segunda-feira, setembro 29, 2008

Analfabetismo: pior do que na Bolívia

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Brasil tem taxa de 10%: 14 milhões de jovens e adultos não lêem nem escrevem

Demétrio Weber e Letícia Lins*

19 de setembro de 2008

O GLOBO

O governo Lula chegou ao quinto ano com 14,1 milhões de jovens e adultos analfabetos no país, segundo a última Pnad. A pesquisa foi realizada em setembro de 2007 e revelou que o país permanecia com uma taxa de analfabetismo de dois dígitos - 10% (incluindo o Norte rural) - entre a população de 15 anos ou mais.

Em números absolutos, havia mais iletrados que a população da Suécia e da Noruega juntas. De 2006 para 2007, a taxa brasileira caiu de 10,4% para 10%. No Nordeste, 19,9% da população permaneciam sem saber ler e escrever.

O ligeiro recuo na taxa nacional, porém, nada contribuiu para melhorar a posição do Brasil num ranking latino-americano de 22 nações: o país ocupava a 15ª posição, atrás de Bolívia (9,7% de analfabetos), Suriname (9,6%), México (7,6%), Paraguai (6,3%), Chile (3,5%) e Argentina (2,4%). Em situação pior, estavam apenas República Dominicana (10,9%), Jamaica (14%), El Salvador (14,5%), Honduras (16,9%), Nicarágua (19,5%), Guatemala (26,8%) e Haiti (37,9%). Cuba tem a menor taxa: 0,2%.

A comparação usou dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

- É preocupante. O número de analfabetos ainda está muito alto - disse o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny.

O IBGE calcula também o chamado analfabetismo funcional, que considera a população com menos de quatro anos de estudo. No ano passado, 21,6% dos brasileiros estavam nessa situação. No Nordeste, o índice alcançava 33,5%, ou seja, mais de um terço da população.

O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, André Lázaro, disse que o ritmo de redução é inferior ao desejado, mas acentuou a tendência de queda: em 2004, a taxa era de 11,4% e caiu para 11,1%, em 2005, e 10,4%, em 2006.

- É lenta, mas consistente.

Lázaro criticou o governo de São Paulo, lembrando que o estado tinha o segundo maior número de analfabetos no país, atrás somente da Bahia, mas não investia em ações para combater o problema.

- São Paulo tem o segundo maior número de analfabetos, mas nenhum programa de alfabetização de jovens e adultos - disse Lázaro.

O Brasil Alfabetizado foi lançado em 2003, quando a prioridade do governo Lula era erradicar o analfabetismo na gestão do então ministro Cristovam Buarque. O programa investirá R$300 milhões este ano para atender 1,3 milhão de jovens e adultos. Segundo Lázaro, 30% das matrículas costumam ser de quem já sabe ler e escrever. Até hoje, o governo desconhece o impacto do programa, pois não sabe quantos alunos efetivamente são alfabetizados.

Em 1992, a taxa de analfabetismo brasileira era de 17,2%. Nesse período de 15 anos, a maior redução ocorreu no Nordeste: de 32,7% para 19,9%.

Analfabetismo é bem maior no interior do Nordeste

Não é preciso ir longe para ver que o analfabetismo vai demorar a acabar em Pernambuco, onde os próprios órgãos oficiais calculam que há 100 mil crianças fora da escola. Alberto Barbosa da Silva, de 13 anos e morador de Cabo de Santo Agostinho, é uma delas. Já tentou estudar duas vezes, mas não conseguiu aprender nada. Diz que não gosta de colégio. No ano passado, matriculou-se, mas só ficou no colégio por um mês. Não sabe ler, escrever e nem mesmo assinar o nome. Sua tia, Edite Barbosa da Silva, de 28 anos, parou de estudar ao 18. Cursou até a 4ª série: sabe ler e escrever "mais ou menos".

No Nordeste, as taxas de analfabetismo chegam a 19,9%. Mas há municípios, como Gameleira, onde 25% dos maiores de 20 anos não sabem ler nem escrever. No meio rural, esse número chega a 57%.

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