16/05/2008
A saída de Marina Silva do ministério do Lula é um emblema de como agem os revolucionários em um meio democrático. O PT tornou-se o partido-ônibus dos diferentes revolucionários, que clamam por diferentes bandeiras políticas, tendo em comum o propósito de mudar tudo que está aí, a herança de 500 anos, como gostam de falar.
Tudo que essa gente faz, ou por idealismo ou por oportunismo, é fugir à realidade como ela é. Dentro desse exército de rebelados contra o real tem aquelas facções que conseguem manter-se perfeitamente alienada no propósito maior de implantar a revolução socialista, mas com lucidez o bastante para, chegando aos postos de poder, não atrapalhar a vida cotidiana a ponto de inviabiliza-la. Uma prova disso foi a famosa “Carta ao povo brasileiro”, escrita por Lula quando ficou claro que tinha chances reais de ser vitorioso no pleito de 2002. Vimos que esse documento foi cumprido, contrariando os alucinados que queriam estatização do sistema bancário, auditoria e calote na dívida externa e coisas do gênero. Queriam na verdade a própria revogação da lei da escassez.
Outro gesto de realismo foi a nomeação do presidente do Banco Central, Henrique Meireles, sinalizando para os mercados que o País sob Lula não embarcaria na aventura hiperinflacionária, pelo menos naquele momento inicial. A “Carta ao povo brasileiro” e a nomeação de Meireles demonstram que a cúpula do PT estava perfeitamente consciente dos limites de atuação do partido, uma vez na Presidência da República.
Marina Silva se insere no rol dos idealistas revolucionários, abraçada à causa ecológica, incapaz de fazer qualquer concessão ao real. Opôs no que pode aos transgênicos, à concessão de licenças ambientais para novas hidrelétricas, à redução da regulação estatal no que tange aos recursos naturais da Amazônia. Mas ela era importante peça dentro da propaganda revolucionária em escala global e era um evidente emblema do governo Lula. Este, enquanto presidente da República, não tem alternativa que não divisar as coisas como de fato são, sob pena de paralisar a economia do Brasil. Deixou-a fora do processo decisório.
Essa exclusão fez com que a ex-ministra, que é alienada mas não é burra, pegasse o caminho de volta para casa, ou seja, para o Senado. Lula poderá ter ganho uma opositora rancorosa, não porque discorde do projeto de socialismo, mas porque ela é inflexível na sua maluquice ecológica. O PT sabe que esse purismo ecológico é bom discurso para se eleger e uma péssima maneira de governar. Levaria, tomado a pé da letra, os brasileiros de volta à taba. Mas o PT a usou no que pôde para sua propaganda, especialmente àquela destinadas aos foros internacionais.
Vemos aqui a hierarquia de alienações. Todos concordam com a loucura do projeto de revolução socialista, mas aqueles que têm a responsabilidade de tomar as decisões não podem cair no xiitismo estéril. Marina foi-se, deixando no seu lugar a sensatez. Menos mau. Poderia ser o contrário e isso coloria o País diante de ter que trocar o governo pela via mais rápida, antes que ele destruísse a Nação.
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