sudeste da Ásia. Os Estados Unidos passaram a ser chamados de polícia do mundo e, inevitavelmente, formaram um império pelo que estão pagando alto preço.

Mas o Brasil nunca aspirou a ter política hegemônica. A projeção do Brasil no âmbito da América do Sul é a conseqüência natural da sua superfície e do seu PIB. Nada tem com a teoria de Gramsci, que está em moda citar, como estratégia de domínio a partir da hegemonia. Logo, não cabe a motivação hostil que leva alguns de nossos vizinhos a nos atribuir ações imperialistas.

O Brasil disso está sendo injustamente acusado pelos vizinhos esquerdistas companheiros de Lula de 1990, do Fórum Socialista de São Paulo. O guru de Hugo Chávez, o general Alberto Muller Rojas, que lhe ensinou geopolítica na Escola Militar, descobriu que somos imperialistas “desde o Tratado de Tordesilhas de 1494” . É tão bom professor que desconhece resultarem nossas fronteiras de arbitragens e não de guerras de conquista. A única que travamos foi para nos defender de um megalômano.

Supostos historiadores revisionistas, muito piedosos, que nos acusam de ter esmagado o Paraguai e quase exterminado sua população, admitem justa, sob a influência da ideologia, a necessidade de rever acordos econômicos contemporâneos, ditos espoliativos, que assinamos com países mais fracos. Quanto à guerra de cinco anos, Solano Lopez tinha um exército de 80 mil homens e nós apenas 16 mil dispersos em todo o Império. De início levou a melhor, dada a superior correlação de forças. Ocupou Uruguaiana, que só foi reconquistada quase um ano depois, e Mato Grosso, até Corumbá, retomado ao fim da guerra que, de fato, rarefez a população masculina. Mas não responsabilizam Solano Lopez por isso. Impávido, jamais admitiu a rendição, mesmo quando seu exército estava reduzido a cerca de 400 homens, contando adolescentes e crianças, que nos combatiam com galhardia, sacrificando corajosamente a própria vida.

A revisão dos acordos celebrados com o governo da Bolívia para fornecimento de gás e o de energia elétrica de Itaipu, com o Paraguai, são uma deselegância se não um insulto ao nosso passado próximo, como se fossem impostos pelo Brasil, em detrimento dos interesses não defendidos pelos mais fracos, no estilo dos imperialistas, implicitamente confessado nas palavras de nosso presidente: “É preciso ajudar os mais pobres”. Evo Morales já conseguiu rever, a despeito de altamente favorável à Bolívia, o contrato com a Petrobras.

O Brasil concordou em pagar preço maior pelo gás. Construímos o gasoduto, financiamos a pesquisa de novos poços e pela leonina cláusula do take or pay. Em 1993, só consumíamos 10 milhões de metros cúbicos de gás, mas pagamos pelos 30 milhões contratados. Agora, não tendo os 30 milhões que já consome nossa indústria, a Bolívia, que fez outros contratos, inclusive com a Argentina, não tem como honrá-los, já que prometeu vender o que não tem. Então, pediu ao Brasil que diminuísse dos 30 milhões a quantidade de gás necessária à Argentina, que enfrenta uma crise energética, o que foi negado.

Como chamar de imperialista uma negociação dessa natureza? Mas Evo já tinha uma vitória anterior: expropriou, militarmente, duas refinarias brasileiras. Fez doutrina. O candidato favorito à presidência do Paraguai nele inspirou-se para tentar forçar o Brasil a rever o contrato que temos com o Paraguai, reclamando aumento do preço da energia gerada em Itaipu. O senhor Lugo, que trocou as vestes clericais de bispo católico pela política, veio ao Brasil para gerar efeito eleitoral. Disse levar a “promessa de Lula a formar uma mesa de técnicos para analisar o contrato de Itaipu”. Do êxito de Evo Morales, disse, antes, aos eleitores: “Se Evo conseguiu vencer o enfrentamento com o Brasil, por que não nós?” Voltou ex-bispo e bom latinista repetindo César: “Veni, vidi, vice”. A “bolsa ditadura” da cientista política Lúcia Hipólito é internacional.

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