Duda Teixeira
O presidente do Equador expulsa a Odebrecht do país, seqüestra os bens da empresa e ameaça dar calote no BNDES. E mais uma vez o Brasil apanha sem reclamar.
Os presidentes populistas da América do Sul esbravejam o tempo todo contra os Estados Unidos. Contam-se nos dedos de uma só mão, contudo, as medidas concretas contra interesses americanos adotadas por esses governos. Em lugar disso, quando querem agitar uma causa nacionalista para unir a nação em torno do presidente, o golpe é desferido contra o Brasil. Fazem isso com total desfaçatez, pois a experiência dos últimos anos demonstrou que o vizinho grandalhão engole passivamente as humilhações. Na semana passada, Rafael Correa, presidente do Equador, expulsou a Odebrecht, seqüestrou os bens da construtora, ocupou com tropas quatro de suas obras e proibiu quatro diretores de deixar o país. Dois deles escaparam a tempo de volta para o Brasil. Os outros dois buscaram refúgio às pressas na casa do embaixador brasileiro
As vítimas mais expostas dessa excessiva tolerância do governo petista em relação aos abusos cometidos pelos hermanos são as empresas e os cidadãos brasileiros nos países vizinhos. "O Brasil está pagando o preço por ter uma economia saudável, em crescimento e aberta para o mundo", disse a VEJA o advogado americano Allen Weiner, professor da Universidade Stanford e ex-diplomata. "Países vizinhos que não gozam do mesmo sucesso naturalmente pensam que isso ocorre porque os brasileiros estão tirando vantagem deles. A tendência é isso aumentar cada vez mais." O momento anuncia um drama pior. No Paraguai, os produtores brasileiros de soja foram escolhidos como alvos prioritários da reforma agrária do novo presidente. Na semana passada, brasileiros que vivem em dois departamentos da fronteira foram intimados a dar explicações ao Indert, o instituto de terras paraguaio. Eles terão de dizer quando compraram suas terras, de quem e quanto pagaram por elas. Na Bolívia, em duas reuniões da Federação dos Camponeses do Norte de Santa Cruz, ficou decidido que as primeiras terras a ser invadidas serão as dos brasileiros.
Desde que Evo Morales ocupou impunemente com tropas duas refinarias da Petrobras em 2006, bater primeiro, conversar depois virou a regra nas relações bilaterais. Na época, Lula defendeu a ação como direito da Bolívia – como se o Brasil também não tivesse direitos previstos nos acordos assinados. Desta vez, ele usou uma metáfora familiar para explicar o imobilismo. "Você imagina, na sua casa, quando você morava com três ou quatro irmãos menores, você podia estar com a razão, mas eles ficavam te cobrando coisas", disse o presidente. O Equador seria esse irmão menor, que não tem razão, mas precisa ser tolerado. Correa alegou que problemas no funcionamento da usina hidrelétrica de San Francisco, parada há três meses por motivos técnicos, haviam motivado a medida. Segundo a Odebrecht, a culpa é dos técnicos equatorianos que fizeram o projeto da usina. Eles não levaram em conta a existência do vulcão Tungurahua, a
Nas doze reuniões tensas que ocorreram nas últimas quatro semanas para encontrar uma solução, a construtora se comprometeu a colocar a usina em funcionamento no dia 4 de outubro, nesta semana. Os funcionários equatorianos deixaram claro que cumpriam ordens diretas do presidente e que um acordo não seria possível. Correa precisou de um factóide nacionalista para aprovar seu projeto de Constituição em um referendo no domingo 28. Se conseguir metade mais um dos votos, terá poderes para dissolver o Congresso e poderá se reeleger. Azar do Brasil. "Ao expulsar a Odebrecht e ameaçar brasileiros, Correa solapou o Judiciário e agiu como se estivesse em estado de sítio", diz a advogada Maristela Basso, especialista em direito internacional e professora da Universidade de São Paulo (USP). "É preciso deixar de considerar esses presidentes como amigos camaradas para vê-los como realmente são, chefes de estado que subvertem o estado de direito." Em outras palavras, chega de apanhar calado.
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