terça-feira, setembro 16, 2008

Sete Dias - A cabeça está pior que o corpo

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Augusto Nunes

Absorvida pelos preparativos para os Jogos de Pequim, a imprensa brasileira não reservou sequer um canto de página às olimpíadas escolares internacionais disputadas em julho. Melhor assim. Se a performance dos atletas foi de deixar deprimido um passista da escola campeã, o desempenho dos estudantes decerto levaria o país a sentar-se no meio-fio, como um personagem de Nelson Rodrigues, e chorar lágrimas de esguicho. O Brasil que compete com o corpo produziu um fiasco. O Brasil que compete com a cabeça protagonizou um desastre.

Em Pequim, o país subiu ao topo do pódio só três vezes. Nas quatro olimpíadas escolares, nenhuma das 142 medalhas de ouro enfeitou algum peito brazuca. As equipes enviadas aos jogos de Matemática, Química, Física e Biologia não ouviram o Hino Nacional uma única vez. O naufrágio não foi mais medonho por dois motivos. Primeiro: são promovidas em outros meses as provas de Informática, Astronomia, Ciências Junior e Astronomia e Astrofísica, das quais o Brasil é freguês. Segundo: o país desertou há dois anos das provas de Geografia e nunca se inscreveu nas olimpíadas de Linguística, Filosofia e Ciência da Terra.

Compostas pelos melhores alunos matriculados em escolas públicas do 2º grau, as equipes, somadas, não gastaram mais que o ministro Orlando Silva, sozinho, em Pequim. Ponto para a estudantada. O universo dos selecionáveis – milhares de primeiros da classe em cada disciplina – é bem maior que o dos atletas. Ponto para o COB.

Nas Olimpíadas propriamente ditas, o Brasil bate ponto desde 1920 – a milhagem atlética, portanto, é extraordinariamente maior que a escolar. Mas os dirigentes da educação assimilaram em pouco tempo trucagens e espertezas ensinadas pela cartolagem esportiva. Transformar fracassos em triunfos, por exemplo.

Foi o que fizeram os sites oficiais incumbidos de acompanhar o desempenho das seleções brasileiras. Em Madri, os craques da Matemática tiveram "o melhor desempenho da história". Conseguiram cinco medalhas de prata e uma de bronze, e garantiram ao Brasil o 16º lugar entre 97 países. É pouco. Ou muito, comparado aos outros.

Nas disputas com representantes de 71 nações reunidas em Budapeste, a seleção brasileira de Química conquistou uma medalha de prata e uma de bronze. "Fomos os melhores entre os ibero-americanos", celebrou o site. "Fomos os melhores entre os latino-americanos", soltou fogos de artifício o site da Física, exultante com a medalha de prata e a medalha de bronze, fora as duas menções honrosas alcançadas em Hanói. Seguem desconhecidos os critérios usados pelo redator, que no mesmo texto omitiu a posição do Brasil entre os 82 concorrentes "porque as olimpíadas de Física não têm nenhum ranking".

Tampouco as de Biologia, jurou o site vizinho, que acompanhou os duelos que mobilizaram em Mumbai 55 países. Pelo silêncio, deduz-se que o Brasil não brilhou nas guerras particulares travadas por latino-americanos, ibero-americanos ou afrodescendentes. Mas, pela primeira vez, um campeão dos tubos de ensaio aqui nascido ganhou uma medalha. De bronze, certo. Mas vale ouro.

O corpo do Brasil vai mal, soube-se em agosto. A cabeça anda pior, deixou-se de saber em julho. Precisa melhorar o cérebro para cuidar do físico.

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