sexta-feira, agosto 15, 2008

Cortando carnes e essências

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Anselmo Heidrich

http://acasadefenrir.blogspot.com/2008/05/cortando-carnes-e-essncias.html

Já vi muitas demonstrações do mito do "bom selvagem", mas esta de ontem parece que superou todas as demais.

Em Altamira/PA, um engenheiro que debatia sobre a construção de hidroelétricas no Rio Xingu minimizando o alarde ambientalista sobre seus impactos ambientais foi ferido com corte profundo de facão.

Havia cerca de 600 indivíduos presentes na platéia que, sob clima tenso, foram claramente insuflados por um integrante do Movimento por Atingidos por Barragens (MAB) que bradou "nós iremos à guerra para defender o Xingu se for preciso".

E agora a Polícia Federal abre investigação para descobrir quem armou os índios, já que o golpe certeiro foi desferido por um deles, presente no local.

Que os integrantes do MAB são um bando de baderneiros, que muitos deles nunca habitaram as regiões de lagos formados por barragens (em plena selva amazônica), disto não tenho quaisquer dúvidas. Mas, isentar um indígena de responsabilidades cíveis e criminais, só mesmo sob o anacrônico escrutínio de um Estatuto do Índio que serve, entre outras coisas, para atrocidades deste naipe.

Facão é uma arma tão moderna, que precisa ser contrabandeada? Índios não portam facões, entre outras "armas brancas" desde muitos séculos? Dizer que alguém induziu o indivíduo à violência reside em sofisma atroz. Pouco importa o DNA do envolvido, mas sim seu ato.

Pega mal chamar um índio de bandido, então que se avente ter sido levado às vias de fato já que, desde Rosseau, eles são "bons selvagens".

Quando em 1989, uma índia apontou um facão no peito do presidente da Eletronorte, que discutia na ocasião a construção da mesma usina, alguém teria insuflado a "ingênua"?

Lendo este tipo de estultice, fica difícil não concordar que a legislação brasileira exime de culpa (acabando por incentivar também), o assassinato desde que o crime seja cometido por silvícolas.

Lembrei-me de um gibi de Moebius, o fantástico quadrinhista com uma história intitulada "O homem é bom?", na qual um terráqueo foge, desesperadamente, de hordas alienígenas. Na corrida, o sujeito consegue alcançar o topo de uma estrutura, na qual encurralado é capturado e levado ao líder das hostes insanas. Erguido, seu braço é arrancado pelas poderosas mandíbulas da besta. Entre seus urros de dor, o degustardor grunhe ao que é traduzido no pé da página: "o homem não é bom!"

Para mim, homens, caucasianos, negros, índios, azuis, amarelos, roxos, rosas etc. não são bons nem maus. Procurar uma essência neles não passa de mitificação.

Mas, com certeza, alguns mitos podem ser comprovados na realidade: há indivíduos muito bons no talho do facão.

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