quarta-feira, outubro 08, 2008

Falsificações da História - O soldado brasileiro e a contra-revolução de 64

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Por Heitor De Paola

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Nota do autor: Este artigo é uma versão revisada e ampliada de outro já publicado aqui (Desfazendo alguns mitos sobre 64).

Resumo: A esquerda vocifera com tremendo estardalhaço a necessidade de serem abertos os "arquivos da ditadura". Apesar de estarem no poder e terem autoridade para obrigar os Comandos Militares a abri-los, apenas segue vociferando. Será que é por medo de verem seus atos de terrorismo, banditismo e assassinatos revelados ao público?


"Quem domina o passado, domina o presente;


quem domina o presente, domina o futuro".


GEORGE ORWELL, "1984"


PARTICIPAÇÃO DOS EEUU


Outro mito é sobre a participação americana no "golpe" de 64. Chamada de "Operação Thomas Mann" (nome do então Secretário de Estado Adjunto para a AL) não passa de uma mentira baseada em documentos forjados pelo Departamento de Desinformação através da espionagem Tcheca.


Quem montou a operação foi o espião Ladislav Bittman que, em 1985 revelou tudo no seu livro "The KGB and Soviet Disinformation: An Insiders View", Pergamon-Brasseys, Washington, DC, 1985. Segundo suas declarações, "A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas".


Outra fonte é o livro de Phyllis Parker "Brazil and the Quiet Intervention: 1964", Univ of Texas Press, 1979, onde fica claro que os EEUU acompanhavam a situação de perto, faziam seus lobbies e sua política com a costumeira agressividade e tinham um plano B para o caso de o país entrar em guerra civil. Entretanto, não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução do "golpe" de 64.


Embora as revelações tenham sido tornadas públicas em 79/85, a imprensa brasileira nada publicou a respeito, não permitindo que a opinião pública tomasse conhecimento da mentira que durante anos a enganou. Apenas a revista Veja, na sua edição nº 1777, de 13/11/02, publica a matéria "O Fator Jango", de autoria de João Gabriel de Lima, onde este assunto é abordado. Recentemente (3/7/2007), O Globo publicou com grande estardalhaço documentos que eram conhecidos desde 31 de março de 2004, aos 40 anos do movimento, quando a CIA desclassificou documentos da época que revelam um grande interesse da Casa Branca, do Departamento de Estado e da CIA no que estava por ocorrer no Brasil. Qual o interesse de "revelar" documentos já conhecidos há mais de 3 anos como se novidade fosse? Não sei, mas é mais uma peça de desinformação, pois o que demonstram é que havia planos para apoiar o movimento cívico-militar, o que já era sabido por todos que viveram aqueles tempos ou se interessaram em estudar.


A LUTA ARMADA E O AI-5


Finalmente, o mito de que brasileiros patriotas e democratas se levantaram em armas contra o "endurecimento da ditadura" através do Ato Institucional Nº 5, 12/68.


A UNE, foco permanente de agitação esquerdista ficou acéfala com a fuga para o exterior do Presidente eleito em 1963, José Serra, hoje Governador de São Paulo, e foi extinta pela Lei Suplicy (Lei Nº. 4.464, de 9/11/64). No mesmo ano, Alberto Abraão Abissamara, Presidente da UEE da Guanabara, tomou conta dos arquivos que sobraram e convocou um Congresso para julho de 1965, que veio a ser realizado no Centro Politécnico em SP, e no qual fui eleito Vice-Presidente de Intercâmbio Internacional.


Em outubro, fui preso em Fortaleza, o que impediu minha ida ao Congresso da União Internacional de Estudantes na Mongólia, onde seria traçada uma estratégia de recrudescimento da violência revolucionária na AL.


Quando retornei ao Rio, a Diretoria eleita naquele Congresso estava dissolvida, só restando o Presidente, Antonio Alves Xavier, o Primeiro Vice, José Fidelis Augusto Sarno, Altino Dantas e eu. O primeiro estava tomado de uma megalomania revolucionária que fez com que nos afastássemos dele e Altino tomou seu lugar.


Eu pensei que seria impossível levar avante a tarefa. Como me afastei, só vim a saber bem mais tarde que a missão que seria minha naquele Congresso da UIE era a de denunciar o "reformismo e a conciliação" daquela entidade com os "imperialistas". A denúncia foi feita e há notícias de que 13 delegações se retiraram do Congresso, entre as quais a delegação da UNE, a chinesa, a cubana e uma delegação norte-americana, o que foi confirmado por Carlos I. Azambuja.


NOS "PORÕES DA DITADURA"


Fui preso pelo DOPS e encaminhado ao 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, onde permaneci durante dois meses. A única tortura a que fui submetido foi permanecer este tempo todo incomunicável. Fisicamente jamais me tocaram, pelo contrário, fui bem tratado, inclusive em função de uma diarréia inicialmente verdadeira e artificialmente "prolongada" por mim, passei a comer no cassino de oficiais.


Vale recordar dois episódios, um hilário e outro que guardo com gratidão. Terminado o IPM eu poderia sair do quartel, mas, como estava por chegar um Promotor do Superior Tribunal Militar para me re-inquirir para a instrução do processo junto ao STM, o encarregado do inquérito, Major Edísio Facó, sugeriu que eu ficasse no quartel entre os toques de recolher e o de alvorada. Criou-se um impasse: como ficariam meus pertences durante minha ausência? Na época eu estava no xadrez da Enfermaria e o Sargento encarregado encontrou a solução: trancou o cadeado e entregou-me a chave! Que eu saiba fui o único prisioneiro da história a ter a chave da cela!


O outro episódio se deu porque, apesar da incomunicabilidade, consegui que um soldado que terminara sua pena passasse um cabograma para meu pai avisando que eu estava preso. Meu pai era maçom, tendo galgado todos os postos dentro da Ordem, menos o de Grão-Mestre. Mas o Grão-Mestre do Rio Grande do Sul era muito amigo e comunicou-se com o do Ceará, Sr. José Ramos Torres de Melo que foi me visitar sem poder falar comigo, a não ser através do Chefe da S2, e, quando saí, tratou-me com um pai, emprestou-me a quantia que eu precisava para retornar ao Sul, sem me permitir sequer passar um recibo - "entre irmãos isto não é necessário, sei que seu pai me pagará".


Muitos anos depois, já nesta luta "do outro lado", vim a saber que se tratava do pai do General Francisco Batista Torres de Melo, Presidente do Grupo Guararapes.


DE VOLTA


De 66 - ano da Conferencia Tricontinental de Havana e da fundação da Organización Latino Americana de Solidaridad (OLAS) - a 68, participei, no Sul, das intensas discussões clandestinas sobre a luta armada conduzidas por militantes da AP treinados em Pequim. Em janeiro de 68, 11 meses antes da edição do AI-5, a luta foi implementada por todas as organizações revolucionárias, menos o PCB. A AP "rachou", eu fiquei do lado contrário à maluquice da luta armada. Logo depois, mudou o nome para Ação Popular Marxista-Leninista do Brasil, o que já estava previsto no citado documento secreto desde 63/64.


Como vários autores mais credenciados já têm se manifestado sobre isto, não vejo necessidade de mais para deixar claro que o AI-5 não passou de uma reação ao incremento das atividades revolucionárias, e não o oposto, como reza a "história oficial".


Um outro fator a influenciar minha decisão de sair foi quando, numa reunião do "Comando Zonal Sul - RS", discutia-se o caso de um militante recém "ampliado" que, por força de nosso apoio tornara-se Presidente de um importante Centro Acadêmico e dava mostras de "fraqueza ideológica" e independência de pensamento. Passou-se a discutir se, num processo revolucionário aberto, que estava em preparação, alguém teria coragem de matar um "companheiro" ou ao menos dar a ordem para isto. Eu disse que teria coragem de dar a ordem. No momento, até a mim mesmo pareceu uma bravata, mas, mais tarde, pensando comigo mesmo, fiquei horrorizado com a possibilidade de chegar a um ponto em que isto se tornaria inevitável: numa situação plenamente revolucionária pode chegar o momento do "ou ele ou eu". Isto aconteceu em final de 1967; logo em janeiro de 1968 fomos informados das preparações para a "luta armada contra a ditadura". Era a hora de dar o fora, o que fiz, não sem sofrer ameaças por parte de meus antigos "companheiros".


Anos depois, ao re-encontrar a esposa de um antigo "companheiro", ela me contou que o mesmo tinha passado para a clandestinidade, tornando-se um revolucionário profissional. Ela o acompanhara até o momento em que ele lhe mostrou a "necessidade revolucionária" de estar disponível para satisfazer sexualmente outros militantes clandestinos que não tinham como fazê-lo sem risco, fora da organização. Profundamente decepcionada ela o abandonara e voltara para sua cidade e sua família. Mas não pensem os leitores que isto é uma exceção: é a regra!


O estranho em tudo isto é que a esquerda vocifera com tremendo estardalhaço a necessidade de serem abertos os "arquivos da ditadura". Apesar de estarem no poder e terem autoridade para obrigar os Comandos Militares a abri-los, apenas seguem vociferando. Conheço inúmeros militares que desejam ardentemente que estes documentos sejam abertos, mas não podem fazê-lo sem ordem superior. Um deles, o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, vem tentando inutilmente discutir os fatos ocorridos naqueles tempos e não rejeita ser acusado; o que pede - e é de seu pleno direito - são provas e não boatos, fofocas, meros testemunhos sussurrados nas universidades, nas redações e nas reuniões sociais do jet set! Porém, parece que a intenção da esquerda é julgá-lo a priori, antes de ser condenado, só porque pertenceu à odiada "comunidade de informações".


Quem teme a abertura que tanto pedem by lip service são os que construíram esta mentira em toda a América Latina; temem que as novas gerações descubram que foram seus atos terroristas que levaram à autodefesa dos governos militares das décadas de 60-70, e não o contrário.


Os soldados brasileiros não têm de que se envergonhar. Comemorem o seu dia!

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