Forças Armadas
A nova geração dos oficiais do Exército
vem de famílias pobres de sargentos e soldados
"A gente era pobre mesmo", disse na semana passada um dos novos generais promovidos pelo presidente, Jorge Alves de Carvalho, a alguém que lhe perguntou sobre sua infância. Aos 54 anos, dono de uma carreira exemplar no Exército, o general Carvalho é oriundo de família humilde do Rio de Janeiro. Seu pai era funcionário público e sua mãe, dona de casa. Graças ao Exército, mudou de patamar social. O caso de Carvalho é emblemático porque ele é o segundo negro a ir tão longe na carreira militar. O primeiro tornou–se general na década de 50. "Para mim, o Exército permitiu uma ascensão social incrível", revela outro general, Jarbas Bueno da Costa, promovido em junho do ano passado. O pai sustentava a família com salário mínimo, e os irmãos são operários e levam uma vida modesta.
As Forças Armadas sempre foram um motor importante de ascensão social. Todos os anos milhares de jovens se alistam e muitos são convocados para passar um ano servindo no quartel. Recebem tratamento dentário gratuito, roupa, comida, educação e aprendem um ofício. De um tempo para cá, no entanto, observa–se uma segunda fase desse fenômeno, atingindo os oficiais. Há 100 anos, metade dos oficiais era constituída de filhos de generais. Cinqüenta anos atrás, um em cada cinco oficiais vinha de famílias de militares. Os quatro oriundos de famílias de civis eram de classe média e classe média alta. Atualmente, boa parte dos generais é de filhos de militares de baixa patente. Ou seja, o sujeito entrou no Exército para melhorar de vida e avançou um pouco, chegando a cabo ou sargento. Agora o filho virou general. É o caso do general Rômulo Bini Pereira, atual comandante do IV Exército em Minas Gerais, filho de sargento. Ou do general Akira Obara, o primeiro nissei no cargo, filho de um soldado japonês que combateu na guerra russo–japonesa, em 1904.
A História brasileira tem vários exemplos de pessoas oriundas de famílias humildes que chegaram ao generalato, como o ex–presidente Ernesto Geisel. Seu pai era um imigrante órfão alemão que tocava lavoura no interior do Rio Grande do Sul e teve três filhos generais. Há outros casos exemplares. A diferença é que, antes, os oficiais muitas vezes introduziam o filho na carreira militar, criando linhagens. O ex–presidente João Figueiredo teve um avô oficial que combateu na Guerra do Paraguai e seu pai foi general. O ex–ministro do Gabinete Militar Bayma Denys é filho de general. Há um exemplo até mesmo na família do presidente Fernando Henrique. Seu avô era general, o pai era coronel, promovido a general quando foi para a reserva, e o tio, general. Isso é cada vez mais raro. Os filhos dos coronéis e generais estão preferindo tentar a sorte como advogados e engenheiros na iniciativa privada. As vagas acabam sendo disputadas por filhos de cabos e sargentos, porteiros e pedreiros.
Todos os anos até 15.000 jovens concorrem a uma vaga na Academia Militar das Agulhas Negras (única porta para o generalato), mas apenas 500 são aceitos. É dos vestibulares mais concorridos do país. Quem se forma vira tenente e tem uma carreira assegurada até coronel. Mas apenas um em cada grupo de trinta acaba general. É uma carreira lenta e quem decidir enfrentar a profissão deve estar disposto a trabalhar muito e ganhar um soldo baixo. Aquele que alcança o topo da carreira ganha um salário líquido de 3.500 reais. Segundo os especialistas, o ordenado baixo é uma das razões para a mudança no oficialato. Na década de 40, quando os generais tinham filhos generais ou mesmo netos generais, os militares chegavam a ganhar cinco vezes mais do que hoje.
A mudança no meio militar não deve ser compreendida como um fato isolado. Para onde quer que se olhe, seja nas empresas, seja na política, as elites vêm passando por uma transformação, na qual os nomões do passado são substituídos por emergentes. O governador paulista, Mário Covas, é filho de comerciante de café. Olacyr de Moraes ajudava o pai a receber o pagamento pelas máquinas de costura que vendia. Assim como muitos outros membros das atuais classes dirigentes nacionais, os novos generais entraram para a elite, não nasceram dela. Em um estudo clássico das ciências sociais, Mobilidade e Desigualdade Social no Brasil, o sociólogo paulista José Pastore demonstra que quase metade dos brasileiros subiu de vida em relação aos seus pais, do início do século até 1973. Apenas um terço das pessoas que mandam no país é formado por filhos de gente poderosa. Os outros dois terços vieram de famílias de classe média ou de casas pobres.
O decreto de promoções assinado por FHC tem uma segunda marca, que merece registro. Até bem pouco tempo atrás, quem olhava a lista de novos generais buscava identificar os que ali eram liberais e os que eram linha–dura para saber que rumo ideológico as Forças Armadas estariam adotando. Isso era vital para prever qual seria o destino do país. Escarafunchava–se também o passado de cada um dos novos promovidos em busca de alguém que tivesse participado de episódios obscuros durante o regime militar. Não é mais assim.
2 comentários:
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