sábado, agosto 09, 2008

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VEJA: Antes Tarde do que nunca!

Internacional
À sombra de El Supremo

Com a reforma constitucional aprovada na semana passada,
Hugo Chávez consolida seu regime autoritário e personalista
na Venezuela. Em Caracas, VEJA ouviu a história de dez
venezuelanos que tiveram a vida transformada pela
ditadura do "socialismo do século XXI"


Diogo Schelp, de Caracas

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Em profundidade: Os populistas da América Latina

Para quem não tem a memória pessoal de ter vivido sob uma ditadura, ouvir depoimentos de venezuelanos é uma experiência educativa – e sufocante. O regime que o presidente Hugo Chávez está construindo na Venezuela não apenas é autoritário como se propõe a criar uma nação à imagem e semelhança de seu governante. Nesse ponto, distante de ser a promessa de novidades "século XXI", como proclama, Chávez é fiel à tradição caudilhesca do continente. O estilo centralizador, a intolerância em relação a opiniões divergentes e, sobretudo, o modo como tenta transformar as instituições públicas em um apêndice de sua vontade e idiossincrasias parecem saídos das páginas de Eu O Supremo, a obra magistral do paraguaio Augusto Roa Bastos. O personagem do título é José Gaspar Rodríguez de Francia, "ditador perpétuo" do Paraguai no século XIX e protótipo do perfeito déspota sul-americano.

Nas páginas seguintes estão as histórias de dez venezuelanos cuja vida foi transformada pelo chavismo. Elas comprovam que é impossível ficar imune a um regime como o de Chávez, um prepotente disposto a impor a sua visão de mundo a qualquer custo. Mesmo quem aufere os benefícios da adesão ao ditador torna-se prisioneiro de um esquema que exige submissão absoluta e provas freqüentes de fidelidade. Sobre os que discordam do governo, recai o peso do poder do aparato oficial, que corta o crédito dos empresários, proíbe os órgãos públicos de contratar oposicionistas e pressiona a iniciativa privada a fazer o mesmo, e chega ao extremo de, à moda soviética, punir os filhos pelas posições políticas dos pais. A sufocante atmosfera política ganhou novas nuvens negras na semana passada, quando a Assembléia Nacional terminou de referendar um por um os artigos da proposta de reforma constitucional apresentada pelo presidente. Não foi uma empreitada difícil, pois todos os deputados são chavistas (a oposição boicotou a eleição parlamentar de 2005). Apenas uma meia dúzia se absteve por razões de consciência (veja entrevista).

A nova Constituição, que teve 20% de seus artigos alterados, dá sustentação legal às medidas autoritárias que Chávez vem colocando em prática desde que foi eleito pela primeira vez, em 1998. A centralização do poder nas mãos do presidente, a militarização do país e o desrespeito ao direito de propriedade não são novidades no governo do coronel. Agora, no entanto, foram institucionalizados na Carta Magna da Venezuela. Com um bônus: o mandato presidencial passa de seis para sete anos e pode ser renovado por tempo indeterminado nas urnas. Ou seja, Chávez pode agora aspirar à Presidência vitalícia. A Constituição será submetida à aprovação popular daqui a um mês. O processo é assim, acelerado, porque na Venezuela a Justiça Eleitoral está sob controle de funcionários leais a Chávez. No último referendo, esses quadros fiéis ao regime quebraram o sigilo do voto e permitiram que as informações fossem usadas pelo governo para punir os cidadãos que se opuseram ao presidente.

Para os venezuelanos, a confirmação da nova Constituição significará viver à sombra de um regime autoritário por um período cujas dimensões exatas talvez só possam ser traçadas pelo preço do petróleo. A exportação desse produto, cuja renda é controlada pessoalmente por Chávez, fornece os recursos que permitem ao governo comprar o apoio popular por meio de projetos assistencialistas. Nesse aspecto, o presidente venezuelano tem uma sorte do tamanho das reservas de seu país, que ocupam a sexta posição entre as maiores do planeta. O valor do barril ultrapassou nas últimas semanas a barreira dos 88 dólares, e a perspectiva é que chegue aos 100 dólares em breve. Quando Chávez foi eleito pela primeira vez, o barril valia apenas 10 dólares. A ascensão dos preços petrolíferos definiu desde o princípio o governo do coronel.

Nos últimos oito anos, seu governo passou por três fases. Na primeira, um ano depois de eleito, quando o preço do petróleo andava baixo, ele tratou de aprovar uma nova Constituição, escrita por ele próprio, que lhe permitiu colonizar com aliados a Suprema Corte, removendo esse obstáculo à sua pretensão de governar acima das instituições e da lei. O início da escalada no preço do petróleo permitiu a segunda fase, caracterizada pela invenção da "revolução bolivariana". Até hoje mal definida ideologicamente, essa expressão se traduziu na prática pela expansão do clientelismo político. Chávez criou as misiones, programas assistencialistas que estabeleceram uma dependência concreta entre a população pobre e a figura onipresente do pai da pátria. As misiones, que incluem desde cooperativas até a alfabetização de adultos, são vinculadas diretamente a Chávez e consistem basicamente em uma fórmula para distribuir pequenas quantias de dinheiro aos participantes. Para sustentar esses programas, o presidente apropria-se das reservas internacionais do país e de um fundo formado por parte do lucro da PDVSA, a estatal do petróleo. Essa despesa não necessita da aprovação da Assembléia Nacional.

A terceira fase do governo chavista começou dois anos atrás, com o anúncio de que seu objetivo era a construção do "socialismo do século XXI". O elemento ideológico mais evidente desse conceito é o desejo de Chávez de concentrar o poder em suas mãos pelo maior tempo possível. Um mito proclamado pelos chavistas é o de que o discurso "bolivarista" do presidente tem o apoio da maioria dos venezuelanos. Uma pesquisa de opinião pública feita pela Universidade Central da Venezuela (UCV), em Caracas, mostra uma realidade mais crua. A identificação com Chávez de grande parcela dos venezuelanos, sobretudo os mais pobres, é pessoal e destacada de sua retórica ideológica. Os venezuelanos gostam de Chávez por três motivos. Primeiro, porque ele se parece com as pessoas do "povo", por ser mestiço. Segundo, porque acreditam que ele dá voz aos pobres. Terceiro, porque vêem nele os valores morais, familiares e religiosos que mais prezam. "Os mesmos cidadãos que se identificam com Chávez discordam dos ataques do presidente à propriedade privada, não gostam da militarização do país e sentem calafrios só de pensar em ver a Venezuela repetir a experiência cubana", diz o sociólogo Amalio Belmonte, um dos autores do estudo.

Essa dissociação entre a figura do presidente e suas políticas é própria de ditaduras personalistas, que têm no argentino Juan Domingo Perón, no mexicano Antonio López de Santa Anna e no paraguaio Francia alguns de seus expoentes históricos. Um regime personalista, diz o sociólogo venezuelano Trino Márquez, costuma caracterizar-se por quatro princípios. O primeiro é a idéia de que o governante é o único capaz de liderar a nação para um futuro melhor. A noção de que o ditador é insubstituível é perniciosa porque o leva a acreditar que pode fazer qualquer coisa. No mês passado, Chávez mandou cancelar uma apresentação do cantor espanhol Alejandro Sanz em um teatro público de Caracas apenas porque o músico havia criticado seu governo. O segundo princípio do personalismo é que, independentemente de haver ou não respaldo popular para o regime, o governante necessita cimentar sua força política no controle das Forças Armadas ou de milícias de civis armados. Chávez tem os dois. Sua milícia bolivariana, em que ele espera um dia reunir 2 milhões de homens e mulheres, tem até escritórios dentro das universidades bolivarianas, instituições de ensino superior criadas por Chávez para formar a futura elite de seu "socialismo do século XXI".

Quanto às Forças Armadas, Chávez acaba de conquistar, com a reforma constitucional, o direito de decidir pessoalmente a promoção de todos os militares, dos sargentos aos generais. A Venezuela, sob Chávez, tornou-se o segundo país com o maior gasto militar da América do Sul, depois da Colômbia. Recentemente, Chávez comprou 24 caças supersônicos russos Sukhoi, cinqüenta helicópteros e 100.000 fuzis Kalashnikov, entre outros equipamentos. Quem Chávez pretende enfrentar com esse arsenal? Certamente não os Estados Unidos, apesar de sua retórica antiamericana. Tampouco servirá para invadir a Bolívia, como já prometeu fazer caso seu amigo Evo Morales seja apeado do poder. "Na verdade, a Venezuela não tem um verdadeiro inimigo externo do qual se defender", diz o especialista militar Fernando Sampaio, professor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia, em Porto Alegre. "Portanto, o mais provável é que Chávez esteja se armando para se proteger de seu próprio povo, no dia em que os venezuelanos se cansarem dele."

O terceiro princípio de um regime autoritário personalista é a destruição do estado de direito, já que todas as instituições públicas têm de se submeter à vontade do governante. Na Venezuela, além dos deputados, os juízes, as autoridades eleitorais e até os promotores públicos obedecem às ordens de Chávez. O coronel não apenas nomeou chavistas para os cargos mais altos dessas carreiras como tem o poder de demitir magistrados, já que 80% deles têm contratos temporários com o estado. O quarto elemento personalista, comum no chavismo, é o culto à imagem do líder. Chávez desenvolve esse seu lado narcisista de três maneiras. A primeira consiste em expor seu rosto em tamanho gigante em painéis, murais e até nas laterais dos ônibus nas ruas das cidades venezuelanas. A segunda maneira é sufocando os cidadãos com sua presença intermitente em pronunciamentos no rádio e na TV – ele controla o conteúdo de nada menos que oito canais abertos. A terceira forma de culto à personalidade é apresentar-se como o herdeiro histórico de Simon Bolívar, cuja obra de construção de uma grande nação sul-americana Chávez pretende concluir. Não há entre os brasileiros nenhum herói que receba a idolatria dedicada a Bolívar na Venezuela. Chávez espertamente chamou seu governo de "revolução bolivariana", implicitamente colocando seus opositores na condição de traidores da pátria. É irônico que Chávez seja amigo de Fidel Castro e elogie seu regime marxista, visto que Karl Marx simplesmente desprezava Bolívar. Em carta a seu amigo Friedrich Engels, o ideólogo do comunismo escreveu: "Simon Bolívar é o canalha mais covarde, brutal e miserável".

Como na ditadura de Fidel Castro, Chávez adotou o preceito de que o país entrou em processo de revolução permanente. Está escrito em sua nova Constituição que os meios de participação política do povo (como o voto) devem servir ao propósito da construção do socialismo. A estratégia de Chávez consiste em manter o país em uma transição constante. Isso cria uma sensação ambígua de insegurança e esperança, o que ajuda o presidente a manter as instituições e as massas sob seu controle. O perigo do narcisismo aliado ao autoritarismo é o de Chávez atribuir-se tarefas quase divinas, como a de formar um "novo homem" inspirado em si próprio. "Nesse ponto, Chávez se parece muito com o paraguaio Francia, que chegou a proibir o casamento das jovens brancas com descendentes de espanhóis porque queria criar uma nação mestiça", disse a VEJA o cientista político americano Paul Sondrol, especialista em ditaduras latino-americanas da Universidade do Colorado. A Revolução Russa tinha ambições similares, como escreveu Leon Trotsky em 1916: "Produzir uma versão melhorada do homem, essa é a tarefa futura do comunismo". A tentativa soviética de extirpar do novo homem tudo o que fosse humano e natural resultou, como era de esperar, no fim do comunismo e na sobrevivência do que é humano e natural.

Eficiente em usar os mecanismos democráticos para acabar com a liberdade, Chávez também tem se mostrado capaz de sucatear a economia do país. A afirmação pode parecer contraditória para uma nação cujo produto interno bruto cresce a taxas superiores a 10% ao ano. Mas se justifica quando se levam em conta os fatores que têm alimentado essa expansão. A economia venezuelana cresce graças ao aumento da receita petrolífera e do gasto público. "Em uma economia com muita liquidez e consumo elevado como a nossa, é natural que alguns empresários estejam ganhando muito dinheiro", diz o ex-ministro do Desenvolvimento Urbano da Venezuela Luís Penzini Fleury. "O problema é que as ameaças de estatização, o controle de preços, as importações maciças e os subsídios concedidos a uma parcela da população afastam qualquer interesse dos empresários em fazer novos investimentos", completa Penzini. Resultado: os venezuelanos nunca compraram tanto (a venda de carros no acumulado deste ano já superou em 50% o total de 2006), mas a oferta não está dando conta da demanda porque as empresas não investem na ampliação da produção. Não é sem razão. Quem vai querer investir em um país onde há poucos meses o governo estatizou as principais empresas de telefonia e de energia e fechou um dos maiores canais de TV por razões políticas?

O investimento externo direto na Venezuela é negativo – ou seja, há mais empresários retirando o capital investido do que apostando suas fichas no país. As poucas empresas que ainda se arriscam são construtoras, bancos e shopping centers. As vendas nos shoppings venezuelanos aumentaram quase 30% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. A demanda interna é tal que as importações vindas dos Estados Unidos – o grande demônio imperialista, segundo Chávez – aumentaram 40% entre 2005 e 2006. O crescimento das importações não é suficiente para evitar a falta de itens básicos nas gôndolas dos supermercados venezuelanos, uma decorrência direta do congelamento de preços instituído pelo governo numa tentativa tosca de conter a inflação, que deve fechar o ano em 20%, a maior da região. O resultado, na semana passada, eram filas de até seis horas para comprar leite nos mercados estatais. O racionamento de alimentos é um dos primeiros sinais daquilo que os venezuelanos mais temem: a transformação da Venezuela em uma nova Cuba.

A ATRIZ DE NOVELAS OUSOU PROTESTAR...

Fotos Anderson Schneider/WPN


Atriz de sucesso e candidata ao Miss Venezuela de 1994, Fabiola Colmenares acaba de descobrir que a beleza e a fama não garantem imunidade à perseguição ideológica do governo chavista. No fim de outubro, quando se preparava para estrear sua 15ª novela, a atriz foi sumariamente demitida pela Venevisión, emissora na qual trabalhava havia catorze anos. Não foi feito segredo sobre o motivo: ela foi punida por ter participado de protestos contra a reforma constitucional. "O país mudou muito com o governo Chávez. Qualquer pessoa que discorde dele é imediatamente discriminada e desqualificada", diz a atriz de 33 anos (na foto, Fabiola no pátio da Assembléia Nacional).

OS SERVOS FIÉIS DA REVOLUÇÃO

Talvez o mais vistoso programa social do governo Chávez seja a universidade bolivariana. Nela, o regime espera formar a próxima geração de líderes chavistas. Os alunos são jovens pobres que dificilmente teriam a possibilidade de estudar em uma boa universidade, ainda que pública. O estudante de direito Erick Morales, 19 anos, é filho de um mecânico e de uma escriturária. Ele recebe uma bolsa equivalente a 300 reais mensais para continuar estudando. "Olhe no rosto dos estudantes das universidades tradicionais e você verá descendentes de espanhóis, portugueses e italianos", diz Erick. "Eles formam um grupo minoritário que quer manter seus privilégios, numa luta de classes contra nós, jovens mestiços." Para Erick, o grande mérito de Chávez é ter usado a renda do petróleo para ajudar os pobres.

EXPULSO DA PRÓPRIA EMPRESA

Rafael Alfonzo Hernández é herdeiro de uma das maiores indústrias de alimentos da Venezuela, a Alfonzo Rivas. Em 2002, ele apoiou a greve geral que quase levou à queda de Chávez e, no mesmo ano, participou das negociações montadas para colocar panos quentes na tensa relação entre empresários e governo. Sua identificação como oposicionista se tornou uma ameaça à sobrevivência da empresa. Em 2003, Hernández foi forçado a deixar a presidência do grupo industrial fundado por seu avô. Hoje, ele é membro de uma ONG de pesquisas econômicas. "A prioridade do empresário é a sobrevivência imediata de seu negócio. Não há mais estratégias a longo prazo, e um dia o país vai pagar caro por isso", diz Hernández.

O PAI FEZ GREVE, A FILHA É PUNIDA

O governo Chávez dividiu a família de Angela Beatriz Sposito Falcón, 20 anos, estudante de psicologia na Universidade Central da Venezuela. Seu pai foi demitido da PDVSA, a estatal do petróleo, depois da greve de 2002. Sem conseguir emprego e ameaçado de prisão, ele exilou-se nos Estados Unidos. Com o pai fora de alcance, o regime chavista vinga-se na filha, que só tinha 15 anos quando ocorreu a greve. "Não posso trabalhar no governo, e meu pedido de bolsa de iniciação científica foi negado porque meu pai está na lista negra de Chávez", conta Angela. Ao solicitar uma bolsa de estudos, o estudante preenche um formulário oficial com perguntas ideológicas. Qualquer restrição ao governo Chávez é motivo para desqualificação. "Com este governo, eu não vejo futuro para mim no meu país", diz Angela.

O EMPRESÁRIO AMIGO
VAI BEM, OBRIGADO

Nos últimos quatro anos, as importações venezuelanas cresceram 200%. Para aproveitar a explosão de consumo, um empresário precisa da boa vontade do governo para obter dólares. Os negócios de Majed Khalil, cuja família é dona de uma indústria de pescado enlatado e de uma importadora de produtos eletrônicos, vão muito bem. Em seu escritório em Caracas, Khalil mantém fotos suas com o presidente Chávez e uma biografia em quatro volumes de Simon Bolívar. "Não é verdade que o governo está contra o empresário", diz. "Vejo justamente o contrário. As regras do jogo são claras, e Chávez tem nos chamado a trabalhar com ele."

NO MUNDO DE FAZ-DE-CONTA
DO CONGELAMENTO

Trinta e cinco por cento do volume de vendas dos supermercados corresponde a mercadorias com preços congelados pelo governo. Apesar da inflação de dois dígitos, alguns itens básicos estão sem reajuste há três anos. O resultado inevitável são o desabastecimento e filas quilométricas nas lojas estatais, que vendem artigos básicos a preços subsidiados. "Quando recebemos leite, só podemos vender 1 litro por pessoa", diz José de Souza, dono de uma cadeia de supermercados em Caracas. "O pernil de porco, que pela tabela deve ser vendido a 4 000 bolívares, só é encontrado no mercado negro por 30 000 bolívares", exemplifica Souza. Para não vender com prejuízo, o supermercado processa a carne para transformá-la em produto que escape ao tabelamento. O pernil de porco pode ser defumado, por exemplo, e assim vendido com lucro.

EDUCAÇÃO FORA DO TOM

O colégio Emil Friedman, de Caracas, é reconhecido pela ênfase no ensino de artes. Com a média de um professor de música para cada grupo de doze alunos, a escola mantém duas orquestras. Até os figurões do governo chavista preferem matricular os filhos nessa instituição. Esse centro de excelência está agora ameaçado pelo Sistema Educativo Bolivariano, criado pelo presidente para formar alunos com "idéias revolucionárias". As escolas que não se adequarem ao novo currículo correm o risco de perder a licença de funcionamento e de ser expropriadas. "Este governo parece acreditar que, controlando a educação, conseguirá criar uma massa acrítica, capaz de aceitar todas as medidas de Chávez", diz Pablo Argüello, diretor do Emil Friedman.

NO SERVIÇO PÚBLICO,
SÓ DE CAMISA VERMELHA

Uma das obrigações do funcionalismo público na Venezuela é atuar como cabo eleitoral de Hugo Chávez. Quem não aceita esse papel é punido. A engenheira Magris Tovar Hiller, 30 anos, trabalhou durante um ano e meio na Fundação Viviendas, da prefeitura central de Caracas, até se recusar a vestir a camisa vermelha do chavismo. "Fui demitida em 2005 por me negar a sair às ruas em manifestações a favor de Chávez", conta Magris. Seu emprego seguinte foi em empreiteiras com contratos governamentais. Dessa vez foi ela que pediu demissão, escandalizada com a corrupção existente entre empreiteiras e funcionários chavistas. Hoje, Magris trabalha numa construtora que não aceita obras públicas.

SEM DIREITO A VOZ

Processar jornalistas é uma das estratégias adotadas pelo regime chavista para calar a oposição. "Como não há independência de poderes na Venezuela e o governo também controla os juízes, somos submetidos a verdadeiros julgamentos kafkianos", diz Marianella Salazar, radialista e colunista do jornal El Nacional. Ela corre o risco de acabar na cadeia por ter denunciado planos governamentais de se equipar para a guerra eletrônica. Devido às ameaças de morte feitas por militantes chavistas, há cinco anos Marianella não sai sem sua escolta de guarda-costas.

DENGUE TRATADA COM ASPIRINA

Hugo Chávez criou um sistema de saúde paralelo, chamado Misión Barrio Adentro, feito com médicos emprestados pelo governo cubano e financiado com dinheiro do petróleo. "Os médicos cubanos nem sequer têm o diploma reconhecido no nosso país, e, ainda assim, seu piso salarial é 30% mais alto que o nosso", diz Teresa Milagros, 28 anos, médica-residente em um hospital público de Caracas. "As conseqüências são sérias, pois os cubanos erram nos diagnósticos e os pacientes acabam recorrendo aos hospitais tradicionais, sobrecarregando o sistema de saúde." Teresa já atendeu um paciente com dengue que tinha sido medicado com aspirina por um médico da Misión Barrio Adentro. Chávez não vê com bons olhos as clínicas privadas. Ele ameaça nacionalizá-las e chama os seus donos de "mercenários".

"NÃO QUERO UMA DITADURA DO PROLETARIADO"

O deputado Ismael García é secretário-geral do Podemos, o único partido da Assembléia Nacional venezuelana que se opõe à reforma constitucional que dá poderes ditatoriais a Chávez. Trata-se de uma oposição sui generis, já que García, assim como seus colegas de partido, é chavista e apóia o governo do coronel desde o seu início. O deputado concedeu a seguinte entrevista a VEJA em Caracas:

Por que o senhor, membro da bancada chavista, ficou contra a reforma constitucional proposta por Chávez?
Essa reforma impõe medidas que permitem ao estado venezuelano passar por cima do povo. Infelizmente, apenas oito deputados, inclusive eu, se opõem à reforma. Isso significa que ela seria aprovada de qualquer jeito, o que é muito grave. A Constituição é o contrato social de uma nação, a carta de navegação do país. Por isso, é necessário haver consenso na sociedade para mudá-la da maneira como o governo de Hugo Chávez quer. O que se está propondo é muito mais que uma reforma, é uma nova Constituição. Essa Assembléia não tem mandato popular para isso. O governo está impondo uma visão que não é a da maioria do país.

Que visão é essa?
O estado que o novo texto constitucional cria, a meu ver, não é socialista, ao contrário do que diz o governo. O que está sendo criado é um estado todo-poderoso que, entre outras coisas, pisoteia o direito do povo de escolher seus representantes, princípio fundamental de uma democracia. A nova Constituição permite ao presidente da República passar por cima da autoridade de prefeitos e governadores eleitos pelo povo. Isso será feito por meio das comunas, cujos representantes não são escolhidos pelo voto, mas por assembléias populares, manipuladas por quem detém o controle do aparato de estado. Nós apoiamos Chávez, mas somos contra essa atitude autoritária. Vivemos um momento de muita intolerância política no país.

Chávez chamou o senhor e seus colegas de "traidores, covardes, duas caras, corruptos, ambiciosos e mesquinhos". Como o senhor vê esses adjetivos?
O presidente reagiu à nossa posição fazendo comentários com o objetivo de nos desqualificar. Não respondi da mesma maneira. Em uma sociedade democrática devem existir diversidade e pluralidade de opiniões. Não posso desqualificar uma pessoa apenas porque ela pensa de forma diferente. O linguajar de um presidente não pode ser assim, ainda mais quando se refere a nós, uma força política absolutamente leal e que apoiou o programa de governo de Chávez sem exceções. Uma Constituição, no entanto, não é um plano de governo, que pode mudar de mandato em mandato. Não pode conter artigos que pensávamos estar eliminados de nossa história, como o que prevê o fim da liberdade de expressão no caso de o presidente declarar estado de exceção.

Qual é sua opinião sobre a reeleição indefinida para presidente?
Para haver reeleição indefinida, seria ao menos necessário haver um sistema de pesos e contrapesos entre os poderes do estado venezuelano. Isso não existe. O Executivo venezuelano controla tudo. Até as manifestações de estudantes são reprimidas à força. Chávez está usando as Forças Armadas para dar um golpe de estado na Constituição. Eu sou um homem de esquerda, mas não quero uma ditadura do proletariado. Defendo um socialismo democrático, não um socialismo de estado. Não podemos aceitar um modelo que já fracassou em outros países.





Originalmente militar, Hugo Chávez era coronel pára-quedista quando entrou na política. Primeiro, tentou um golpe de Estado, em 1992, mas acabo preso. Em 1998, chegou à Presidência pelo voto, sendo duas vezes reeleito.

retÓrica
Fã incondicional e seguidor fervoroso de Fidel Castro, Chávez imita o líder cubano nos pronunciamentos intermináveis e no uso constante do rádio e da TV para defender sua popularidade. Tem um programa diário em que aparece discursando entre camponeses e operários. A seguir, trechos de vídeos de alguns discursos e entrevistas (em espanhol):

Hugo Chávez provoca George W. Bush em seu programa de TV
O coronel fala depois da fracassada tentativa de golpe, em 1992
Discurso na Inglaterra sobre o socialismo, imperialismo e terror
Uma visita ao líder cubano Fidel Castro, em Havana, em 2006
'Reflexões' de Chávez num programa da TV estatal de seu país

ameaÇas Às instituiÇÕEs nacionais
Nos últimos anos, Chávez trabalhou para reduzir a influência da oposição: lançou mão de plebiscitos para enfraquecer o Congresso, sufocou adversários políticos, aparelhou o Executivo e o Judiciário com colaboradores e intimidou a imprensa, usando artifícios de censura como cancelar concessões de canais de TV. Em 2007, recebeu do Congresso poderes para governar por decreto, o que lhe garante o direito de concentrar ainda mais poder na Presidência e estatizar os setores elétrico e das comunicações.

ameaÇas À regiÃo e À comunidade internacional

Com o dinheiro do petróleo e planos de exportar sua revolução, o caudilho venezuelano financiou insurreições nos países vizinhos como Bolívia, Equador e Nicarágua – foi derrotado no México e no Peru. Como um inimigo declarado da globalização e do livre-comércio, pode dificultar as negociações comerciais do Mercosul com blocos importantes, como União Européia e Estados Unidos.

perspectivas
Com exceção das pequenas repúblicas latino-americanas, as medidas de Chávez são irrelevantes para os vizinhos. Seu projeto contra a modernidade e a integração econômica acabará por isolar a Venezuela no cenário mundial. Internamente, os efeitos disso já podem ser vistos: nos últimos anos, os investimentos estrangeiros diretos caíram pela metade.

relaÇÃo com o Brasil
Nos primeiros momentos, o governo Lula trocou juras de amor eterno com Chávez. As relações, porém, esfriaram bastante. O governo brasileiro adotou a tática de ter Chávez por perto para mantê-lo sob relativo controle, já que acredita que acolher Venezuela e Bolívia no Mercosul é uma maneira de trazer estabilidade para a região.

Para saber mais
NO SITE
Perguntas & Respostas: o terceiro mandato de Chávez

ARQUIVO VEJA

Poderes de ditador para Hugo Chávez
O coronel agora é censor
Hugo Chávez e a morte
Um Fidel com petróleo
Os limites da petrodiplomacia
E agora, coronel?
Viagem ao circo de Chávez
O clone do totalitarismo
Todos querem vender a Chávez
O encanto do coronel
‘O Estado sou eu’
Um país na contramão
A caneta contra Chávez
O nome da encrenca é Chávez
Caça às bruxas
Chávez enfrenta a contra-revolução
A lei da boina
A lei de Chávez
O trator avança
O poder moral
Vitória da boina



Economista, Rafael Correa foi assessor de ex-presidentes, mas ganhou vida própria na política ao alinhar-se ao ideário chavista: prometeu quebrar contratos com empresas estrangeiras de petróleo, além de lançar ofensas gratuitas ao governo americano.

retÓrica
Jovem e articulado, o líder equatoriano evita imitar o tom incendiário de Chávez e similares no palanque. Nos pronunciamentos, contudo, nunca deixa de lado os ataques aos oposicionistas, as críticas aos "setores conservadores", as promessas de transformação radical da vida do povo... A seguir, trechos de vídeos de alguns discursos e entrevistas (em espanhol):

Rafael Corrêa em discurso na campanha presidencial de 2006
Anúncio da campanha presidencial dedicado aos jovens do país
Discurso em defesa da convocação da assembléia constituinte
Entrevista sobre projetos de governo, já como presidente eleito
Encontro com a Aliança das Mulheres do Equador, em Machala

ameaÇas Às instituiÇÕes nacionais
Ao ser empossado, Correa tentou convocar um plebiscito para reformar a Constituição sem consultar o Congresso – o que é inconstitucional. Foi obrigado a voltar atrás e negociar.

ameaÇas À regiÃo e a comunidade internacional
Por enquanto, ele apenas engrossa as fileiras chavistas.

perspectivas
Dependerá da força da oposição equatoriana na tarefa de conter os ímpetos populistas de Correa. Por outro lado, o país já está sendo beneficiado pela chuva de petrodólares da Venezuela, que aceita o petróleo cru equatoriano em troca do produto processado a preços favoráveis a Quito.

relaÇÃo com o Brasil
Na campanha, Correa prometeu renegociar todos os contratos de exploração de petróleo no país – medida que ameaça os interesses da Petrobras.


Para saber mais
ARQUIVO VEJA
Mais um que se vai



Ex-pastor de ovelhas da tribo dos aymarás, Evo Morales entrou na política como líder dos plantadores de coca. Primeiro indígena a alcançar a Presidência do país, no poder ele se tornou o principal pupilo de Chávez.

retÓrica
Nos comícios e entrevistas, Morales se aproveita da origem indígena para encarnar o papel de líder autêntico do povo andino. Sempre sem terno - a jaqueta de couro é inseparável -, gosta de ser visto discursando em meio a famílias de lavradores e criancinhas com ponchos. A seguir, trechos de vídeos de alguns pronunciamentos e entrevistas (em espanhol):

Evo Morales ameaça abandonar o Mercosul se o bloco não mudar
Na TV, o então presidente eleito diz que Cuba é uma democracia
Visita a Hugo Chávez para assinatura de acordo de comércio Alba
Em maio de 2006, defendendo o plano de estatização de empresas
Prometendo resistir aos "setores conservadores" contrários ao governo

ameaÇas Às instituiÇÕes nacionais
A exemplo de Chávez, o grande objetivo de Morales é reformar a Constituição – ainda que contra a vontade do Congresso eleito pelo povo. Para isso, mobilizou indígenas para forçar a renúncia de governadores de oposição e tentou alterar as regras para emendas à Carta, mas teve que obedecer as normas vigentes.

ameaÇas À regiÃo e À comunidade internacional
A nacionalização dos setores de gás e petróleo foi o primeiro passo, contando com uma espalhafatosa ocupação de refinarias estrangeiras pelo Exército. A segunda medida foi aumento do preço do gás fornecido ao Brasil. No futuro, Morales quer tomar terras de brasileiros instalados no país, responsáveis pela produção de um terço da soja boliviana.

perspectivas
O radicalismo de Morales deverá ser contido pela realidade — o fato de que seu governo depende dos investimentos estrangeiros em geral e dos brasileiros em particular. Sem a Petrobras, responsável pelo pagamento de 20% dos impostos, o Estado boliviano ficaria sem dinheiro.

relaÇÃo com o Brasil
Usando Chávez como escudo, Morales mantém uma relação ambígua com o Brasil: diz-se amigo de Lula, mas, na prática, usa táticas hostis, como a ocupação das refinarias da Petrobras. Além disso, faz declarações absurdas, como reivindicar direitos sobre o Estado do Acre – comprado pelo Brasil junto aos bolivianos no século XIX.

Para saber mais
ARQUIVO VEJA
O velho que finge ser novo
Morales ri do Brasil
Roubou e quer dar lição de moral
Os líderes e o liderado
Fracasso e humilhação
Uma conquista no Grito



Seguidor do caudilho Juan Domingo Perón (1895-1974), Néstor Kirchner foi governador da pequena Província de Santa Cruz, na gelada Patagônia. A origem geográfica e a falta de carisma lhe garantiram o apelido de pingüim. Chegou à Presidência quando o país atravessava uma crise aguda, após decretar moratória.

retÓrica
Com discurso menos inflamado e provocador que Chávez e outros líderes populistas, Kirchner não empolga no palanque e na TV. Mas muitas vezes deixa escapar frases desastradas que acabam criando polêmicas em seu governo. É especialmente infeliz quando parte para o ataque contra os empresários e banqueiros. A seguir, trechos de vídeos de alguns discursos e entrevistas (em espanhol):

Néstor Kirchner na assembléia da ONU, em 2006, criticando o FMI
Com Hugo Chávez, elogiando entrada da Venezuela no Mercosul
Criticando os jornalistas argentinos pelas críticas feitas ao governo
Em discurso, condenando a atuação da OMC e do Banco Mundial
Comentando a questão das Malvinas e o conflito com os britânicos

ameaÇas Às instituiÇÕes nacionais
Kirchner é praticante das várias táticas neopopulistas, como a estatização, o controle de preços e a ameaça a setores empresariais, por vezes apontados como “inimigos da nação”.

ameaÇas À regiÃo e À comunidade internacional
Sob Kirchner, o país aproximou-se de Chávez, que comprou títulos da dívida argentina. Juntos, eles criaram o Banco do Sul, com o intuito de substituir organismos econômicos internacionais. Em sua batalha populista, Kirchner elegeu ainda dois “inimigos externos” para desviar a atenção dos problemas domésticos: o Uruguai e o Brasil.

perspectivas
Dificilmente os impulsos neopopulistas de Kirchner levarão a uma guinada na direção do “socialismo do século XXI” de Chávez. Afinal, na Argentina, há um Congresso e uma oposição atuantes, Judiciário independente e um setor privado bem organizado e influente.

relaÇÃo com o Brasil
A pujança da economia brasileira incomoda o governo e setores da economia argentina. Por isso, Kirchner já defendeu diversos aumentos de tarifas e outras restrições à entrada de produtos brasileiros em seus país.

Para saber mais
ARQUIVO VEJA
Começou...
Bate-boca de vizinhos
Kirchner e suas muchachas
Vizinho na contramão
São só bravatas
Nos braços do povo
O bolero da inflação





lÍdeR
CUBA. Depois de quatro décadas de poder ditatorial, Fidel Castro esta à beira da morte – e com ele deverá ser enterrada a experiência do socialismo caribenho. Mas ele é a principal inspiração para Chávez: a figura de “pai da nação” que construiu, seu longos e cansativos discursos e seus ataques verbais estratégicos e inócuos contra os EUA são um modelo ao coronel.NICARÁGUA. Nos anos 70, Daniel Ortega foi líder dos sandinistas, que comandaram uma revolução armada e uma política econômica inspirada na cubana que arruinaram o país. Hoje, ele tenta vender uma imagem mais moderada: tornou-se católico praticante e fez acordos com seus antigos inimigos.
como apÓia os populistas
CUBA. Fidel parece ter escolhido Chávez seu sucessor como protótipo do “revolucionário latino-americano”. Isso fica claro nas constantes visitas do venezuelano à ilha, nas quais o cubano tenta emprestar seu carisma ao coronel.NICARÁGUA. Ortega voltou ao poder patrocinado por Chávez – que interveio todo o tempo nas eleições do país da América Central. Por isso, promete seguir a cartilha do patrocinador populista.
o que estÁ ganhando com isso
CUBA. A paga pelo apoio do ditador cubano é o fornecimento de combustível venezuelano à ilha, que vive à mingua desde o fim do governo soviético.NICARÁGUA. A ajuda proveniente dos petrodólares da Venezuela é o ganho imediato da Nicarágua. Chávez já perdoou dívidas da nação centro-americana e fechou contratos para fornecer empréstimos a pequenas empresas e também combustível barato – a Nicarágua enfrenta escassez de energia.





lÍdeR
COLÔMBIA. Advogado, Álvaro Uribe estudou nos Estados Unidos e na Inglaterra. Há mais de duas décadas, teve o pai assassinado em uma ação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), cujos guerrilheiros são financiados pelo narcotráfico e fonte de instabilidade do país. CHILE. Filha de um general morto pelo regime militar (1973-1990), a socialista Michelle Bachelet deixou de lado o ravanchismo ao chegar ao poder. Defendeu as melhorias econômicas implementadas pelos militares, aprofundou as reformas do Estado e evitou a divisão da sociedade chilena entre esquerda e direita. MÉXICO. Advogado por formação, Felipe Calderón conquistou a Presidência ao garantir ao eleitorado que manteria as conquistas de seu antecessor, Vicente Fox. Dessa forma, tornou-se um antípoda do candidato apoiado por Chávez, Andrés Manuel López Obrador, cujas promessas indicavam sangria dos recursos do Estado para sustentar programas sociais clientelistas, alterações na Constituição para se perpetuar no poder e encrencas com os Estados Unidos.
como REJEITOU o populisMO
COLÔMBIA. Os pilares do governo são crescimento econômico e redução da violência. Nos dois campos, Uribe adotou posturas diretamente opostas às de Chávez, seu vizinho e arquiinimigo: política externa pragmática, cooperação comercial e militar com os americanos, responsabilidade nos gastos públicos e saneamento das contas do Estado. CHILE. Com um modelo exportador agressivo, o Chile integrou-se à economia global. Os chilenos também fornecem um paradigma de governo responsável, com controle dos gastos públicos e estabilidade democrática. MÉXICO. O fortalecimento das instituições nacionais impede aventuras populistas no plano econômico e político e obriga o governo a compartilhar o poder com outros setores da sociedade. Um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos, firmado em 1994, garantiu dinamismo à economia e produção de riquezas ao país.
o que estÁ ganhando com isso
COLÔMBIA. Em 2006, o PIB colombiano cresceu 5% — cifra superior, por exemplo, à alcançada pelo Brasil. No ano anteior, o país recebeu mais de 10 bilhões de dólares em investimentos externos, três vezes mais que a Venezuela, e o desemprego, que, antes atingia um quinto dos trabalhadores, caiu para 12%. Graças à política de linha dura na segurança doméstica, os índices de criminalidade atingiram os níveis mais baixos dos últimos vinte anos. CHILE. A política de estabilidade e abertura econômica garante ao país o crescimento mais sólido da região. O Chile, a nação sul-americana com melhores chances de chegar ao Primeiro Mundo, há mais de dez anos tem crescimento médio de 6%. Em conseqüência, a parcela da população que vive abaixo da linha de pobreza foi reduzida pela metade. No ranking elaborado pelo Fórum Econômico Mundial para medir a competitividade de 117 países, o país, o mais bem colocado da América Latina, ocupa o 27º lugar, à frente de treze países da União Européia. MÉXICO. Desde que assinou o tratado de livre-comércio com os EUA, o país vive o período de menor turbulência social e econômica de sua história. Nos cinco anos que se seguiram à entrada em vigor do tratado, a economia do país cresceu em média 5%. De lá para cá, o ritmo tornou-se mais lento, mas as taxas de crescimento são, em décadas, as mais estáveis de uma economia que distribui mais igualitariamente as riquezas.

ReportagenS DE VEJA
O bolero da inflação
Poderes de ditador para Hugo Chávez
O coronel agora é censor
Lula cercado de populistas
O velho que finge ser novo
A nova África
Morales ri do Brasil
Os limites da petrodiplomacia
E agora, coronel?
Em má vizinhança
O beijo da morte de Chávez
O México vota. E já descartou o populismo
Roubou e quer dar lição de moral
Entre o ruim e o pior
A América Latina entre dois destinos
Começou...
Bate-boca de vizinhos
O ano dos presidentes
Viagem ao circo de Chávez
Kirchner e suas muchachas
Por que o Chile dá certo
Vizinho na contramão
Mais um que se vai
Todos querem vender a Chávez
Uma conquista no Grito
O encanto do coronel
‘O Estado sou eu’
Um país na contramão
O sucesso da política de mão pesada
Nos braços do povo
A caneta contra Chávez
O nome da encrenca é Chávez
Caça às bruxas
O sobrevivente
México, o rei dos emergentes
Chávez enfrenta a contra-revolução
México na era Fox
A lei da boina
A lei de Chávez
O trator avança
O poder moral
Vitória da boina

capAS
Um Fidel
com petróleo

Os líderes
e o liderado

O clone do totalitarismo

Entrevistas
Michelle Bachelet
País de baixo risco

José Manoel Durão Barroso
Nacionalismo só destrói

Gerardo della Paolera
São só bravatas

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Roberto Pompeu de Toledo
Hugo Chávez e a morte
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A maré popularesca


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