sexta-feira, agosto 15, 2008

As novas apostas de Dirceu

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Por SÉRGIO PARDELLAS

PRAVDA

Ex-ministro volta a atuar como um articulador no PT, busca alianças em 15 Estados de olho nas eleições municipais e procura corrigir os rumos do partido em São Paulo

O ex-ministro José Dirceu deixou a consultoria empresarial momentaneamente de lado para se dedicar aos bastidores da articulação política. Na tentativa de ampliar as alianças em torno do PT e fortalecer os palanques petistas para as eleições municipais de outubro, o ex-ministro, como militante e numa ação voluntária, intensificou sua movimentação tanto em eventos públicos do partido que presidiu entre 1995 e 2002 como em reuniões privadas. Apenas nas duas últimas semanas, Dirceu conversou com lideranças políticas do PT de pelo menos 15 Estados.

Participou de reuniões na Bahia, em Mato Grosso do Sul, no Paraná e Rio de Janeiro. Seu objetivo mais urgente é fortalecer a candidatura à Prefeitura de São Paulo da ministra do Turismo, Marta Suplicy. Sem o apoio do PMDB e do PR, que se aliaram ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), e do PTB, que se uniu à candidatura do exgovernador Geraldo Alckmin, a petista corre o risco de ir para as eleições coligada apenas ao PDT.

Segundo avaliação de Dirceu em conversas com interlocutores petistas, os movimentos de Marta visando à disputa pela prefeitura paulista têm se mostrado "desastrados". "Tenho que sair a campo para tentar reparar os equívocos que foram feitos", tem dito Dirceu em conversas com integrantes do chamado bloquinho de esquerda. Formado pelo PCdoB, PDT, PSB, PMN e PRB, o conjunto de partidos tem sido o principal alvo das investidas do ex-ministro. Não foram poucos os telefonemas disparados nos últimos dias para o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, para o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, e o do PDT, Vieira da Cunha. À exceção do PDT, as lideranças dos demais partidos do bloco de esquerda tendem a lançar candidatura própria, encabeçada pelo deputado e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB–SP).

O esforço de Dirceu em conseguir fazer deslanchar a candidatura de Marta deve-se ao fato de que, para ele, se joga em São Paulo o futuro da sucessão de Lula. "Nosso primeiro objetivo é derrotar o trio Serra-Kassab-Quércia", disse Dirceu à ISTOÉ por meio de sua assessoria. "Precisamos ter em mente que há um movimento mais amplo, que já começa meticulosamente planejado, para nos isolar e nos derrotar em 2010", acrescenta. O ex-ministro reconhece que o horizonte eleitoral para 2010 ainda é nebuloso, por isso trabalha, mesmo que informalmente, para construir o máximo de coligações neste ano. Se possível já pavimentar, nas eleições de outubro, a aliança PT e PMDB para daqui a dois anos. Para o ex-ministro, uma aliança entre petistas e peemedebistas, somada ao apoio do presidente Lula, cria as condições para levar um candidato do PT ao segundo turno em 2010.

A agenda política de Dirceu não está circunscrita apenas às negociações em São Paulo. Na sexta-feira 9, ele esteve em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, onde falou para lideranças de mais de 35 cidades sobre a importância de o PT agregar o máximo de aliados nas eleições de 2008. Negociou alianças nos maiores municípios do Estado e fechou o apoio de partidos de esquerda em torno da candidatura própria do PT à Prefeitura de Campo Grande. O candidato do partido a prefeito da capital deve ser o deputado estadual Pedro Teruel. A ala ligada ao ex-governador Zeca do PT ainda tentou articular uma aliança com o PMDB, mas Dirceu desaconselhou, já que os partidos são adversários históricos em Campo Grande. "Dirceu chegou a avaliar a possibilidade da aliança do PT com o PMDB, mas acabou consolidando a tese da candidatura própria", conta o senador Delcídio Amaral (PT–MS). Um acordo entre os dois partidos no segundo turno, no entanto, não está descartado. Pelo menos é o que espera Dirceu.

A interlocutores, o ex-ministro diz que os movimentos de Marta em São Paulo são desastrosos e que tentará corrigir os erros

O ex-ministro também quer o PT aliado ao PMDB em Salvador, na Bahia. Esse foi um dos motivos de sua ida à capital baiana na terça-feira 6. Depois de participar das comemorações pelos 40 anos do movimento de 1968, ao lado do ex-líder estudantil Vladimir Palmeira, Dirceu reuniuse com cada um dos quatro pré-candidatos do PT a prefeito de Salvador. Embora tenha pregado a unidade do partido, Dirceu insistiu sobre a importância da aliança com o PMDB do prefeito João Henrique. "Respeito a posição do governador Jaques Wagner, mas, para darmos continuidade ao projeto político, é importante essa aliança do PMDB com o PT", disse Dirceu em conversa com os deputados e pré-candidatos Walter Pinheiro e Nelson Pelegrino. O partido resiste à coligação com os peemedebistas. Porém, para tentar reverter o quadro até as convenções, Dirceu conta com um forte aliado: o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB).

Nos últimos dias, Dirceu também participou de reuniões políticas no Paraná e no Rio a fim de ampliar o leque de apoio ao PT nos principais municípios, fato confirmado por sua assessoria. Como as conversas nos dois Estados estão em andamento, Dirceu evita revelar mais detalhes. "Sou amigo do Zé. Mas se ele tem negociado alianças por aí eu não sei", diz o deputado Cândido Vacarezza (PT–SP). A movimentação do ex-ministro não incomoda nem o PT nem o presidente Lula. Em encontro com o ministro da Justiça, Tarso Genro, num restaurante italiano de Brasília, Dirceu ouviu que o partido não colocará obstáculos à sua atuação. "Você tem o direito de se mover politicamente, porque a morte civil ainda não chegou ao Brasil", fez troça Tarso, durante o almoço. Na avaliação do Palácio do Planalto, desde que não exponha o governo, Dirceu também está livre para circular e fechar conchavos políticos. Os resultados das novas apostas eleitorais do ex-ministro ainda não são conhecidos. Mas o fato é que o articulador político José Dirceu está em ação.

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