segunda-feira, setembro 29, 2008

O reino dos beiçudos

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Por Paulo Carvalho Espíndola

Cel Reformado

Brasília, 22 de setembro de 2008.



Terra de cavalos, zebras e muares de toda a ordem, a Cavalolândia passava por terríveis incertezas.

As mulas, sempre silentes, jamais ousaram divergir. As zebras, muito ariscas, não zurravam opinião, pois que estavam soltas na natureza e pouco lhes importava a dinâmica dessa terra. Entretanto, umas zebras cascudas atreveram-se a ler burrices de uma terra vizinha e pretenderam-se sabida, ainda que a sua sapiência fosse restrita a só o que estava nas leituras alienígenas.


Tudo era a cavalaria, inclusive o bem-comum nessa terra. Cavalos indômitos venciam guerras cruéis, apoiados em princípios estóicos muito parecidos com o que chamamos de Democracia.

Asnos eram os adversários. Lutavam não por si, mas por quem pensavam ser seus montadores, num lugar em que ninguém montava em ninguém. Essa era a diferença entre cavalos e asnos. Os primeiros não admitiam freios ou bridões, enquanto os outros almejavam por rédeas e encilhadas. Os asnos caíram na conversa de uma grande besta, segundo a qual “a asnice unida jamais será vencida”. Besta cantada em prosa e verso por zebras sabidas e donas da “cultura” do reino.


Deu-se uma grande confusão.


Esterco para todo o lado. A fedentina era grande, mas os burros e mulas, indiferentes a isso tudo, continuavam no seu trabalho, confiantes na bandeira de “ordem e progresso”.


A CAVALARIA GANHOU A GUERRA! VIVA A LIBERDADE!


Infelizmente, mortos estavam empilhados nos dois lados. Alguns, entretanto, perderam-se nos descaminhos dessa guerra, principalmente pela irresponsabilidade dos asnos que os levaram a morrer.


As sabidas zebras, pouco a pouco, remexendo estercos, daqui e dali revolvendo estórias mal contadas, foram reescrevendo a História. Os asnos viraram heróis e a Cavalaria a razão de todos os males. Os asnos desaparecidos eram o mote para um revanchismo cínico e fora da lei que assegurava a todos a anistia para relinchos e zurros exagerados de embates pretéritos.


Um sapo barbudo, furta-cor partidário das zebras, a tudo assistia e incentivava a vindita dos derrotados, embora coaxasse nada ver e nada saber sobre o assunto.


Houve um momento em que uma zebra, travestida de dona da Justiça, promoveu um congresso em que a fedentina foi tão evidente que o sapo desaprovou tanto descaramento. Os congressistas pretendiam tornarem-se donos de toda a alfafa do reino, condenando os cavalos a viver famintos em baias fechadas por grossas grades.


Ainda ontem, um velho cavalo desencaminhado dirigiu-se a suas antigas parelhas, instigando-os a puxar carroça para o sepultamento de asnos desaparecidos, num gesto que sugere piedade, mas que é - os eqüinos não têm a menor dúvida - uma oportunista submissão às zebras no poder.


Reza a lenda que o sapo barbudo, um dia, transformar-se-á em um cavaleiro de robusta armadura vermelha com a qual comandará um exército de zebras de listras da mesma cor. Os asnos serão seus cortesãos e os burros e mulas continuarão a acreditar em lendas, como ordem e progresso.


Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência...


A cavalaria estará morta e sepultada por toneladas de estrume.

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