Carlos Hernán Tercero
Muitas pessoas temem que o comunismo seja implantado no Brasil. Elas imaginam o caos social que isso poderia significar. Afinal, os grupos sociais tendem à anarquia, somente comportando-se dentro de limites em função de temerem a ação repressiva das leis e regulamentos, de buscarem as recompensas inerentes aos procedimentos reconhecidos como virtuosos ou de evitarem serem classificados como pessoas maléficas à coletividade. Essas recompensas, leis e regulamentos normatizam a qualificação do mérito ou do demérito dos indivíduos na sociedade. Assim funciona o nosso atual sistema político que diferencia as pessoas de acordo com suas diversas capacidades. Contra esse tratamento diferenciado voltam-se os marxistas. A comunização do Brasil, significaria, pois, o fim das diferenças no tratamento de individuos desiguais, passando o esforço pessoal de cada um pela obtenção de maiores qualificações a nada significar em termos de ganhos a serem obtidos. Seria o triunfo das ações destinadas a anularem progressivamente os valores de nossa tradicional sociedade, ações estas que, diga-se de passagem, os últimos governos de esquerda têm apoiado ou tolerado. Seria o estímulo à inércia e à lei do menor esforço.
Por outro lado, os que defendem a implantação do comunismo como solução para os problemas da humanidade alegam justamente o oposto. A implantação da comuna universal traria a solução para os atuais problemas sociais que contribuem para dividir a sociedade entre os que têm e os que não têm. A eliminação das classes sociais igualaria o tratamento dispensado a todos os cidadãos os quais usufruiriam livremente dos direitos que, segundo eles, agora beneficiam apenas a burguesia.
Positivamente, esses dois grupos de pessoas jamais se entenderam, chegando a, em passado recente, recorrerem à luta armada para fazerem valer suas idéias. Tal dissensão tem contribuído negativamente para a coesão nacional com graves prejuízos ao progresso de nosso país.
Mas, alegrem-se os que se preocupam com essa questão! Seus problemas estão resolvidos! O comunismo já foi implantado, a nível nacional, em significativo setor de nossa sociedade dita de consumo!
Em tal segmento, todos são igualmente poderosos, todos dispõem de bens materiais equivalentes, todos estão sujeitos às mesmas dificuldades e às mesmas oportunidades. Nenhuma repressão é exercida de modo diferenciado. Cada um pode agir e pensar livremente. Quaisquer idéias podem ser implementadas no momento em que são imaginadas. Não há muros nem excluídos. Não há classes. Todos são iguais.
Esse lugar existe
É com base no testemunho do modus operandi desse modelo que podemos tirar algumas conclusões práticas acerca de como seria a implantação dessa ideologia no Brasil, já que, teoricamente, ela propugna a adoção de cenário similar ao já existente nas vias públicas das cidades de nosso país.
Vejamos alguns exemplos das cenas a que todos estão habituados no ir e vir diário entre dois pontos de nossas aprazíveis artérias viárias. È comum no trânsito das grandes cidades encontrarmos:
• Pessoas provavelmente atrasadas ou apressadas, ultrapassando pelo acostamento,
• Motoristas que buzinam atrás de nós cerca de um milésimo de segundo após a abertura do sinal luminoso,
• Viaturas que, não podendo efetuar ultrapassagem, trafegam a cerca de um milímetro de nosso pára-choque traseiro, algumas vezes proferindo palavras de exortação a que aceleremos um pouco mais. Outras, alardeando referencias desairosas a nossos genitores,
• Motoristas que, irritados por não terem podido ultrapassar-nos na hora em que desejavam, o fazem ameaçando jogar-nos fora da via, por vezes obrigando-nos a frear de modo a evitar pequena colisão,
• Condutores que, trafegando no sentido inverso, produzem intensa iluminação frontal, cegando-nos, apesar disso implicar em risco para eles mesmos,
• Pequenos coletivos de aluguel que param no intuito de recolherem passageiros, impedindo nosso caminho por minutos apesar de terem, em muitos casos, a oportunidade de o fazerem no acostamento,
• Indivíduos que, ao depararem-se com um engarrafamento produzido por sinal de trânsito, invadem o cruzamento, interrompendo o tráfego perpendicular, de forma a encurtarem alguns minutos de suas viagens,
• Grandes viaturas coletivas que transitam lançando mão de sua forte personalidade, produzindo, por vezes, alterações somáticas em nosso sistema nervoso,
• Pessoas que, provavelmente por razões para eles justificadas e ignoradas por nós, avançam todo e qualquer sinal de trânsito em desabalada carreira, por vezes, esmagando os transeuntes mais distraídos,
• Motoristas que trafegam em velocidades um pouco acima da máxima imaginada pelos seres humanos comuns,
• Motoristas que trafegam em velocidades um pouco abaixo da mínima que pessoas idosas consideram excesso de zelo,
• Carroças puxadas por diversos tipos de animais que se movimentam em suas velocidades típicas em vias de trânsito rápido,
• Inacreditáveis quebra-molas, sem sinalização, erguidos pela população local em honra a motorista célere que lá transitou alguns anos atrás,
• Buracos assustadores capazes de engolirem viaturas inteiras,
• Pessoas que tentam salvar seus pais da forca, efetuando ultrapassagens que sabem que não poderão completar sem que nos obriguem a sair da via em que transitamos,
• Alegres motociclistas que, a todo instante, demonstram manobras arriscadas para quebrarem a monotonia do trânsito costumeiro de todos os dias, passando ora pela esquerda, ora pela direita incessantemente, a milímetros de nossos lentos veículos,
• Advertências variadas, seja por meio de silenciosa intermitência de faróis, seja por agradáveis e sonoras buzinadas, seja por gestos que tentam nos inteirar da contrariedade que algum tipo de ação adotada por nós possa estar causando,
• Algumas pessoas persistentes que insistem em que não trafeguemos à sua frente, agindo como se nos desafiassem para uma competição, mas que, tão logo nos ultrapassam, diminuem a marcha, talvez para nos enviarem mensagem acerca da velocidade que consideram justa para o nosso deslocamento,
• Motoristas que desenvolvem novos métodos de manutenção, fazendo com que seus veículos produzam efeitos visuais redutores de visibilidade, pela intensa produção de gases com odores variados,
• Prodigiosos condutores que efetuam cavalos de pau e outras sensacionais manobras durante pegas para distraírem populares, que provavelmente consideram entediados,
• Simpáticas atitudes de condutores que estacionam suas máquinas nas entradas destinadas a outros veículos,
• Estimulantes ações de elementos que, ao entrarem ou saírem dos locais de estacionamento, o fazem de modo a alterarem a posição de nossos carros situados em posição adjacente, empurrando-os suavemente,
• Conscientes cidadãos preocupados com nossa possível redução de visibilidade ocasionada por sujeira no pára-brisa que, diligentemente, derramam líquidos de origem desconhecida sobre nossas viaturas e esfregam límpidos tecidos sobre as superfícies assim encharcadas. Essas ações nos emocionam a ponto de alguns de nós, que não possuímos carros blindados, oferecermos a elas recompensa monetária por tão estimulante ato,
• Em ambiente tão igualitário, alguns indivíduos solicitam para seu uso nossas viaturas, com toda a certeza preocupados com os riscos que possamos correr ao dirigi-las, convencendo-nos de modo inconfundível e irrecusável a concordarmos com sua atitude reivindicatória,
• Competitivas gincanas a que se submetem os que procuram estacionar seus carros em espaços para isso alocados que, todavia, tornam-se a cada dia mais raros em certos horários. Nessas gincanas, a precedência nem sempre é totalmente obedecida, não raro, obrigando-nos a permitir que veículos retardatários ocupem a vaga que a nós caberia no intuito de resguardarmos nossa integridade física,
• Artistas populares que exibem seus talentos cobrindo com traços coloridos as placas de sinalização que, assim, tornam-se ilegíveis desafiando nosso intelecto,
• Desportistas do tiro ao alvo, que praticam sua perícia perfurando os aparelhos detectores de infrações, possivelmente por não concordarem com esse tipo de delação.
• Etc. etc.
Essas cenas quotidianas auxiliam-nos a antever como seria o advento do comunismo como regime político em nosso país. Basta que você empregue a sua imaginação e faça analogias, transpondo as cenas de nosso trânsito para outros segmentos de nossa sociedade.
Existe, também, um outro local onde a ideologia comunista já foi implantada e que abrange um número bem maior de indivíduos do que os que freqüentam o trânsito: as praias. Vejamos algumas imagens que se formam em nossas mentes ao lembrarmo-nos desses aprazíveis locais (além das belas imagens femininas costumeiras):
• Insistentes comerciantes locais que tentam nos vender alguns produtos comestíveis ou bebíveis de seu interesse, embora, não raro, a aparência desses produtos nos aconselhe a recusa a tais oferecimentos,
• Pequenos empresários que, preocupados com nosso bem estar, tentam adivinhar nossas necessidades insatisfeitas, oferecendo-nos produtos assim como, óculos de sol, óleos de bronzear, redes onde possamos descansar chapéus de todos os tipos, saídas de praia, toalhas, convites para hospedarmo-nos em hotéis das proximidades, bijuterias, jornais e todo o tipo de conveniência de modo a que não fiquemos jamais com sentimentos de solidão em meio a tanta gente,
• Agradáveis crianças ou mesmo adultos que se movimentam celeremente, deslocando em seu caminhar grãos de areia e projetando-os em nossa direção, fazendo-os incrustarem-se em nosso corpo,
• Solidários praianos que, preocupados com o fato de não dispormos no local de aparelho reprodutor de sons, inundam nossos ouvidos com maviosas melodias emitidas pelos dezoito alto-falantes de seus carros os quais insistem em colocar em local próximo aos demais banhistas. É importante mencionar que alguns elementos menos educados permitem-se ao desplante de considerarem tal atitude como atentatória ao silêncio a que teoricamente teriam direito,
• Ainda mais solidários praianos que, preocupados em que nossa preferência musical esteja sendo ignorada, surgem em nosso socorro, ligando seus trinta e seis alto-falantes em flagrante confronto aos sons emitidos pelo outro banhista difusor de gosto musical que julgam ser incompatível com nossa audição,
• Ecológicos cães de todos os tipos e tamanhos que, incapazes de discriminarem os locais onde perfazem suas necessidades fisiológicas, depositam resíduos de odor característico nos locais onde iremos tomar assento,
• Atléticos desportistas que em sua ânsia em dedicarem-se ao esporte bretão, procuram praticar essa salutar atividade, grantindo, porém, que a trajetória de seus petardos tenha seu ponto de maior aproximação a não menos de um centímetro de nossas faces preocupadamente atentas à prática a que se dedicam,
• Corteses praticantes de frescobol que se superam no esforço que fazem para que suas bolinhas ou raquetadas jamais possam oferecer riscos à nossa incolumidade, mesmo quando, por vezes, nos saúdam com pequenos grãos de areia deslocados por suas raquetes ou por seus pés que, em rápidos passos, se dedicam à nossa proteção,
• Pequenos grupos de menores que se deslocam rapidamente em conjunto, aliviando os praianos de alguns objetos que provavelmente consideram estarem impedindo-os de desfrutarem totalmente das delícias da beira-mar,
• Importantes caravanas de coletivos envelhecidos, promovendo a socialização de algumas centenas de pessoas em suas horas de lazer, trazendo entre eles mestres da culinária popular, os quais produzem os mais variados aromas ao prepararem alimentos para saciarem o apetite de seus companheiros de jornada,
• Idosas desapercebidas de sua aparência física que exibem protuberâncias e dobras corporais deixando marcante impressão,
• Indivíduos que tentam melhorar as relações sociais locais, estabelecendo contatos com senhoritas que se destacam por sua agradável aparência e que, nem sempre têm o mérito de suas intenções plenamente reconhecido, o que por vezes resulta em interações de natureza belicosa entre eles mesmos e elementos discordantes dessa postura social.
• Homens exibindo faixas verdes em suas indumentárias que insistem em que devemos contribuir pecuniariamente com o governo para estacionarmos em vagas onde dificilmente alguém poderia acreditar que coubesse outro carro,
• Espetaculares manobras de elementos montados em jet skis, próximo à praia, intimidando os que temem serem sobrevoados por essas maravilhosas máquinas,
• Engenhosos surfistas com pranchas multicoloridas que efetuam acrobacias aquáticas, contribuindo para que os banhistas abandonem a água, eliminando assim o risco que corriam de se afogarem,
• Amantes da pesca que projetam seus anzóis com incrível destreza sobre nossas cabeças, exortando-nos a aumentarmos o grau de confiança que temos em nossos semelhantes ou a regressarmos a areia por temermos a possibilidade remota da incrustação de um desses objetos metálicos em nossos olhos,
• Etc, etc.
Mas, lembrem-se: a praia e o transito são cenários evitáveis. Somente teremos que usufruir daquilo que oferecem quando lá vamos. Todavia, a implantação do comunismo, certamente, faria com que comportamentos semelhantes passassem a fazer parte de nossas vidas vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.
Conforme dissemos, os modelos citados (as praias e o trânsito de veículos) foram escolhidos por sua semelhança com o que propugna a ideologia comunista. Nesses modelos todos são tratados de forma semelhante e possuem direitos iguais independentemente de seu status social. É isso o que pretende o comunismo com a liquidação dos burgueses e a implantação da ditadura do proletariado. Eles intentam a eliminação de todos os patrões, transformando o mundo numa grande comuna universal onde não existam classes sociais:
“Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classe, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos”. (Manifesto Comunista)
Mas, como vimos nos modelos trânsito e praia, toda igualdade é extremamente caótica e mesmo o mais convicto comunista concordará em que esse estado de coisas dificulta a condução de qualquer empreendimento a bom termo. Todos compreendemos os males da igualdade dos desiguais quando dirigimos nossos carros no trânsito urbano ou desistimos de comparecer à praia.
Mas, os comunistas também sabem disso. Assim, uma vez conquistado o poder, os regimes marxistas instauram a mais terrível opressão. De outra forma, a anarquia que sempre advém da eliminação das classes tenderia a destruir toda a sociedade e a torná-la ingovernável.
Paradoxalmente, essa repressão cria o que intentavam remover das relações sociais: reprimidos e repressores. Essas são as novas classes que surgem em lugar das tradicionais eliminadas pela ascensão do proletariado.
Por isso, é que não creio que o comunismo possa trazer algo de bom a qualquer país.
Um comentário:
"Assim funciona o nosso atual sistema político que diferencia as pessoas de acordo com suas diversas capacidades."
O nosso atual sistema político diferencia as pessoas de acordo com raça, o sobrenome e a conta no banco...
O objetivo desse comentário não é defender a implantação do comunismo no Brasil, mas defender um sistema tão injusto quanto o nosso atual pra criticar o comunismo é, no mínimo, uma baita burrice...
Até!
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