domingo, agosto 10, 2008

"O Brasil me deve", disse Ziraldo ao receber a bolsa-ditadura. Não te devo nada, cara.

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NEIL eu vaio lulla FERREIRA

neilferrei@gmail.com

Deve ser outra piada do Ziraldo, humorista de ex-querda, que acabou de receber com um colega de piadas, Jaguar, milionária quantia como seu quinhão do butim por supostos problemas que teria enfrentado durante a ditadura militar.

Não discuto se Ziraldo e Jaguar têm ou não talento nas artes e ofícios

a que dedicaram suas vidas.

Devem ter, são cheios de fãs e amigos sinceros.

Do Ziraldo, lembro do "Menino Maluquinho", mega sucesso que presencia seu criador se transformar agora no "Velhinho Picaretinha".

E da revista "Bundas", mega fracasso, não sei quanto tempo durou, não vendeu um único anúncio e nenhuma assinatura no seu tempo de vida. Fechou por não aguentar o desprezo dos leitores, punida que foi por vendas magérrimas, anoréxicas, nas bancas, bem feito, era uma porcaria de revista.

Do Jaguar, lembro as incontáveis listas de "Melhores Botecos" e a frase da tira "Chopnics", "Intelectual não vai à praia, intelectual bebe", definindo a intelligentzia ipanamenha (de Ipanema, Rio) dos anos 60.

O ratinho Sig, seu personagem em homenagem a Sigmund Freud, nunca fez a minha cabeça, embora adorado por 11 entre 9 dos mais minúsculos biquinis e pelos mais cabeludos sovacos, braços (pelinhos descorados), púbis (pelinhos desgrenhados) e coxas (pelinhos descorados) da praia.

Depilação não era o forte das meninas moderninhas daquele tempo. Claudia Ohana ficou mais famosa como "Florestinha Amazônica", por óbvios motivos, do que como qualquer outra coisa. Conservacionistas, preservavam e orgulhosas exibiam suas matas, que eram tudo menos virgens, benza-as todas meu Deus.

Juntos, integraram a equipe de talentos que fundou o "Pasquim", um jornal nanico que chacoalhou a cara da grande imprensa e da ditadura militar, hoje pelo que os dois falam parece que fizeram tudo sózinhos.

Que mané sózinhos nada. Para começar tinha Millôr, uma das mais influentes e brilhantes inteligências do jornalismo brasileiro até hoje. Tinha Ivan Lessa, Paulo Francis, Sérgio Augusto jorrando inteligência, deboche, ironia, informações, veneno, verdades e mentiras com a mesma cara de pau, misto de coragem e covardia, de elegância e grossura nos textos, enterrando o políticamente correto antes mesmo que tivesse nascido.

Era versão em carioquês do Village Voice, o melhor jornal cult do mundo na minha geração.

Na redação, uma brancaleônica armada de tietes/colaboradores(as). Eles, os que assinavam as matérias, imortalizavam-se e dali para a frente tinham licença para comer todas.

Elas, as que assinavam "pela transcrição, fulaninha", ou tinham dado ou iam dar logo-logo para algum cartola da redação. Passavam a saltitar pelo mundo com suas sainhas dois palmos acima dos joelhos, se levantassem os dois braços ao mesmo tempo resfriariam as belas bundinhas. Hoje domesticadas e aposentadas leoas avoengas, queria ver suas caras ao reverem suas fotos e o quê escreviam, usando um arsenal de palavrões como cerejas dos bolos que assavam, aquelas gatas brabas e tigresas então indomáveis.

O "Pasquim" atingiu o público jovem nos corações, nas mentes e na lingua despudorada que falava.

A molecada nas esquinas falava o que o jornaleco escrevia e o jornaleco imprimia as palavras faladas nas esquinas pela molecada. Interação nunca antes vista nesse país.

Havia um motor por trás, um cérebro que não passou para a história por nenhum texto brilhante que escreveu, mas pelos porres que tomou, testemunhei alguns, monumentais. Tarso de Castro, jornalista gaúcho, que bebeu o estoque inteiro de vodka de Ipanema e mais a grana de todas as edições do "Pasquim", que fechou com o caixa vazio. Jovem, morreu disso, irônicamente, internado num hospital a espera de um transplante do fígado, destruído pela biritagem de alta octanagem.

Como leitor assíduo e 40 anos mais jovem do que hoje, eu achava que o que incomodava a milicagem não era a ideologia do "Pasquim". Se a tinha, era pouca e de ex-querda, portanto confusa, chata e dificil de engolir. A ex-querda nunca teve texto decente nem humor que não quisesse fazer proselitismo e te cooptar. A ex-querda tem aquele viés gay de afirmar que "você é um de nós, um dia descobre e sai do armário". Conheço cristãos e evangélicos que também são mais ou menos assim.

A milicagem morria de medo dos sentimentos de liberdade, independência e deboche completamente anárquicos que edição após edição o "Pasquim" inoculava na molecada. Se alguém sobrevivesse à leitura do primeiro exemplar e passasse para o segundo, já tinha recebido a droga direto na veia e estava viciado. Morria um “sim papai, sim mamãe" e nascia um militante do caos.

Seria de ex-querda? Duvido, a ex-querda era muito careta, muito "papai-mamãe" para o que eles passavam a demandar, de um tapa na maria joana em público nas ruas, a porres consentidos nos botecos, sexo casual nas praias, nos banheiros dos cinemas em qualquer sessão, nos esconsos dos inferninhos da moda.

"Eu acho é pouco, eu quero é mais" estava escrito na parede de famoso banheiro feminino que vivia com fila na porta e ninguém ia lá fazer xixi. "Sex, drugs and rock´n´roll". "Live fast, die young, leave a good looking corpses". Ipanema vivia em inglês, o "Pasquim" espelhava e espalhava Ipanema.

Decadência? Não sei. Os atores principais dessa comédia achavam o máximo, achavam que estavam revolucionando o país, talvez estivessem. Testemunhavam e participavam de uma radical mudança de costumes. O Rio era a Meca de qualquer jovem crasse mérdia de qualquer parte do país e Ipanema era o Paraíso Prometido, com uma enorme vantagem sobre o Paraíso que Alá promete aos jovens mártires meninos-bombas, as 70 virgens. Os meninos-bombas, depois de estraçalhados, ainda têm que "preparar" as 70 de Alá para usufruí-las. Virgens, são pouca-prática. Os meninos-bombas que buscavam Ipanema dispostos a estraçalhar os valores ultrapassados da sua classe, a crasse-merdia, recebiam de prêmio 70 mil e não apenas 70, que já vinham prontinhas, era só agitar e usar.

No aceso dessa ferveção, a redação do "Pasquim" foi invadida pela milicagem e uma boa meia dúzia foi encanada, Ziraldo e Jaguar inclusive. O jornaleco, sob censura, não deixou de circular, a inteligência enganando e ridicularizando os censores que, quando percebiam a tramóia, a edição já estava impressa, distribuída, vendida e nas mãos dos leitores, que faziam rodinhas nas esquinas às gargalhadas.

Ex-querda? Fala sério, você já viu algum inteleca marxista ou ex-querdista rir de alguma coisa? Pois são os imperadores do mau humor, como rir num mundo que sofre tanto? Stalin, Hitler, Mao, Pol Pot, tchávez, fidel, nunca foram flagrados rindo, lulla ri sim mas quem disse que lulla é ex-querda? Como dirceu, é um neo-milionário.

Nesse episódio, Ziraldo e Jaguar e demais heróis anônimos puxaram 5 dias de cana e a redação reclamou por escrito da tortura a que foram submetidos ininterruptamente. A milicagem embora tivesse permitido quentinhas vindas do Antonio´s, proibiu terminantemente o ingresso de uísque, o que forçou as vítimas a confessarem tudo na 3ª. hora do primeiro dia.

Ziraldo e Jaguar receberam mais de Um Milhão de Pilas por 5 dias de cana sem uísque, o que dá a bagatela de mais de Duzentas Mil Pratas por dia, mais pensão vitalícia de mais de Quatro Mil Catataus por mês até o fim dos seus dias nesta Terra de todos somos lullas.

Ao receber a sentença, Ziraldo rosnou "O Brasil me deve" e latiu "Quem não gostar que se lixe". Imagine, desfrutou o apogeu do maior farrão de todos os tempos e ainda vai receber. Pois devia era pagar.

Eu, que suo para pagar os impostos, de onde sairá a grana para as doses extras de uísque, não gosto e me lixo sim.

Circula um duro abaixo assinado de protesto contra mais este tapa na cara do otariado nacional, hoje com mais de 1.600 assinaturas, a minha é a 813, ao lado escrevi:

"Ziraldo nunca me enganou, Jaguar já".

P.S.:

Entre 1968 e 1980 passei umas 4 vezes na calçada da Rua Titóia, em frente à sede da OBAN, Operação Bandeirantes, onde uzômi depositavam os suspeitos de sempre, local apelidado de "Titóia Hilton". Meu advogado disse que se eu contratar o dr. Greenhalgh posso esperar uma indenização de uns 400 mil pelo risco que corri de ser preso, levando em conta que ele cobra 15%, o que é tabela da OAB, mas garante ganhar a causa, sabe o caminho das pedras e do cofre. O caminho das pedras é o conhecimento dele da Lei da Anistia e da cumpanherada que a aplica, o do cofre eu sei, 10% para o pt.

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