quinta-feira, agosto 14, 2008

Uma semana de Brasil: Gen. AUGUSTO Heleno, militares e a (in)coerência política.

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Ary dos Santos

Em apenas uma semana, certos acontecimentos e sua abordagem pela mídia caracterizaram uma amostra quase perfeita do país em que vivemos. Deixemos de lado o triste fato do assassinato de uma indefesa criança em São Paulo, quando o noticiário buscou aumentar, de todas as formas, o seu índice de audiência ou de vendas.

Os demais acontecimentos, de importância indiscutível para TODOS os brasileiros, enfocados com matizes específicas pelos diversos Órgãos de Comunicação Social e, paralelamente, objeto de troca de idéias entre aqueles que, mesmo com motivações diferenciadas, se interessam pelas sendas trilhadas e por trilhar pela Democracia no Brasil, apontam vários dados concretos que caracterizam um quadro desalentador do Brasil, ainda que com uma réstia de luz e esperança.

Senão, vejamos:

1. A explicitação de algumas idéias pelo Gen. Heleno, Comandante Militar da Amazônia, constituiu-se em fato positivo sobre vários aspectos. Mostrará se o país está maduro politicamente para debater amplamente, em todos os seus segmentos produtivos, assuntos que até agora só se constituem em preocupação dos militares, por força dos estudos profissionais, e de alguns poucos realmente bem informados e, mais do que isso, bem intencionados. Mostrou ainda aquela autoridade militar que silêncio e cooperação estão longe da omissão pecaminosa, quando se trata do futuro do país, e essa é uma lição para todos e, em particular, para alguns dos seus companheiros da ativa. Além disso, provou ser possível conciliar o respeito pela "cadeia de comando" que se finda no Chefe de Estado, com a explicitação, firme e serena, de maneira adequada – pelo menos para quem entende um mínimo de deveres constitucionais – dos assuntos que são sensíveis, mas cujo debate já se inicia tardiamente. É a réstia de luz e de esperança a que nos referimos no início.

2. Paralelamente, o Ministro da Justiça, triste ironia, range os dentes e ameaça os arrozeiros de Roraima com a Lei de Segurança Nacional, algo que, muito provavelmente, já deve ter sido, por ele próprio, criticado e incluído no "lixo autoritário", em tempos passados. O surto foi útil para colocar à mostra a pelagem áspera do ‘trotskismo’ deixando-o, em alguns noticiários, desprovido da roupagem macia do ‘gramscismo’ democratóide.

Tal lampejo de furor justiceiro jamais aparece quando o MST e outros agregados similares que, segundo líderes oposicionistas, são financiados pelo governo, fazem o que bem entendem, pouco se importando com o "direito de propriedade" e diversos outros itens previstos como delituosos pela nossa legislação escrita e consagrados pela nossa tradição.

Para complementar sua atuação, só o papel desempenhado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário. Ao abordar recente desrespeito à lei quando, no dizer dos jornais "de amarelo, MST invade ferrovia" da Vale do Rio Doce, evitou criticar aquela organização e ainda elogiou os "movimentos sociais".

3. Os militares da Ativa, ante o quadro que se desenrola, cada um na sua esfera de atuação, todos disciplinados e trabalhadores, mas, nem por isso, incapacitados de entender o que representa a posição de um dos seus Comandantes de área, aguardam o posicionamento explícito de seus chefes. Qual o seu "animus"? Em dúvida?! Confiantes?! Satisfeitos?! Somente os seus chefes diversos nos diversos postos terão condições de obter uma resposta verdadeira a essas indagações e oferecer-lhes a contrapartida adequada com posturas profissionais firmes e competentes, nas diversas oportunidades que se apresentarem. E esta, é uma delas.

O conhecimento da História recente do nosso Brasil também leva a indagações e, inevitavelmente, surgem comparações. Em que pesem os temores de alguns, não cremos que, no tocante à alta hierarquia do Exército, se repetirá o triste episódio que, pelo menos para este modesto escriba, marcou o fim efetivo dos Governos Militares: o desenlace do conflito Geisel X Frota com o pífio e lamentável procedimento da maioria dos integrantes do Alto Comando da época. Várias atitudes anteriores confirmam esta opinião e uma delas é a notícia atual de que um dos comandantes de área, "na comemoração pelo Dia do Exército,"... "lembrou que o Presidente Dutra reduziu o seu mandato em um ano".

4. Nós, os militares da reserva – já tocados pela experiência vivenciada nas últimas décadas –, fazemos o acompanhamento possível do "clima" e mesmo sem pretensões a Cassandra, preocupados com as nuvens que não estão negras só no horizonte, mas já verteram muita lama sobre os brasileiros. Mesmo prejudicados pelo distanciamento natural dos centros de decisão, procuramos a análise dos fatos e, sobretudo, procuramos que o nosso EB mantenha, com união interna e capacidade de decisão, o seu papel constitucional e o faça, principalmente, sem nenhum receio de alardear isso para os públicos, interno e externo.

5. Enquanto isso o PR procura – sem se afastar de suas metas pessoais principais e com prudente distanciamento – contornar o problema. Nesse rumo, recebe os representantes indígenas em palácio, procurando dar aos fatos a conotação de que o Gen. Heleno é contra a reserva indígena, mote que, se conhecemos alguma coisa de nossa mídia, será rapidamente propalado pela mesma, com especial ênfase pela "Vênus platinada".

6. Ninguém vai buscar uma das últimas declarações do PR, endereçada a dirigentes econômicos de organizações mundiais, de que (reproduzo de memória): "para se falar do Brasil, não se pode fazê-lo de dentro de um gabinete de ar condicionado... Tem que ir ao local... Sujar o pé no barro". Pois bem, será que algum comentarista ou até mesmo o Comandante do EB vai perguntar ao PR se ele julga que o Gen. Heleno já não sujou bastante o coturno de barro por este Brasil (e Haiti) afora?! Ou que são outros os dirigentes que estão no conforto de seus gabinetes?!

7. Finalizando, não existe solução rápida a não ser pela força, e esta, sempre bem aceita em um primeiro momento, pode levar a problemas mais complexos. É importante notar que impulsionam a crise brasileira dois vetores principais: letargia das organizações – civis e militares – que poderiam tomar, em âmbito nacional, medidas positivas; e a inversão de valores morais e éticos que grassa no país, com crescimento geométrico nos últimos 12 a 15 anos. Basta calcularmos que, por volta de 2010 – ano de eleições para a Presidência – teremos quase toda uma geração (dos 15 aos 30 ou 35 anos) criada nesse clima moral inadequado, insalubre mesmo, onde a "lei de Gerson" é um dos principais mandamentos não escritos.

Outros fatos pipocarão, com maior ou menor intensidade, com maior ou menor persistência no tempo, mas no passo em que avança a desestruturação das Instituições brasileiras, nada virá a se tornar um problema incontrolável para a máquina governamental montada, azeitada e em pleno funcionamento.

Somente "um fato novo e inusitado" – o que significa dizer que a corrupção tal como vem acontecendo não é mais o caso – que provoque comoção nacional de grandes proporções e consiga obter da mídia noticiário semelhante ao do assassinato da pequena menina, será capaz de quebrar essa letargia chegando a deter ou mesmo quebrar esse aparato político-ideológico.

Cel Ary dos Santos - 18.04.2008

DIFUSÃO LIVRE INDICANDO AUTORIA

Saudações,

F.VIANNA


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