segunda-feira, outubro 20, 2008

Índios invadem e incendeiam obras de hidrelétrica em MT

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RODRIGO VARGAS

da Agência Folha, em Cuiabá

13/10/2008


Cerca de 120 índios da etnia enawenê nawê invadiram e incendiaram na manhã de sábado o canteiro de obras da PCH (Pequena Central Hidrelétrica) Telegráfica, na cidade de Sapezal (430 km de Cuiabá).


Pelo menos 12 caminhões foram destruídos, além dos alojamentos e do escritório avançado da Juruena Participações Ltda. - consórcio de empresas que constrói a usina.


A reportagem ouviu por telefone representantes da etnia na sede da Funai em Juína (740 km de Cuiabá). Em português precário, um deles, que se identificou como Xiru Enawenê, disse que a etnia não concorda com o número proposto de usinas. "Cinco pode, mais que isso não pode", disse.


Todos os diretores da Juruena Participações estavam ontem no local do ataque, no município de Sapezal, sem possibilidade de contato por telefone.


Equipamentos de informática e utensílios de cozinha do refeitório foram saqueados, diz a empresa. Os índios abandonaram o local em seguida.


"Eles chegaram armados com machados e pedaços de pau, expulsaram os funcionários e depois colocaram fogo em tudo", disse o coordenador-técnico ambiental da empresa, Frederico Müller.


Müller disse que ainda não é possível estimar os prejuízos com a ação. "É certamente algo que superará a casa do milhão".


A Telegráfica integra um complexo de dez usinas que será implantado ao longo de 110 km do rio Juruena, na região noroeste de Mato Grosso.


A Juruena Participações responderá por outras quatro obras do conjunto (Rondon, Parecis, Sapezal e Cidezal), enquanto o restante ficará a cargo da Maggi Energia, empresa do grupo empresarial do governador Blairo Maggi (PR).


Os índios reclamam que as obras vão causar impactos ambientais e reduzir a oferta de peixes. A Sema (Secretaria Estadual do Meio Ambiente), órgão encarregado do licenciamento ambiental, diz que o impacto será pequeno.


O secretário-adjunto da Sema, Salatiel Araújo, disse hoje "lamentar" o ataque às instalações da PCH. Segundo ele, dependia apenas dos enawenê nawê a assinatura de um acordo de compensação financeira em relação aos impactos previstos para a região - R$ 6 milhões, para as cinco etnias afetadas. "Quatro etnias aceitaram o acordo, mas eles não".


Desde o final de 2007, o Ministério Público Federal de Mato Grosso já propôs duas ações civis pedindo a suspensão das obras. Ambas questionam os impactos sócio-ambientais do projeto e o fato de o licenciamento ter sido feito por um órgão estadual.


Em abril, a Procuradoria obteve uma liminar no TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, mas a medida acabou cassada pelo ministro Gilmar Mendes, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).


A Folha tentou contato com os índios, sem sucesso. A assessoria do Grupo Maggi disse que um diretor estava em viagem e que somente ele poderia fornecer detalhes sobre os projetos da empresa na região. A reportagem conseguiu contato com o diretor da Juruena Participações, que prometeu ligar de volta. Até a conclusão desta reportagem, isso não ocorreu.


O administrador regional da Funai em Juína, Antônio Carlos de Aquino, chamou de "tragédia" a ação dos índios. "Foi algo totalmente inesperado".


A reportagem procurou o governador Blairo Maggi (PR), mas sua assessoria informou que somente a Sema se pronunciaria sobre o assunto.


JORNAL HOJE - 14/10/08


Parecer da Funai diz que estudo que permitiu licenciamento de usina é contraditório


15/10/2008


Parecer técnico concluído em agosto na CGPIMA (Coordenação de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente) da Funai afirma que o principal estudo que permitiu o licenciamento do complexo de usinas do rio Juruena (região noroeste de Mato Grosso) - onde um canteiro de obras foi invadido e incendiado por índios no sábado - é "contraditório", "incompleto" e não permite estimar os reais impactos das obras ao meio ambiente e aos índios.


"Mesmo com as medidas apontadas como mitigadoras [...] a margem de dúvida sobre a viabilidade ambiental dos empreendimentos em conjunto continua muito grande", diz trecho do documento.


O parecer, assinado pelo biólogo Marcelo Gonçalves de Lima, analisa os resultados da AAI (Avaliação Ambiental Integrada), o pré-requisito técnico para a renovação das licenças ambientais concedidas aos empreendedores - Juruena Participações S.A. e Maggi Energia S.A., do governador Blairo Maggi (PR).


O licenciamento das dez usinas previstas no complexo vem sendo feito pela Sema (Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso). A obras terão influência sobre áreas de cinco etnias: myky, pareci, nambiquara, rikbatsa e enawenê nawê.


No parecer, o técnico apresenta uma "forte recomendação" para que processo seja suspenso, enquanto não forem feitos "estudos de impacto ambiental detalhados".


"É o entendimento deste parecerista que o risco ambiental advindo da implementação de todos os empreendimentos supracitados no rio Juruena não foi devidamente mensurado".


Procurado ontem pela reportagem, o secretário-adjunto da Sema, Salatiel Araújo, disse que não iria comentar o teor do parecer. Na semana passada, em reunião com os índios, ele chegou a mencionar que o documento é "unilateral" e não-condizente "com a realidade do empreendimento".


Índios cobram pedágio ilegal em reservas de MT


JORNAL HOJE - 14/10/08


Esta reportagem foi sugerida por um caminhoneiro que é telespectador do Jornal Hoje. Ele viajou por uma estrada que corta áreas indígenas em Mato Grosso e nos contou essa história.


A estrada que corta a reserva no Parque Nacional do Xingu é controlada pelos índios. Há pontos ostensivamente vigiados por guerreiros. Para passar por lá, é preciso pagar.


Nossos repórteres foram pedir informações para os vigias:


Quanto custa para um caminhão bitrem?


– Caminhão bitrem carregado, custa R$ 180. – E vazio, quanto?


– Vazio, 150.


O pagamento é para atravessar o rio Xingu. Dois índios operam a balsa mantida pela tribo e, em menos de dez minutos, chega-se à outra margem. Nossa equipe pagou R$ 50 e recebeu o comprovante.


No documento, dá para ver que cada veículo tem um preço diferente. No caso dos ônibus, a cobrança é feita duas vezes:


– Quanto paga o ônibus?


– Sessenta.


– Mas aí é cada passageiro ou só o motorista?


– Não, cada passageiro também paga. Cinco reais, cada passageiro.


Foi o que aconteceu com os passageiros de um coletivo que saiu de Peixoto de Azevedo (MT) em direção ao Pará. Um deles, o aposentado Delson da Luz, reprovou a atitude dos índios: “Não acho correto, às vezes você sai com pouco dinheiro e tem que pagar”.


A rodovia existe há mais de 30 anos e é o principal acesso entre oito cidades do norte de Mato Grosso. Sem ela, a viagem fica quase inviável. "Ia demorar duas ou três vezes mais, a volta é grande", diz o pecuarista Cristiano Rocha.


Quando algum fazendeiro da região precisa usar a balsa para transportar o gado, a cobrança fica ainda mais cara. Os animais são levados até a beira do rio e embarcados em caminhões. Toda vez que a balsa é acionada, o motorista tem que pagar, na ida e na volta.


O tocador de gado Altamiro Moraes já perdeu as contas de quanto o patrão deixou com os índios. Numa ocasião, ele lembra, o pedágio passou de R$ 6 mil. “Foram 120 vezes, só tinha caminhão passando. O preço era R$ 60 para ir e R$ 60 para voltar”, conta.


Os pedágios em áreas indígenas se multiplicam por Mato Grosso. Na reserva Pareci, no sudoeste do estado, são duas estradas e cinco pedágios, que rendem aos índios R$ 20 mil por mês. “Não é exploração. A gente está cobrando porque eles estão passando perto da nossa aldeia”, justifica a cacique Mirian Kazaizokaio.


Para os motoristas, a cobrança é abusiva. “Eles ainda judiam da gente para passar. Uma vez eles queriam carona até o Xingu e seguraram o caminhão mais 40 minutos, até os índios mudarem de roupa”, conta o agricultor Valdomiro Vidarenko.


A Funai afirma que o pedágio cobrado pela tribo Paresi foi aprovado em pacto com o Ministério Público Federal, produtores rurais e pela comunidade indígena, como forma de compensar a passagem da estrada pela reserva.


Sobre o pedágio mostrado no começo da reportagem, no Parque do Xingu, a Funai afirma que não há acordo para cobrança e que o caso vai ser analisado.

PERGUNTAS:


- Foram os índios que construíram as estradas?


- Por que as reservas foram demarcadas em áreas pelas quais passavam estradas importantes para o Estado?


- A balça, a nota fiscal, as roupas que os índios usam foram criadas por eles e por sua rica cultura?


- Isso que os índios estão fazendo não seria crime de extorção?


- A reserva não é para manter os índios em suas culturas? Por que o interesse por dinheiro ‘da civilização’?

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