A CREDIBILIDADE DOS SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA
André Soares
Muitos decisores não priorizam a atividade de inteligência. Uns por ignorância, outros por desconfiança.
Aqueles, obviamente, revelam despreparo; estes, restrição. Entretanto, nem toda desconfiança é infundada. Portanto, reverter esse quadro é uma questão de credibilidade.
A credibilidade dos serviços de inteligência resulta da sua eficiência perante seus clientes, usuários, chefes, diretores, comandantes, presidentes e, principalmente, perante as sociedades a que servem.
Eficiência e credibilidade relacionam-se na razão direta, sendo eficiência causa e credibilidade conseqüência. O ciclo prossegue e a credibilidade alcançada gera confiança, a qual determinará a sobrevivência, ou não, dos serviços de inteligência.
Concebidos e criados para o assessoramento nos mais elevados níveis de decisão, os serviços de inteligência caracterizam-se pelo sigilo de suas atividades, pela produção de conhecimentos sobre cenários incertos e pela atuação em ambientes hostis e adversos. Essas características impõem a necessidade de adequados processos de processamento de informações, suscitando, por parte de decisores e da sociedade, importantes questionamentos, relativos à credibilidade do conhecimento produzido, como, por exemplo “como os serviços de inteligência produzem o conhecimento sobre os fatos e situações que informam?”; “os conhecimentos produzidos são confiáveis?”; “como e qual é a metodologia que utilizam?”
Conseqüentemente, ao considerar as implicações decorrentes do acatamento de assessoria, proveniente de serviços de inteligência, é de todo pertinente e relevante determinar as responsabilidades envolvidas.
A responsabilidade dos decisores, em relação ao assessoramento de inteligência, produzido pelos seus serviços da inteligência, é de natureza política. Entretanto, a responsabilidade dos serviços de inteligência é relativa à credibilidade do conhecimento que produzem e de natureza e competência técnica. Portanto, serviços de inteligência eficientes produzem conhecimento de inteligência de qualidade e isto significa produzir conhecimento veraz.
A veracidade de um conhecimento de inteligência refere-se à verdade do seu conteúdo, no contexto dos fatos e situações
Constitui-se, conseqüentemente, em sério e permanente desafio, pelo elevado potencial de risco que o assessoramento subsidiado por conhecimentos de inteligência inconsistentes representa para estados e organizações, em níveis estratégico, tático e operacional.
Cidadãos, usuários, sociedades e, até mesmo, governos, em geral, não sabem como funcionam e o que ocorre nos seus serviços de inteligência. O sigilo e a compartimentação, necessários à produção do conhecimento de inteligência, por vezes, são indevidamente utilizados para encobrir desvios, vulnerabilidades e deficiências existentes.
Tais situações perduram até o limite em que, inexoravelmente, situações de crise, às vezes trágicas, demonstram, tardiamente, a ineficiência dessas organizações.
Entretanto, a evolução e o aperfeiçoamento da atividade de inteligência, nos países mais desenvolvidos e democráticos, demonstra que evitar eventuais distorções que possam ser praticadas pelos serviços de inteligência exige o rigoroso controle de suas atividades.
A par dos vários instrumentos de controle existentes, o princípio da publicidade confere especial legitimidade à atuação dos serviços de inteligência. Ao contrário de opiniões equivocadas, publicidade e sigilo não são incompatíveis.
Ambas podem e devem ser praticadas pelos serviços de inteligência, sendo a publicidade imposição e o sigilo mera circunstância.
Isto significa que a obrigação dos serviços de inteligência de prestar contas e de responder por suas atividades, perante a sociedade, pode ser realizada sem o comprometimento do sigilo e da compartimentação necessários.
Cumprir os ditames constitucionais, não é revelar segredos de estado, nem atentar contra a segurança nacional.
É a atitude ética desejável dos serviços de inteligência de países democráticos, arcando com suas responsabilidades perante a sociedade, aperfeiçoando-se e, conseqüentemente, adquirindo eficiência, credibilidade e confiança.
Caso contrário, caberá à história mostrar as conseqüências.
André Soares é consultor em Inteligência e professor do Curso de pós-graduação em
Inteligência e Contra-Inteligência, da Faculdade Pitágoras.
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