terça-feira, setembro 16, 2008

Assalto à Casa de Saúde Dr Eiras

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02/09/71

Animados com o resultado do assalto ao Hospital da Ordem Terceira, a CR/GB (Coordenação Regional/Guanabara da ALN – Ação Libertadora Nacional) planejou o assalto à Casa de Saúde Dr Eiras, em Botafogo. Levantaram o dia do pagamento dos funcionários, 02 de setembro de 1971, e partiram para a ação.


Faziam parte do GTA (Grupo Tático Armado): Flávio Augusto Neves Leão Sales, Hélcio Pereira Fortes, Antonio Carlos Nogueira Cabral, Sônia Hipólito, Aurora Nascimento Furtado, Isis Dias de Oliveira, Paulo César Botelho Massa, além de José Milton Barbosa, Antônio Sergio de Matos e Hélber José Gomes Goulart, vindos de São Paulo como reforço. O assalto ocorreu por volta das 1600 horas.


O GTA entrou em ação com a chegada do carro pagador na casa de saúde.


A guarda de segurança do hospital reagiu ao assalto. Depois de intenso tiroteio, Cardênio Jaime Dolce, Silvano Amâncio dos Santos e Demerval Ferreira dos Santos ( fotos acima) estavam mortos. Ficaram feridos o médico Dr. Marilton Luiz dos Santos Morais, o enfermeiro Almir Rodrigues de Moraes e o acadêmico Levi Carneiro.


Os assaltantes, além de CR$96.698,00 , levaram as armas dos seguranças mortos e aterrorizaram os doentes que no momento iniciavam o lanche...


O jornal Ação nº 2- porta voz das organizações terroristas, de setembro/outubro/71, fazendo apologia da chacina da Casa de Saúde Dr Eiras, assim justificou os assassinatos:


“A imprensa da ditadura procurou explorar politicamente a morte dos guardas, apresentando-os como vítimas inocentes. No entanto, é preciso ficar bem claro que, consciente ou inconscientemente, naquele momento agiram como defensores dos exploradores e de seu governo, atacando guerrilheiros. Por isso não foram poupados e nem serão aqueles que tomarem a mesma atitude.”


LUTO E TERROR NO ATO DA TRAGÉDIA


Esta foi uma das manchetes de um dos jornais que noticiaram o brutal assalto que deixou 21 crianças orfãs, vítimas de terroristas da ALN que metralharam covardemente três chefes de família, deixando suas viúvas e filhos desamparados.


As vítimas foram Cardênio Jaime Dolce, ex-comandante da Polícia Especial, ex-diretor de disciplina do Presídio Frei Caneca, delegado aposentado , chefe do Departamento de Pessoal e chefe de segurança da Casa de Saúde Dr Eiras, que deixou 4 filhos; o guarda Dermeval Ferreira dos Santos -10filhos - e Sílvio Amâncio dos Santos- 7 filhos. Dos descendentes das vítimas conseguimos localizar apenas Jayme Dolce, filho do delegado Cardênio Jaime Dolce.

Inconformado até hoje com a morte do pai, Jayme Dolce , morador de Varginha, Minas Gerais, assíduo visitante de nosso site, deu-nos, por telefone e e-mail, a seguinte entrevista:

A Verdade Sufocada - Jayme, fale-nos um pouco de seu pai.


Jayme - Meu pai era gaúcho e tinha 55 anos de idade quando foi assassinado por esses terroristas covardes. Deixou minha mãe, Dona Dalva, e quatro filhos menores. Nós residíamos na Rua Caruaru, 398, no Grajaú. Ele, depois de aposentado, trabalhava na Casa de Saúde Dr Eiras, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Era chefe do Departamento de Pessoal e da segurança da Casa de Saúde.


A Verdade Sufocada - Como era sua vida, enquanto seu pai era vivo?


Jayme - Tínhamos uma vida de classe média, morávamos em uma boa casa, estudávamos em bons colégios, éramos sócios de três clubes. Éramos uma família feliz. Minha mãe trabalhava para ajudar meu pai a criar os quatro filhos menores.


A Verdade Sufocada - Que idade tinham vocês , quando essa tragédia aconteceu?


Jaime -

Minha mãe tinha 36 anos, minha irmã Dênia, 13 anos, Luiz,12 , eu, 10 e Flávia 8 anos.


A Verdade Sufocada - Como passou a ser a vida de vocês?

Jayme - Minha mãe foi e é uma guerreira. Sua determinação deram forças para, com muita dificuldade e sem apoio de ninguém, educar e criar os quatro filhos sozinha. Não recebemos apoio de nenhuma autoridade , nem mesmo dos donos da Casa de Saúde pela qual ele morreu.


A Verdade Sufocada - E sobre os outros 17 órfãos você soube mais alguma coisa?


Jayme - Não, perdemos o contato com as outras famílias. Mas, imaginamos que as viúvas dos dois guardas, uma com 10 filhos e outra com 7, órfãos da violência desses bandidos , devem ter tido muitas dificuldades para criá-los.


Nós nos mudamos para Varginha depois que minha irmã Denia casou e, apesar de ter tentado mais dados sobre o assalto, não consegui localizar mais nenhuma das outras vítimas. Já me ofereci para várias cadeias de TV, como o Programa do Paulo Henrique Amorim - Domingo Espetacular- , para levar ao conhecimento do público, como agiam os "defensores da liberdade", esses "heróis" e nada consegui. Parece que só existe interesse em mostrar o lado dos terroristas.


Não queria que a memória de meu pai fosse esquecida. Parece, no entanto que para grande parte da mídia, esses bandidos é que são sempre lembrados. Seus filhos são as vítimas, recebem o conforto da mídia, indenização do governo, reportagens glorificando seus pais e homenagens do governo, colocando seus nomes em praças, ruas e escolas. O próprio presidente Lula sugeriu recentemente que os retratos desses "heróis” sejam colocados nas paredes do novo prédio da UNE.


Sei que são muitos os que, como nós, perderam seus entes queridos.Seus algozes, tentando implantar no Brasil uma ditadura comunista iniciaram essa luta insana que envolveu inocentes , chefes de famílias trabalhadores, enlutando o país.Hoje,eles se passam por vítimas e são cultuados como heróis.


Meu desejo e de minha família, assim como as outras que perderam parentes é que nossos entes queridos não sejam esquecidos e que a sociedade brasileira faça justiça aos que foram abatidos pelos terroristas e resgate aos seus familiares a certeza de que eles não morreram em vão.

Para quem perdeu um pai que cumpria com seu dever, como nós, essa situação, esse descaso com o nosso sofrimento é revoltante!

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