quarta-feira, novembro 19, 2008

VISITA DE GABEIRA AO CLUBE MILITAR: CORDIALIDADE QUE COMPROMETE A IDENTIDADE DA INSTITUIÇÃO?

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André F. Falleiro Garcia

COMENTÁRIO DESTE SITE: Essa é uma opinião válida sobre o episódio, embora não seja a única e ainda que posa ser uma questão ponderável. Na minha opinião, entre votar em um 'vendido oportunista' ou em um 'esquerdista convicto que não apoia Lula apenas por sua suposta traição ideológica ao legítimo socialismo' não são opções, nem de longe, abrangentemente democráticas. Para mim, trata-se da ditadura de um sistema político muito distante do que se poderia chamar de representativo e que nos impõe candidatos de ideologia única, obrigando os cidadãos ao constrangimento de terem que optar QUASE QUE SEMPRE, E EM TODAS AS ELEIÇÕES, entre o candidato 'este, nem pensar, pelo amor de Deus!' e o 'vou ter que votar neste imbecil para evitar que o nem pensar ganhe'. No meu caso, ainda não raiou no horizonte o dia em que eu tivesse visto como inevitável ter que votar num socialista ex-guerrilheiro de carteirinha. Um vendido é um vendido - basta o vento mudar e ele adere aos novos rumos. Talvez represente menos perigo.

MATÉRIA:


Fernando Gabeira, maior figura do Partido Verde e candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro no segundo turno das eleições, foi recebido em clima de cordialidade no Clube Militar, conforme noticiou O Globo. [1]


Na "visita histórica", como classificou Gabeira, foi recepcionado pelo presidente da entidade, general Gilberto Figueiredo, e dez outros militares de alta patente, da diretoria do Clube, que reúne dez mil militares da reserva no Rio. Segundo o general, "grande número" de militares, sobretudo do Exército, vai votar em Gabeira, apesar de haver outros que "jamais vão votar, por causa do passado". E afirmou que o principal ponto em comum entre os militares e Gabeira é o "combate à imoralidade" na vida pública.


Para o general Figueiredo, "há um simbolismo" nessa visita"; trata-se de "um encontro meio inusitado, um antigo guerrilheiro sendo recebido no Clube Militar"; a "presença do Gabeira aqui é fruto do amadurecimento de uma democracia, de pessoas que se desentenderam e que hoje podem conversar"; "o importante é defendermos o estado de direito, e esse encontro é uma pedrinha a mais nessa construção".


Por sua vez, Gabeira comentou: "estivemos em lados opostos na Guerra Fria, mas temos pontos em comum: vontade de resolver as coisas na prática e resistência à corrupção e ao desvio do dinheiro público".


O encontro foi objeto de comentários - tanto elogiosos quanto críticos - nos meios militares. Elogiou-o, por exemplo, Afonso Arlindo, que foi advogado do Exército por 30 anos, voluntário da campanha de Gabeira: "Gabeira hoje é uma pessoa tranqüila. Pode estabelecer a harmonia entre os Poderes".


Fazendo eco da insatisfação e inconformidade com a amena referência de que Gabeira é apenas um ex-integrante da luta armada contra a ditadura, comentou Félix Maier: "Ex-guerrilheiro, não: ex-terrorista! Além de seqüestrar o embaixador americano Charles Elbrick, Gabeira é acusado de matar um policial federal nos tempos de terrorista. Meu amigo Eli Meireles, já falecido, viu com os próprios olhos uma das ações desse terrorista, ao assaltar um quartel do Exército no Rio onde Eli tirava serviço de comandante da guarda. Será que o antigo terrorista e importador de sementes da cannabis mudou seu comportamento? Eu não acredito". [2]


No dia seguinte à "visita histórica", Gabeira participou de um almoço de adesão a sua candidatura, ao qual compareceram, entre outros, o teólogo Leonardo Boff, expoente da Teologia da Libertação, e a senadora petista Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente. O que equivale - se dúvida houvesse - a um "atestado de idoneidade ideológica" esquerdista. Da parte do candidato Gabeira não houve perda de identidade. [3]


Não será aqui tratada a oportunidade política dessa visita. A opinião política é controversa, além de não estar situada no campo específico da atuação militar. Esta análise terá em vista a guerra psicológica revolucionária, tema pertinente ao conhecimento militar. Se as lições da academia militar foram esquecidas, será oportuno recordá-las. Com isso justificamos a atitude vigilante de Félix Maier: não se trata de raiva pessoal ou de diferença de opiniões políticas, mas de inconformidade com a equivocada atitude infelizmente tomada pela atual direção do Clube Militar.

A guerra psicológica revolucionária


A arte da guerra considera a psy war um recurso moderno e altamente eficaz. O marechal russo Nikolay Bulganin afirmou "A guerra moderna é uma guerra psicológica, devendo as Forças Armadas servir apenas para deter um ataque armado ou, eventualmente, para ocupar o território conquistado por ação psicológica". [4]


Não serviu apenas para o período da chamada Guerra Fria. Sua aplicabilidade não está só voltada para o tempo de guerra, mas também para o tempo de paz, que entremeia os choques físicos entre os exércitos beligerantes. É o que destacou o especialista francês Roger Mucchieli: "A concepção clássica fazia da subversão e da guerra psicológica uma máquina de guerra entre outras, durante o tempo das hostilidades e cessavam com o fim destas. Os Estados de hoje, imobilizados por esta distinção arcaica, não compreenderam que a guerra psicológica faz estourar a distinção clássica entre guerra e paz. É uma guerra não convencional, estranha às normas do Direito Internacional e às leis de guerra conhecidas; é uma guerra total que desconcerta os juristas e persegue seus objetivos ao abrigo de seus códigos .... A guerra moderna é antes de tudo psicológica, e a relação com as armas clássicas está invertida". [5]


Enquadra-se no contexto da guerra psicológica revolucionária a ofensiva das esquerdas para a conquista da opinião pública ocidental. Praticada largamente durante a Guerra Fria, continua atualíssima, sobretudo neste continente em que elas tentam recuperar o que perderam no leste europeu após a queda do Muro de Berlim. Ademais, a psy war extrapola os meios militares, na medida em que nela colaboram ativamente políticos, publicitários, órgãos da mídia, clérigos da esquerda católica etc.


Queda das barreiras ideológicas, artifício psicológico que induz à apatia


Clausewitz, no século XIX, enunciou o princípio de que a vitória sobre um povo não consiste em destruí-lo fisicamente, mas em lhe tirar a vontade de perseverar na luta. Não é possível estudar seriamente a guerra psicológica revolucionária sem levantar a questão do estado de apatia em que hoje está mergulhada a opinião pública em numerosos países ocidentais. Há nela um torpor que manifesta uma generalizada falta de vontade de lutar. E há também um desvanescimento das razões e dos princípios que constituem os motivos pelos quais ela deveria lutar.


Julián Marías, que foi senador constituinte, notou essa atonia na opinião pública espanhola nos anos 80 e a descreveu: "A passividade induzida pela propaganda no corpo social leva a um estado de anestesia que permite a manipulação e suprime os reflexos e, o que é pior, o exercício da inteligência e da vontade".[6] Disse ainda: Está em curso uma operação em grande escala que poderíamos chamar a anestesia da sociedade espanhola".[7]


Tal anestesia social provoca nas almas uma deterioração muito profunda. Nelas é vulnerado o ponto de partida para o pensar, o querer e o obrar: o princípio da contradição.[8] Graças a esse mecanismo da razão natural podemos distinguir a verdade do erro, o bem do mal, o belo do feio. O operar humano, que deveria buscar a prática do bem e evitar o mal no plano individual e social, fica prejudicado por essa deterioração.


Numa nação em que se encontra robustecido o princípio da contradição, as personalidades se desenvolvem, florescem as instituições, a Fé ilumina o porvir. Realiza-se de modo esplendoroso, na sociedade e no lar, a palavra do Evangelho: "Seja vossa linguagem: sim, sim; não, não" (Mt. 5, 37).


A queda das barreiras ideológicas é um dos inúmeros artifícios psicológicos da guerra moderna, como o pragmatismo político, o pluralismo político-ideológico, a busca do '"diálogo" e do "consenso", "companheiros de viagem" etc. Derrubam-se barreiras não só ideológicas, mas também psicológicas. A apatia é um dos efeitos provocados por esse artifício. Outro deles é o colaboracionismo com as esquerdas.


Com efeito, derrubadas as muralhas, no primeiro momento os mais resistentes ficam desacreditados e desanimam; a maior parte fica apática e procura tomar uma posição de eqüidistância dos opostos; um número menor passa a colaborar ativamente com as esquerdas.

A visita de Gabeira ao Clube Militar


O simbolismo da visita de Gabeira ao Clube Militar está ligado à quebra dessas barreiras psico-ideológicas. Nela foram simbolicamente detonadas as muralhas que separavam anticomunistas - que patrioticamente protagonizaram o restabelecimento da ordem em 1964 - e comunistas, socialistas e demais esquerdistas que participaram ativamente do movimento subversivo nos anos 60-70.


E o que dizer da distância entre a atitude de apatia e o colaboracionismo com as esquerdas? Tênue véu de fumaça poluidora... superado facilmente no clima de campanha política pelo "grande número" de militares de reserva que vão apoiar Gabeira, segundo declarou o general Figueiredo.


Desse modo, o Clube Militar do Rio de Janeiro foi cenário de mais uma derrota militar na guerra psicológica revolucionária. Não menos autodemolidora foi a iniciativa do General de Exército José Benedito de Barros Moreira, que em julho de 2006 levou João Pedro Stédile, integrante da direção nacional do MST, para dar lições sobre Reforma Agrária e Meio Ambiente na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, para cerca de cem estagiários civis e militares.


O Clube Militar vai sendo levado a perder a identidade consigo mesmo. O mais dramático, é que o inimigo penetrou nele como amigo, com direito a abraços, sorrisos e fotos. "O preço da liberdade é a eterna vigilância": ainda se ensina isto nas escolas militares brasileiras?


Relato, para encerrar, um fato. Com certeza ajudará o leitor a se despoluir dessa "visita histórica". No Colegio Militar de la Nación, situado na Província de Buenos Aires, foi apresentado um filme mostrando casos de resistência de militares a ordens de seus superiores. Estava presente a ministra da Guerra (ex-guerrilheira da facção Montoneros). O enredo procurava insinuar ao espectador que os que lutaram contra a guerrilha deveriam ter resistido aos seus superiores e aderido à causa vermelha. Quando acabou a exibição, a ex-montonera perguntou por que os presentes não aplaudiram. Um oficial então explicou que ali não havia o costume de aplaudir os filmes apresentados. Em seguida, levantou-se um cadete dizendo que se tivesse sabido antecipadamente que o Colegio Militar viria a tomar rumo na linha do filme, teria desistido de iniciar a carreira. Suas palavras foram seguidas de uma explosão de aplausos e felicitações dos presentes, que deixaram a ex-montonera terrorista sem ter o que dizer.


NOTAS


1 - O Globo, 20.10.2008.

2 - Comentário postado no site Usina de Letras.

3 - FOLHAONLINE, 21.10.2008.

4 - Apud Hermes de Araújo Oliveira, Guerra Revolucionária, Bibliex, Rio de Janeiro, 1965, p. 60).

5 - Roger Mucchieli, La Subversion, Bordas, Paris, 1972, pp. 26s.

6 - ABC, 10/03/1985.

7 - ABC, 07/11/1986.

8 - Princípio da contradição: uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista.


O CLUBE MILITAR JUSTIFICA


Clique na figura abaixo e veja a nota expedida sobre o tema do presidente do Clube Militar e ainda uma entreista que concedeu ao jornal Correio Braziliense.


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